Caminhos do Destino
Breno Silveira não conseguiu repetir o ótimo e cultuado filme
de estreia 2 Filhos de Francisco
(2005), sobre a história da vida e obra de Zezé di Camargo e Luciano, visto por
mais de 5,3 milhões de pessoas. Neste seu último longa À Beira do Caminho, título inspirado no clássico Sentado à Beira do Caminho, de Roberto
Carlos, rodado nas estradas, dentro de uma boleia de caminhão como uma casa no
asfalto, com o som inspirador das canções do Rei. Um projeto da jornalista Lea
Penteado e roteirizado por Patrícia Andrade. Vencedor do 16º. Festival de
Pernambuco como melhor filme, roteiro, ator (João Miguel) e ator coadjuvante
(Vinícius Nascimento).
A trama gira em torno de dois personagens centrais, que
procuram seus destinos marcados por um passado atormentado de desprazeres da
vida. João (João Miguel- magnífico como sempre em seu papel) é um caminhoneiro
que encontra dentro de seu veículo o refugiado garoto Duda (Vinícius
Nascimento- de 10 anos,selecionado entre 800 concorrentes, arrasa na sua
interpretação) que acabara de perder a mãe e agora tenta encontrar o pai em São Paulo , munido de uma
foto com o endereço, é oriundo de Petrolina (PE). João vive um drama conjugal que
o atormenta e o faz carregar um sentimento de culpa pela tragédia ocorrida com
a amada. No meio de sua viagem sem fim, reencontra Rosa (Dira Paes- bela e
impecável na sua meteórica aparição), um amor antigo e pivô de sua crise
existencial, um tanto quanto novelesco como as produções globais.
No desenrolar do longa, sempre intercalado por músicas liberadas
por Roberto Carlos- O Portão, Você Foi, Amigo e Na Distância- que
vão explicando os fatos ocorridos e sinalizando o epílogo, numa espécie de
legenda de cada cena como se fosse um filme mudo, subestimando a capacidade
intuitiva do espectador. Chega a beirar o ridículo cinematográfico e liquida
literalmente a obra como uma proposta séria. Nem o trio de atores em ótima performance, que interpretam
os protagonistas principais, conseguem salvar a película do desastre. A montagem
é adequada, a fotografia é bonita dentro de um roteiro pobre, sem imaginação e
previsível, ao deixar frases ingênuas de para-choques de caminhões poluírem o
enredo e, um constante abuso de sentimentalismos baratos, com o intuito de provocar
no espectador emotividades nada sutis, bem carregadas como nos dramalhões
televisivos. O final torna-se previsível e aborrecedor, diante do gratuito
apelo emocional.
A tentativa frustrada de uma realização que viesse
complementar satisfatoriamente a filmografia de Silveira, em muito se deve pela
precariedade de ambição de uma proposta melhor elaborada, onde o passado com
seus fantasmas nos flashbacks em gotas homeopáticas não são resgatados
apropriadamente, deixando beirar para uma pieguice descomedida. Detona com o
melodrama e nada deixa de reflexão, além de uma amizade entre um garoto órfão e
um homem com a síndrome da culpa, frutos de uma afinidade de cumplicidade pela
necessidade circunstancial.
À Beira do Caminho não
tem a temática palatável e digna construída em Vou
Rifar Meu Coração
(2011), de Ana Rieper; nem o carinho sutil proporcional de Patrícia Pilar em Waldick, Sempre no meu Coração (2008);
onde as músicas desfilavam num universo de vidas conflitadas e amargas, sem
perder a luz da esperança com as canções entoadas, num imaginário de
afetividade e simbologia de um espaço temporal perdido ou que ainda remanesce.
Silveira havia demonstrado bons conhecimentos de cinema e se
impôs como um diretor refinado ao estrear; e depois no segundo longa Era Uma Vez..., inspirado na peça Romeu
e Julieta, de Shakespeare. Marcou com elipses na hora certa e cortes
necessários. Mas agora seu filme torna-se um melodrama apelativo e o resultado é
lamentável, decepcionando àqueles que foram em busca de uma proposta mais
audaciosa e menos comercial.