O Resgate
Ben Affleck dirige Argo
em seu terceiro longa-metragem, sendo os anteriores Medo da Verdade (2007) e Atração
Perigosa (2010). Também atua e é sofrível como o agente da CIA Antônio
Mendez, com aquela cara de paspalho mimado misturado com canastrão. Bem que o
protagonista merecia um ator mais carismático e de uma razoável dramaticidade,
pois assim o papel teria crescido muito mais, diante da pálida
interpretação de Affleck que atrás das câmeras é bem melhor.
O drama policial tem como ponto de partida o Irã, em 1979,
sob o governo do Aiatolá Khomeini, que recém assumira o poder e já determina o
sequestro dos diplomatas americanos que acabam se refugiando clandestinamente
na Embaixada do Canadá, depois de fugirem do reduto dos EUA. Se fossem presos
poderiam ir à forca no temido regime do presidente empossado pelo povo que
antes derrubara o xá Reza Pahlevi, que se exilou nos Estados Unidos,
despertando mais ódio e uma fúria ensandecida nos iranianos.
A trama tem bons momentos cinematográficos, como a invasão
da embaixada americana no Teerã fazendo diversos reféns presos e isolados do
mundo por mais de um ano em total incomunicabilidade, causando furor no governo
de Jimmy Carter, que chegou a ordenar um resgate forçado, mas somente tornado
público no governo de Bill Clinton. Porém rendeu-se ao plano de Mendez que
articulou uma saída aparentemente inverossímil e temerária, ao montar uma equipe
fictícia de cinema para realizar um documentário nos principais pontos
turísticos da Capital do Irã. Há a prestimosa ajuda do maquiador John Cambers
(John Goodman), mestre dos efeitos especiais e ganhador de vários prêmios na
categoria, como no longa O Planeta dos Macacos
(1968); e do produtor Lester Siegel (Alan Arkin), obedecendo as ordens do chefe
maior Jack O’Donnell (Bryan Cranston). A dupla Cambers e Siegel está muito bem
nos grandes momentos hilários do filme, com uma dose de ironia fina e sutil nos
diálogos.
O filme mostra uma missão arriscada do agente da CIA que
atuou por 27 anos no Oriente Médio, com chances remotas de alcançar um total
sucesso, mas assim mesmo é colocado em prática o plano mirabolante para deleite
do espectador, numa montagem eficiente e com cenas eletrizantes, tendo um
respeitável amparo musical de uma trilha sonora elogiável, com as participações
de bandas consagradas como Led Zeppelin e Van Halen. A reconstituição de época
é impecável, tanto no figurino como num cenário típico e convincente da década
de 70.
Mas o longa apresenta equívocos como o heroísmo desbragado
americano insuflado pela paixão nacionalista sem limites, numa louvação de
enaltecimento desproporcional, mesmo após o epílogo. Há uma singela homenagem
ao Canadá, país que foi fundamental para a epopeia do resgate dos diplomatas americanos
em território iraniano, agasalhado pelo roteiro tendenciosamente maniqueísta de
Chris Terrio, que se baseou num artigo publicado pelo jornalista Joshuah
Bearman.
Em Argo não dá
para dizer que há um componente meramente apelativo nas cenas de suspense, pois
possui um clímax bem aprimorado e a trajetória do filme é instigante e leva
para um final angustiante. Talvez aí o mérito maior de Affleck com a tensão
sendo mantida em dose equilibrada, intercalada com algum humor para descontrair,
mostrando que tanto na política como no cinema o que importa fundamentalmente é
iludir e convencer, como estabelece as normas de Hollywood e a CIA. A
representação dos políticos mentirosos faz parte do sistema e contexto, excetos
os atos de heroísmos excessivos, chega a ser um bom e instigante filme, que
mescla com ironia uma realidade advinda da ficção. Tudo soa falso e aos poucos
vai virando uma contraditória verdade.
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