Jayme Monjardim estreou no cinema como diretor do razoável
drama biográfico Olga (2004). Antes,
sua carreira é marcada por dirigir novelas: Pantanal
(1990), Viver a Vida (2009) e minisséries
para a televisão: Chiquinha Gonzaga
(1999), A Casa das Sete Mulheres
(2003). Está de volta à sétima arte com a nova adaptação de O Tempo e o Vento, uma superprodução
orçada em R$13 milhões, com locações em Bagé, no RS. Um filme com belas imagens
do pampa gaúcho, semelhantes aos faroestes clássicos de Hollywood, numa
esplendorosa fotografia de Afonso Beato, captando cenas de beleza plástica radiante
como pinturas impressionistas da natureza e suas paisagens sensoriais.
O cineasta aborda superficialmente a epopeia farroupilha,
quando o Rio Grande do Sul entrou em conflito com o resto do país, buscando a
separação para tornar-se independente. É criada a República Riograndense no
período de 1835 a
1845. Na época o Brasil era governado pelo Regente Feijó e a Guerra dos
Farrapos explodiu como uma revolta épica, embora com consequências trágicas,
com um saldo de milhares de mortos, onde não houve vencedores, somente
vencidos. Eram tempos difíceis pelas graves crises econômicas do centro do país
com reflexos no Sul no século XIX.
Monjardim se baseou no livro O Continente, da trilogia de O
Tempo e o Vento, de Erico Veríssimo, com roteiro da dupla de escritores
Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski, sem demonstrar os ideais ou causas da
revolução gaúcha, esquecidos voluntariamente, embalados pela trilha sonora
assinada por Alexandre Guerra, para contar o romance entre Rodrigo Cambará
(Thiago Lacerda) e Bibiana Terra (Fernanda Montenegro faz a idosa e Marjorie
Estiano a jovem). A mocinha do longa-metragem é neta da fogosa Ana Terra
(CléoPires) e do índio Pedro Missioneiro (Martin Rodriguez). Bibiana vai
relembrando em sua aguçada memória a trajetória da família Terra e
particularmente seu grande amor por Rodrigo, um jovem festeiro, contumaz
jogador de carteado, que gostava de uma boa briga, pai ausente e mulherengo ao
extremo e seu litígio com o patriarca Ricardo Amaral (José de Abreu), bem como
o tirano coronel Amaral Neto (Paulo Goulart). A presença espiritual do rapaz
não lhe é incômoda e em flashbacks vai rememorando todo o passado de amor,
guerra, rivalidade política, traições e duelos memoráveis pela honra com
adagas, dentro da fictícia cidade de Santa Fé, criada como símbolo dos grandes
embates no clássico literário por Veríssimo, numa ideia de demonstração de como
foi criado o Estado gaúcho.
O filme peca pelos excessos de explicações didáticas sobre o
romance do casal central de protagonistas e as decorrências que resultaram na Revolução
dos Federalistas no Rio Grande do Sul, no fim do século XIX, sendo contado de
maneira burocrática todos os acontecimentos. É uma forma já manjada e nada
criativa, foi também usada no longa Colegas
(2012), de Marcelo Galvão, ao esbarrar no equívoco de narrar na primeira
pessoa, através do jardineiro (Lima Duarte). Monjardim se utiliza de Fernanda
Montenegro para discorrer sobre o óbvio, que em nada acrescenta, ou melhor,
mais atrapalha e obscurece o clímax, ao dizer aquilo que o espectador está
vendo na tela, como em filmes infantis ou uma narração de futebol pela TV.
O épico gaúcho é conduzido para uma mescla de dramalhão com
novelão global. Os acontecimentos históricos ficam num plano secundário e a
história da Revolução Farroupilha não é aprofundada. Há ênfase exagerada no
romance do casal de protagonistas, acompanhando o relacionamento e a trajetória
dos Terra Cambará por 150 anos, com passagens rápidas pela Revolução
Federalista de 1893. Tudo é contado com simplicidade, sem esforços maiores,
deixando para as metáforas pragmáticas as soluções ou explicações: utiliza o
pôr do sol para dar passagem ao tempo; ou os ventos que trarão as lembranças de
mortes que se prenunciam.
O Tempo e o Vento
é um filme com defeitos de estrutura e continuidade, ao abusar dos corriqueiros
e exaustivos flashbacks das recordações inconsistentes de Bibiana, dividindo
com o amado ao seu lado, mas em formato ainda como soldado juvenil que, como um
bom fantasma, apenas escuta e se diverte. Uma epopeia que se torna enfadonha e
sem perspectiva de uma elaboração burilada, ou ainda com um resultado que não
fosse trivial e previsível como o epílogo de happy end novelesco; ou
de faroestes inexpressivos, sem uma direção de mão firme, contrastando com as
imagens pampeanas inesquecíveis. Muito espetáculo e pouco conteúdo de força
narrativa é o que fica como legado deste irregular épico da mitológica saga dos
farrapos.
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