Agonia da Finitude
Wayne Wang é um veterano diretor nascido
A trama gira em torno da saga de uma mãe (Jackie Chung), famosa atriz de teatro que está nos últimos estágios de um agressivo câncer de estômago com metástase, e seu filho, Chang-Rae (Justin Chon), um escritor de algum sucesso, que deixa emprego e namorada para trás, retornando dos EUA para casa com o intuito de cuidar da genitora. O filme tem um aceitável ponto de partida para tratar do tema da morte iminente e da experiência de assimilação que retrata esse desencontro na vida entre o filho americano e a mãe coreana. Eles dividirão o mesmo espaço, falam o mínimo para valorizar o indispensável silêncio, enquanto que a finitude pela perda não bate à porta. O rapaz tem como rotina começar o dia cuidando sozinho da enferma, pois o pai está sempre ausente em suas atividades profissionais e fica implícita sua traição com outra mulher; já a irmã retorna depois de algum tempo em que permaneceu fora para tentar convencer os familiares sobre o uso de um tratamento alternativo de imunoterapia, logo após a mãe ter comunicado que desistiu da medicação tradicional para morrer sem sofrimento.
As habilidades culinárias são desenvolvidas durante o desenrolar do enredo, sendo confundido como uma realização gastronômica que integra à dramaturgia em algumas passagens, como o filho preparando para a família um jantar tradicional. Dividido entre a realidade americana e a herança coreana do Ano Novo, ele articula um prato típico, o kalbi, seguindo a receita da mãe para pinçar sua ligação forte de vínculo afetivo inquestionável. Menciona a costela marinada com gengibre, na qual a carne tem de permanecer ligada ao osso para realçar o gosto naquele banquete crepuscular. Na hora de servir, veste um traje de gala, prevendo ser a última refeição com a mãe, que tosse compulsivamente, dando mostras da saúde precária. Todos tentam uma felicidade distante e forjada de reconhecimento. São cenas que emocionam pelas memórias buscadas no passado que virão à tona para uma apreciação sobre alguns momentos decisivos enfrentados com as expectativas e planos projetados pelos pais.
Temas como a morte, solidão e doença foram exploradas com
méritos inegáveis pelo genial Ingmar Bergman
O drama mergulha em alguns pequenos rancores e o reconhecimento mútuo de duas pessoas que partilharam uma vida com algum distanciamento fruto da sobrevivência. Um filme com força dramática, sombrio e reflexivo sobre a doença e a morte, onde o silêncio prevalece sobre os poucos diálogos e expressões corporais, mas que são reveladores quando há, com muitas imagens em que os olhares dos personagens falam por si só. Ou ainda, quando a mãe cantarola a famosa canção Let It Be, dos The Beatles, mas desabafa dizendo como pode uma música tão linda se tornar feia. De Volta Para Casa é instigante sobre o distanciamento e a aproximação nas relações humanas do grande amor maternal. A dor dilacerante corta e mexe com o espectador e suas emoções, mesmo sem ser um filme de grandiloquência, mas que se estende pelas dependências do lar. O cineasta conduz a história sem arroubos ou manifestações esperançosas já antecipadas no prólogo e depois na aproximação do ocaso da vida, com uma única metáfora que é buscada na relação carne e osso entre mãe filho na aula de culinária. Elogiável a magnífica cena final do retorno do casal do aeroporto, sem as amarras do sofrimento angustiante da moléstia devastadora e implacável, numa poética licença lírica de dignidade com propriedade, mas com um olhar implacável.