terça-feira, 28 de abril de 2015

Dólares de Areia


Triângulo no Caribe

O mexicano Israel Cárdenas e a dominicana Laura Guzmán dirigem o quarto longa-metragem Dólares de Areia, tendo como cenário a paradisíaca região de Terrenas, no norte da República Dominicana. Premiado nos festivais de Havana, Chicago e Cairo, o filme foi escolhido para encerrar com chave de ouro a 38ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2014. Os cineastas são casados, ambos com 34 anos, ganharam reconhecimento pelo sucesso do badalado drama Jean Gentil (2010), com premiação no Festival de Gramado, causou uma impressão alentadora ao retratar a peregrinação desesperada de um haitiano à procura de emprego. São deles também os longas Cochochi (2007) e Carmita (2013).

Produzido com parcos recursos financeiros, a dupla propõe uma obra intimista na essência das relações humanas, derivando para as contradições nesta livre adaptação do romance Les Dollars des Sables (2006), do escritor francês Jean-Noël Pancrazi, além de abordar de forma sutil o paraíso de um turismo sexual decorrente do neocolonialismo europeu nas ilhas caribenhas, palco da trama bem contada do triângulo amoroso de uma relação improvável entre a francesa homossexual idosa Anne (Geraldine Chaplin) com a jovem negra Noelí (Yanet Mojica- uma versão dominicana de Lupita Nyong’, ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante por Doze Anos de Escravidão). A garota mora na vilarejo litorâneo de Samaná e sobrevive do corpo fazendo programas com turistas numa economia de plantação de coco, com poucas opções de emprego, sustenta o namorado (Ricardo Ariel Toribio) que a explora como um típico gigolô.

O casal de diretores faz um triste retrato fidedigno da situação caótica dos nativos, sem pieguismo ou demagogia, ao mostrar a conexão entre as duas mulheres envolvidas emocionalmente no idílio de opostos que gera uma rotina de acontecimentos comoventes, diante da gravidez inesperada e a expectativa de conhecer Paris. É o sonho de um mundo novo de esperanças e dignidade, com o intuito de fugir daquela mesmice sem futuro da exploração pela prostituição dolorida e humilhante nas imagens radiantes captadas pela bela fotografia, contrastando com a pobreza e a desinformação dos moradores daquele lugar. Um dos trunfos do filme é o elenco de amadores e figurantes, exceto a desprendida Geraldine que ilumina a tela com seu carisma de notável comunicação pelo olhar magnético, demonstrando forte conteúdo dramático pelo brilho da estrela reluzente, dando autenticidade para sua singular personagem que escolheu viver o que lhe resta da vida perto do mar.

Poder e submissão estão presentes em Dólares de Areia, ao deixar o espectador sentir o clímax daquela relação puramente de interesses, entre a nativa em parceria com o namorado e a rica senhora com a perspectiva de um salto para o outro lado dali, a França prometida com seus encantos e devaneios, diante de um plano para ganhar muito dinheiro na Cidade Luz com remessa mensal para o rapaz. A situação inesperada e o amor próximo das duas enamoradas tornam-se intensos, o ciúme e a incerteza se instalarão de vez com proximidade do embarque. Tudo é registrado com muita sutileza e o fascinante embalo da trilha sonora, porém é difícil não sair cantarolando da sessão a bela estrofe “morenita minha, se és que tu me quieres, não me desesperes e grita a minha alegria...”.

Cárdenas e Guzmán seguem uma linha de cinema autoral propriamente dita, sem interferências ou concessões, com elipses de cortes no ponto adequado, também encontrado em Ventos de Agosto (2014), do pernambucano Gabriel Mascaro, no cenário de um lugarejo pobre e hospitaleiro, com ruídos dos ventos, do mar e dos sons musicais dos nativos da região; ou ainda com O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho. São cineastas identificados com as coisas do cotidiano para falar de sua aldeia com magnífica precisão, seguindo a recomendação de Tolstoi.

