terça-feira, 4 de setembro de 2012

Las Acácias















Solidão na Boleia

Las Acácias é mais um filme intimista vindo do Prata com tema da solidão e subtema o desemprego, muito bem dirigido pelo neófito Pablo Giorgelli. Foi destaque no 1º. Festival de Cinema Argentino realizado em Porto Alegre. Participou da 35ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ano de 2011, e ganhou o Prêmio Câmera de Ouro de 2011, uma distinção do Festival de Cannes ao melhor longa-metragem de um diretor estreante. Abocanhou o prêmio de melhor roteiro no 29º. Festival de Havana e ainda o de melhor filme e montagem na 60º. Edição de Cóndor de Prata.

Em outras produções, este tema tão recorrente e universal da solidão também esteve presente, como nos longas A Velha dos Fundos (2010), de Pablo José Meza; no instigante A Chuva (2008), de Paula Hernández; em O Homem ao Lado (2009), de Mariano Cohn e Gastón Duprat, numa reflexão magistral da privacidade e das relações em sociedade de duas famílias envolvidas pela complexidade dos seres humanos; na comovente comédia romântica contemporânea Medianeras (2011), de Gustavo Taretto, com uma temática sobre os solitários em Buenos Aires na era do amor virtual; no fascinante Encontros e Desencontros (2003), de Sofia Coppola, retratando dois personagens sozinhos o tempo todo, sofrendo com o fuso horário em Tóquio; mas nada se compara com o inesquecível episódio Shaking Tokio, dentro do longa Tóquio (2008), dirigido pelo coreano Bong Joon-ho, num dos mais melancólicos e devastadores relatos de isolamento humano no cinema.

A trama tem no caminhoneiro Rubén (Germán da Silva- de atuação irrepreensível e convincente) que transporta toras de madeira acácia do Paraguai para a Argentina. Numa das constantes viagens, há um pedido expresso do dono da carga para dar carona à filha de sua empregada, Jacinta (Hebe Duarte) é uma mãe com a uma filha de 5 meses, de pai desconhecido, em busca de emprego na Capital dos portenhos e ficará hospedada na casa de uma prima.

Giorgelli segura firme o drama que se desenvolve quase todo dentro da boleia de um caminhão. O trajeto é longo e as durezas da viagem começam a incomodar o motorista, deixando-o claramente irritado, diante das pequenas paradas do veículo para que a mãe troque a criança e lhe dê de mamar, pelos simbólicos pedidos através de choros compulsivos. Porém, aos poucos o gelo vai se quebrando com os olhares cativantes da menininha servindo de elo para dobrar a sisudez daquele homem rude e durão, sempre fumando e bebendo água mineral, vez por outra sorve um mate, econômico nas palavras, de gestos discretos, logo começa a sentir uma afeição quase que paternal pela criança e uma atração reprimida pela mulher. Nunca arrisca muito e com o passar do tempo pelas estradas poeirentas e rodovias asfaltadas, as relações parecem ficar mais difíceis e angustiantes para quem transporta madeira e enxerga naquelas criaturas ao seu lado como se fossem dois objetos de uma carga pesada, no sentido metafórico.

Um filme com elenco consistente, de personagens construídos com um vigor sólido invejável num roteiro enxuto e sem grandes pirotecnias, prevalecendo a eficiência na direção que busca nos closes passar os sentimentos doloridos e angustiantes dos protagonistas, sem exagerar nas tomadas de planos. Não há trilha sonora, pois é substituída pelo ronco do motor e pelas trocas de marchas, num filme seco e sem grandes requintes ou paparicos do diretor, onde as expressões faciais são fortes e falam mais que os diálogos escassos.

Ao contrário do desastrado longa nacional À Beira do Caminho (2011), de Breno Silveira, que buscou um sentimentalismo barato e melodramático voltado para um resultado mais comercial. Já o cineasta argentino foge das armadilhas e da previsibilidade com muita elegância e alguma sutileza ao deixar em aberto o epílogo, mostra não só a reflexão da longínqua trajetória, como a busca pelo carinho dentro de pequenos gestos, onde a solidão de um homem em sua cabine de caminhão como uma casa rodando pelo asfalto, embora torne o personagem grosseiro, mas também deixa irradiar o lado humanista e a carência afetiva de uma alma à deriva.

Las Acácias é uma película road movie sem muitos diálogos, prevalecendo o silêncio sintomático dos desesperançados à procura de um foco iminente de objetivo de vida. É lançado um olhar fraternal pela universalidade das situações dos indivíduos solitários, num contraponto entre o caminhão com a intimidade de seus personagens individuais, dentro dos movimentos e dificuldades coletivas. Há rara interação entre estas pessoas atônitas de uma instigante relevância social que ficam à mercê de um convívio melhor neste sensível e belo drama que alcança um resultado plenamente satisfatório pelo seu encantamento emocional com o espectador, diante do instigante tema da solidão e como acessório o desemprego.

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