quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Mostra de Cinema São Paulo (Dezembro)















Dezembro

A Coreia do Sul se faz presente na 37ª. Mostra de Cinema de São Paulo com o sensível filme Dezembro, do jovem cineasta estreante em longas Park Jeong-Hoon. É uma abordagem intimista sobre o lirismo entre dois adolescentes ainda sem experiências sexuais que desabrocham para o amor e a essência de viver num mundo em transformação cada vez mais violento e desregrado, deixando poucas opções para os enamorados e românticos remanescentes, diante de crises que levam à bancarrota sistemas financeiros, decorrentes da explosão da bolha imobiliária, numa fórmula de desgaste num capitalismo com evidência de esgotamento em seu modelo tradicional.

O ponto de partida está centrado na menina que quer andar de mãos dadas pelas ruas com sua paixão adormecida, no mês de janeiro, numa manhã qualquer, em uma cidade bucólica. Um filme que fala de amor, poesia e uma contida ternura entre o casal, especialmente o garoto tímido e com dificuldades de tomar atitudes mais ousadas. Entre eles está a amiga confidente da garota com seu amor beirando ao platônico, não por culpa dela, que exerce um jogo de sedução quase que irresistível. Uma espécie de brincadeira simbólica de gato e rato.

O cineasta buscou alternativas dentro de um belo e pitoresco romance juvenil, ao demonstrar sua insatisfação com a ocidentalização de seu país, diante da entrada galopante e desmedida de produtos tipicamente dos EUA, tais como o refrigerante Sprite, o salgadinho Doritos e o badalado de fast food McDonald's, entre outro tantos que assolam os coreanos. Eis um filme experimental nos seus 73 minutos de pura poesia e ressaltando a nova geração na iminência da decomposição de seus valores arraigados com vínculos de humanismo, embora sejam retratados o amor e a ingenuidade de puro lirismo numa era de amor virtual pela internet, com pessoas se relacionando apenas pelo computador, está bem equilibrado e harmonioso. Ainda que, nos planos sequenciais, haja às vezes o elemento da dúvida para o espectador, diante da desconstrução estrutural de uma narrativa com distorções das mudanças oriundas do tempo em dissonância do calendário andando lentamente sem um seguimento normal.

O drama romântico apresenta várias fases no relacionamento, entre elas a cooperação e a solidariedade entre os dois adolescentes, como ele sempre lendo ou ensinando matemática para a amada, como se fosse um alerta de um futuro que está cobrando um ensino com maior dedicação e determinação. Numa clara evidência de sugestão de uma perspectiva para quem se preparou melhor para o mercado de trabalho.

Dezembro é um gostoso longa de sugestões para concessões nas entrelinhas, através de sutilezas e delicadezas de um roteiro refinado e enxuto. O epílogo deixa margens para interpretações por uma dubiedade alicerçada pelo diretor, através de uma câmera estática captando as melhores imagens em grandes planos-sequência, usando as elipses nos momentos adequados. Retorna até a bomboniere, onde foram feitas a maioria das locações neste bem-vindo e salutar drama romântico voltado para o social, em formato experimental giza um tema tão esquecido e refutado: o amor e seus desdobramentos pelas suas deliciosas conquistas e perdas.

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