Sons e ruídos são familiares para os diretores que apresentam um amplo domínio de uma estrutura narrativa envolvente inspirada com criatividade, sem cair na obviedade e sem perder a poesia, através de elementos bem significativos que marcam com rara qualidade este drama realizado com alma e ardor. Colocam-se os contrastes da vida de um povoado rústico invadido por mansões, como a do artista plástico, em consonância com a existência do mundo visto como civilizado de turistas ávidos pelo descanso e o turismo sexual colonizador, dentro de um contexto da estratificação social pelas desigualdades sociais, no qual estão presentes a solidão e os sonhos fantasiados e abrangentes caracterizados pelos olhares e o silêncio.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Não Olhe para Trás


A Decadência

Roteirista das comédias Amor a Toda Prova (2011) e Última Viagem a Vegas (2013), Dan Fogelman estreia na direção do longa-metragem Não Olhe para Trás, uma comédia dramática que aborda superficialmente um músico que não vive seus melhores dias ao descobrir uma carta escrita para ele por John Lennon há trinta anos e que nunca tinha lido. Com esta proposta inspiradora é motivado para embarcar numa viagem para reencontrar seu filho biológico (Bobby Cannavale). Danny Collins (Al Pacino) está idoso e gasta mais dinheiro do que tem, troca de esposa com frequência, vive de lembranças da fama pelas músicas populares do passado, tem como fãs principalmente o público da terceira idade, está sem compor uma canção sequer e apenas reprisa os seus maiores hits, se vê encorajado a não se deixar influenciar pela indústria. Diante disto, decide ser um homem melhor pelo avançar da idade, já cansado da rotina de drogas e excessos, interrompe a carreira para tentar reatar os laços com a família.

O longa se propõe a resgatar um passado pela história de um pai ausente que agora descobre um caminho promissor para um caminho de purificação da alma. Embora o cineasta não caia no pieguismo lacrimoso, utiliza-se dos velhos clichês do melodrama, mas conduz com algum distanciamento, ao retratar de maneira leve e cômica algumas situações peculiares. Tem no protagonista acostumado a ter tudo que deseja pelo carisma e seus contatos pessoais, às vezes antipático pelo contexto, como no encontro com a nora (Jennifer Garner); em outras beira uma vítima do destino dos deuses, como a famosa carta que chega atrasada. Ainda que atrapalhado pelas circunstâncias, demonstra ser um homem de bom coração, como na cena em que faz de tudo para salvar o filho, sendo doador no transplante de medula.

A comédia não chega a sucumbir e tem boas tiradas, como nos diálogos da gerente do hotel (Annete Bening- de boa performance) com Danny. O roteiro não flui com leveza e sincronia, há percalços na trama com cortes abruptos, deixando sem ritmo de continuidade o desenvolvimento intimista da reinvenção. De forma quase simplória é dito que o dinheiro não traz felicidade, mas os familiares mudam de opinião ao receberem presentes generosos do pai ausente. Outro equívoco é o surgimento inesperado da doença terminal do filho mesclado com a gravidez de risco, acompanhado por uma iminente morte no passado, além da suposta traição, faz render uma salada sem tempero, de pouco sal, muito açúcar e um resultado indigesto. O humor fica devendo, diante da narrativa opaca, como no momento em que o artista doa seu carro caríssimo ao funcionário pobre do hotel. Fica a ideia de um moralismo exacerbado, ao refutar valores morais de maneira franciscana.

Não Olhe para Trás tem contrastes extremados, como do homem rico que ajuda pessoas pouco aquinhoadas, ou ainda do músico decadente e arrogante que torna-se humilde e sentimental, prejudicado na essência pelo bom-mocismo de comportamento exemplar oriundo do capitalismo sem freios, que busca nas doações em dinheiro resgatar um passado inglório. Mas principalmente a relação pai e filho tem boas referências no cinema, como Coração Louco (2009), de Scott Cooper, ao tratar a saga clássica de derrotas de um cantor country que traz a marca da rejeição familiar; ou no documentário brasileiro dirigido por Patrícia Pilar, Waldick- Sempre no Meu Coração (2007), em situação semelhante de afastamento de filho e pai.

