terça-feira, 14 de agosto de 2012

À Beira do Caminho

















Caminhos do Destino

Breno Silveira não conseguiu repetir o ótimo e cultuado filme de estreia 2 Filhos de Francisco (2005), sobre a história da vida e obra de Zezé di Camargo e Luciano, visto por mais de 5,3 milhões de pessoas. Neste seu último longa À Beira do Caminho, título inspirado no clássico Sentado à Beira do Caminho, de Roberto Carlos, rodado nas estradas, dentro de uma boleia de caminhão como uma casa no asfalto, com o som inspirador das canções do Rei. Um projeto da jornalista Lea Penteado e roteirizado por Patrícia Andrade. Vencedor do 16º. Festival de Pernambuco como melhor filme, roteiro, ator (João Miguel) e ator coadjuvante (Vinícius Nascimento).

A trama gira em torno de dois personagens centrais, que procuram seus destinos marcados por um passado atormentado de desprazeres da vida. João (João Miguel- magnífico como sempre em seu papel) é um caminhoneiro que encontra dentro de seu veículo o refugiado garoto Duda (Vinícius Nascimento- de 10 anos,selecionado entre 800 concorrentes, arrasa na sua interpretação) que acabara de perder a mãe e agora tenta encontrar o pai em São Paulo, munido de uma foto com o endereço, é oriundo de Petrolina (PE). João vive um drama conjugal que o atormenta e o faz carregar um sentimento de culpa pela tragédia ocorrida com a amada. No meio de sua viagem sem fim, reencontra Rosa (Dira Paes- bela e impecável na sua meteórica aparição), um amor antigo e pivô de sua crise existencial, um tanto quanto novelesco como as produções globais.

No desenrolar do longa, sempre intercalado por músicas liberadas por Roberto Carlos- O Portão, Você Foi, Amigo e Na Distância- que vão explicando os fatos ocorridos e sinalizando o epílogo, numa espécie de legenda de cada cena como se fosse um filme mudo, subestimando a capacidade intuitiva do espectador. Chega a beirar o ridículo cinematográfico e liquida literalmente a obra como uma proposta séria. Nem o trio de atores em ótima performance, que interpretam os protagonistas principais, conseguem salvar a película do desastre. A montagem é adequada, a fotografia é bonita dentro de um roteiro pobre, sem imaginação e previsível, ao deixar frases ingênuas de para-choques de caminhões poluírem o enredo e, um constante abuso de sentimentalismos baratos, com o intuito de provocar no espectador emotividades nada sutis, bem carregadas como nos dramalhões televisivos. O final torna-se previsível e aborrecedor, diante do gratuito apelo emocional.

A tentativa frustrada de uma realização que viesse complementar satisfatoriamente a filmografia de Silveira, em muito se deve pela precariedade de ambição de uma proposta melhor elaborada, onde o passado com seus fantasmas nos flashbacks em gotas homeopáticas não são resgatados apropriadamente, deixando beirar para uma pieguice descomedida. Detona com o melodrama e nada deixa de reflexão, além de uma amizade entre um garoto órfão e um homem com a síndrome da culpa, frutos de uma afinidade de cumplicidade pela necessidade circunstancial.

À Beira do Caminho não tem a temática palatável e digna construída em Vou Rifar Meu Coração (2011), de Ana Rieper; nem o carinho sutil proporcional de Patrícia Pilar em Waldick, Sempre no meu Coração (2008); onde as músicas desfilavam num universo de vidas conflitadas e amargas, sem perder a luz da esperança com as canções entoadas, num imaginário de afetividade e simbologia de um espaço temporal perdido ou que ainda remanesce.

Silveira havia demonstrado bons conhecimentos de cinema e se impôs como um diretor refinado ao estrear; e depois no segundo longa Era Uma Vez..., inspirado na peça Romeu e Julieta, de Shakespeare. Marcou com elipses na hora certa e cortes necessários. Mas agora seu filme torna-se um melodrama apelativo e o resultado é lamentável, decepcionando àqueles que foram em busca de uma proposta mais audaciosa e menos comercial.

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