Reconciliação Familiar
Robert Lorenz estreia atrás das câmeras com Curvas da Vida, dirigindo Clint Eastwood
no papel bem construído de Gus, um caçador de talentos para um clube de
beisebol de Atlanta, que está envelhecendo e corroído por uma cegueira parcial,
mas não quer parar e ainda acha que tem muito para dar. Eastwood está com 82
anos e foi dirigido pela última vez em Na Linha de Fogo (1993), de Wolfgang Petersen.
Nestes últimos 20 anos sempre atuou e dirigiu, tendo Lorenz entre tantos que
colaborou e produziu os longas Menina de
Ouro (2002), Além da Vida (2010) e J. Edgar (2011).
O drama retrata a relação entre Gus, um pai ausente e
complicado, com a filha Mickey (Amy Adams), uma advogada promissora que acabara
de ingressar numa grande sociedade, perde espaço e cria um desgaste na empresa,
ao afastar-se para cuidar do pai e acompanhá-lo discretamente em mais uma
jornada de trabalho na Carolina do Norte. Há um conflito familiar com marcas do
passado quando faleceu a mãe, tinha somente 6 anos e Gus deixou-a com um tio
distante e sem dar explicações, numa situação que para ela era insólita. Teve
transtornos emocionais e frequentou por muitos anos sessões de terapia, decorrentes
do fato atípico para uma criança que vê a mãe morrer tão cedo e o pai sumir.
O protagonista é um bronco e ranzinza ao melhor estilo de
Eastwood, como bem caracterizado em Walt Kowalski , um velho polaco veterano de guerra, no filme Gran Torino (2008). Não aceita conselhos
de ninguém, sequer do melhor amigo Peto (John Goodman) e muito menos da filha.
O longa mostra um personagem envelhecendo que não aceita e se nega a
administrar a terceira idade, acarretando em problemas profissionais
complicados, como a própria prorrogação do contrato que está por expirar em 3
meses. Mas o filme não é só problemas, pois a garota conhece um
ex-jogador (Justin Timberlake) descoberto pelo pai, mas por problemas físicos
abandonou a careira e sonha ser um grande narrador. Logo dá a liga e o namoro
engata e é saudado com satisfação pelo sogrão, que zela da filha agora como não
cuidara quando criança.
Curvas da Vida
mostra uma filha de nariz empinado e teimosa, igual ao pai, onde o
relacionamento da advogada com o velho sorumbático começa a se decifrar, após
várias tentativas de aproximação por parte dela, onde o enigma da infância é
relatado de forma simples e sem maiores emoções decorrentes de traumas
possíveis, como se tudo fosse um fato corriqueiro e sem consequências. A
confissão e os esclarecimentos são fundamentais para o reatamento da confiança
e do vínculo entre os dois.
Lorenz mostra discreta inspiração e uma profundidade rasa na
abordagem do tema proposto. É um filme denominado drama, mas está mais para uma
comédia dramática familiar com algum gosto, embora o pouco tempero no sabor, ao
melhor estilo americano de happy end.
É para ser assistido sem muito compromisso, desde que não seja levado com relevância, pois nem o novo e desastrado olheiro conseguiu desbancar o
cavaleiro solitário de suas andanças pelos campos de beisebol. Ver Eastwood com
o rosto empedernido, soltando um discreto sorriso após um choro compulsivo no
cemitério, sempre é salutar, ainda mais que ele anunciara a aposentadoria
recentemente, mesmo que numa película de um roteiro sem nenhuma inovação, com
uma boa fotografia. Tudo bem simplesinho, previsível da primeira até a última cena, sem metáforas, alegorias ou alguma
situação embaraçosa para ser refletida, exceto que a experiência do homem jamais
será suplantada pela tecnologia.