Al Pacino é um estupendo ator e dispensa maiores comentários. Está perfeito na narrativa da crise criativa de um veterano ídolo decadente, ao se dar conta do talento que se esvai e perde força aos poucos. Sua imagem é o retrato corajoso e realista de um homem solitário derrotado pelo tempo, mas que ainda tem o carinho dos fãs da velha guarda. Seu personagem é contraditório e nem sempre mantém a coerência, às vezes beira o ridículo e em outras dá uma guinada à medida que as crises se avolumam, diante da comicidade pouco adequada e de ausência de brilho. Um filme que fica no meio termo, sem a consistência de um diretor mais calejado, não alcança força dramática adequada ou de humor condizente com a proposta em foco.

Danny tem no rosto a marca pelos sulcos de toda sua história de músicas e letras prodigiosas, com um conteúdo duvidoso que não atrai os jovens, porém sem os horizontes infinitos de conhecimentos que tinha em mente pelas infindáveis noites de aparições ao grande público, diante das dificuldades do velho cantor em recompor sua vida, há a recomposição familiar fragilizada que conspira para uma solução previsível. Não chega a ser um filme instigante, tem um desfecho nos moldes de telefilmes rasos pela linearidade que ofusca a densidade mais elaborada, resta uma narrativa irregular, mas sem invalidar a proposta esperançosa, mesmo tropeçando no sentimentalismo barato e sem inovação estética, tendo no centro uma personagem repleta de bravatas.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Dívida de Honra


Melancolia Feminina

Tommy Lee Jones já apresentava qualidades significativas ao empolgar no seu longa-metragem de estreia, Três Enterros (2005), mas agora com Dívida de Honra, seu último trabalho, mostra-se consistente como diretor. Além de ser um dos melhores intérpretes do cinema atual pelo carisma a virtude rara de dramaticidade, às vezes comunicando-se só pelo olhar daquele rosto sulcado, que tem nele também um dos roteiristas e como produtor o cineasta francês Luc Besson. Embora seja o protagonista no papel do marginal e desrespeitado George Briggs, divide bem o estrelato com a boa atriz Hilary Swank, vivendo a solteirona Mary Bee Cudy, com fama de mandona e à procura de um marido para ter filhos. O filme não se propõe para a exibição de estrelas, muito pelo contrário, está voltado para revigorar momentos expressivos do faroeste pela perspectiva feminina de suas personagens sofridas por uma dor sem limites.

O longa é baseado na novela de Glendon Swart Hout que retrata a rudeza masculina contrapondo com as dificuldades femininas e seu olhar dolorido pela melancolia, no qual emerge a violência do primitivismo nas belas imagens do fotógrafo Rodrigo Prieto, embalados pela música de uma trilha sonora harmônica de Marco Beltrami, sendo executada perfeitamente como a mola mestra condutora que dita o clímax das cenas daqueles seres humanos pela natureza e seus futuros incertos na conturbada viagem até o destino religioso que esperam as três mulheres tachadas de loucas e condenadas, diante da recusa involuntária de gerar filhos. Ao contrário da personagem central, elas são aterrorizadas pelos próprios maridos medievais que abusam do poder machista e inoculador de ódio e destemperos de uma época em que não havia direitos igualitários, gerando feras enjauladas que são mandadas para bem longe dali, Iowa, expulsas de Nebraska como forma de punição.

O western foi um dos gêneros mais cultuados pelo cinema americano e aos poucos foi deixado de lado, vez por outra cineastas importantes revivem com nova energia a magia do Velho Oeste, como no remake Bravura Indômita (2010), dos irmãos Ethan e Joel Coen), filme em que John Wayne obteve seu único Oscar como melhor ator, na versão original de 1969, dirigido pelo mestre Henry Hathaway. Dívida de Honra é marcado por ser sem tiroteios forçados ou balas perdidas por tudo quanto é canto e lugares inimagináveis, seguindo na mesma esteira do melhor estilo dos grandes clássicos, por isto é enriquecedor seu tema e remete para o inesquecível Os Imperdoáveis (1992), de e com Clint Eastwood, no qual o mocinho é velho e decadente, tendo que cumprir a última missão. Também reporta para Rio Vermelho (1948), de Howard Hawks e Arthur Rosson; como não poderia deixar de ter referências em Rastros de Ódio (1956) e No Tempo das Diligências (1939), ambos do genial John Ford, com construções fantásticas de personagens; mas como esquecer Meu Ódio Será Sua Herança (1969), de Sam Peckinpah, ou ainda Os Brutos Também Amam (1953), de George Stevens.

Lee Jones tem tudo para fazer parte desta categoria de realizadores consagrados neste gênero que não vai morrer nunca, ainda que passe por transformações estruturais de impulsos para no futuro ser expressivo como requer a essência do cinema, sem abdicar do cenário grandioso e caracterizador do Velho Oeste, no qual os cavalos estão sincronizados pelas frondosas árvores e de um pôr do sol esplêndido e por vezes revelador de um novo dia. O tema da humilhação no sofrimento da mulher, que terá a vingança do protagonista nitidamente mercenário, mas com sentimentos e vínculos éticos, que se revolta e explode como na cena do hotel voltado para a elite endinheirada. Eis um magnífico faroeste que acompanha a trajetória e o caminhar humano destroçado, tendo como objetivo a busca do esclarecimento para lançar luzes sobre o poder feminino enfraquecido, nesta sensível mescla perfeita pela narrativa contundente sobre as perdas da dignidade no cenário sem leis, traz à baila um mocinho que rosna em vez de falar, sujo e rústico como poucos. Uma apreciável revisão sobre os temas principais do gênero inovado pelas mulheres como personagens em foco para desmistificar o velho caubói e fugir dos recorrentes clichês.

O filme demonstra que o gênero não se esgotou diante da renovação proposta, sem se afastar do clássico e bom faroeste, filmado no tradicional cenário de mocinhos e bandidos que embalou os aficionados do cinema de bangue-bangue. Cada detalhe, movimento da câmera, luz, fotografia, as tabernas, o julgamento com a execução sumária e o figurino estão harmonicamente distribuídos com primazia e colocados em seus lugares exatos, pontuais e com fidelidade. O epílogo daquelas mulheres levadas para o agasalho religioso luterano de uma pastora metodista (Meryl Streep) sobre seus destinos, faz com que o tempo passe lentamente pela dura jornada que as levou para um local acolhedor e com o auxílio inesperado de um homem marginalizado dos ditos valores civilizatórios.

Dívida de Honra é marcante pela sordidez e violência latente nas belas imagens daquele cenário provocante de índios em pé de guerra com os brancos, bem como a cena do cavalo que corre loucamente pelos campos carregando a personagem feminina central antes do idílio com o anti-herói, que tem na sua condição de solteira e sem um futuro definido, percebe o tempo se escoando e conduz para uma reflexão. A decorrência da dor pela opção encontrada tem nos percalços da vida que a fizeram nem notar como tudo passa rápido, deixa para trás um outro mundo de reminiscências brutais e uma melancolia enternecedora que encontrará guarida na frustrada homenagem da lápide jogada sutilmente para o rio de dentro da barca que leva de volta o justiceiro carregando com ele uma culpa pela morte trágica e inexplicável, num grande final com emoção digna de um clássico do faroeste.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Se Fazendo de Morto


A Reconstituição

O cineasta francês Jean-Paul Salomé tem em sua filmografia Arsène Lupi- O Ladrão Mais Charmoso do Mundo (2004) e Contratadas para Matar (2008), mostra alguns méritos em torno da expectativa criada na reconstituição de homicídios com toques e reviravoltas na trama, ao estilo consagrado do mestre Alfred Hitchcock, deixa o espectador confuso e muitas vezes é conduzido para uma solução enganosa, na comédia Se Fazendo de Morto. Sugere um clima investigativo de bom suspense de crimes perfeitos como nos velhos policias noir, com suas regras sendo investigadas à distância e nada minuciosamente pela corporação, tendo na magistrada encarregada de elucidar os fatos vários erros grosseiros na sua condução. As evidências são quase que montadas e os artifícios do inquérito direcionam como uma verdade absoluta à espera de uma conclusão convencional pelos interessados na grande farsa, como também foi bem demonstrado pelo estreante inglês Barnaby Southcombe no longa Eu, Anna (2011).

O imbróglio investigativo tem na figura central o ilusório ator de 40 anos Jean (François Damiens, astro belga conhecido por A Família Bélier) que ganhou o prêmio César de revelação em 1987, o maior do cinema da França, mas por questões de escolhas equivocadas o levaram para uma carreira fracassada e com terríveis condições de sobrevivência no mercado artístico. Como não surge um convite significativo, diante de uma proposta inusitada para fazer o papel de um morto na reconstituição de crimes violentos no norte do país, apesar de contrariado, aceita a árdua tarefa quase que humilhante e acaba se envolvendo de corpo e alma, ao mergulhar na tragicômica situação. Bate de frente com a charmosa juíza Noémie Desfontaines (Géraldine Nakache, de Os Infiéis-2012), que não gosta das sugestões dadas pelo protagonista nas investigações feitas pelo policial suspeito Lamy (Lucien Jean-Baptiste), tendo em vista um acidente que vitimou seu filho num teleférico irregular.

O realizador conduz sutilmente a plateia para as intrincadas revelações de um roteiro enxuto e bem construído do fictício personagem em decadência profissional, agora obcecado pelos crimes, busca afirmação na carreira e quer deixar para trás a pecha de suas atuações constrangedoras em comerciais de televisão. Salomé faz aflorar as circunstâncias que poderão incriminar o representante da polícia e absolver o acusado, mas centra o foco na obstinação tresloucada de Jean e o compulsivo direcionamento para a culpabilidade de um inocente, através das colocações sórdidas que são apresentadas para as causas e consequências dos crimes e a perspicácia na abordagem da matéria com domínio amplo sobre o que é explicitado na versão contada. Há boa similitude na essência da narrativa com Tese Sobre um Homicídio (2013), do argentino Hernán Goldfrid, para retratar cenas que seguem um clímax da perda da lucidez, com a ficção se misturando em meio aos fatos reais ocorridos, com a ausência de imparcialidade na investigação policial contrastando com as decisões da afoita magistrada.

Com boa clareza e suavidade, o cineasta mostra um princípio de caos nas improvisações que vão desde a polícia até o judiciário inócuo, com o objetivo de resolver dois homicídios e um atentado com lesões graves. É a falência de toda uma conjuntura estrutural de um sistema decadente, no qual atua como uma alegoria para a destruição de todos os setores e organismos das células de uma sociedade. A vida pessoal do protagonista entra em descompasso e retrata um indicativo de insegurança, razão pela qual o desfecho da aproximação íntima com a magistrada e o vulnerável emprego no hotel são colocados como questões num labirinto de dúvidas e a lucidez se esvaindo, diante da imersão abalada no aspecto emocional e com a razão sendo colocada num plano secundário.

Se Fazendo de Morto aborda a temática crítica ao sistema com concessões, embora não fuja dos questionamentos lançados, busca uma cumplicidade do espectador para desvendar os crimes e indicar elementos com subsídios para associar o prólogo com o desfecho romanesco, neste bom e significativo policial tragicômico que instiga pela narrativa que destaca um falho conjunto operacional, causa humor na decadência dos princípios éticos e morais revelados, à medida que a corrupção e o desemprego são destacados com boa ênfase pelo cineasta. Faz refletir sobre a iminência da perda do domínio do poder e a submissão num subemprego, além de uma suposta ausência de imparcialidade investigativa pelo abalo emocional que destrói a racionalidade.