sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Argo



O Resgate

Ben Affleck dirige Argo em seu terceiro longa-metragem, sendo os anteriores Medo da Verdade (2007) e Atração Perigosa (2010). Também atua e é sofrível como o agente da CIA Antônio Mendez, com aquela cara de paspalho mimado misturado com canastrão. Bem que o protagonista merecia um ator mais carismático e de uma razoável dramaticidade, pois assim o papel teria crescido muito mais, diante da pálida interpretação de Affleck que atrás das câmeras é bem melhor.

O drama policial tem como ponto de partida o Irã, em 1979, sob o governo do Aiatolá Khomeini, que recém assumira o poder e já determina o sequestro dos diplomatas americanos que acabam se refugiando clandestinamente na Embaixada do Canadá, depois de fugirem do reduto dos EUA. Se fossem presos poderiam ir à forca no temido regime do presidente empossado pelo povo que antes derrubara o xá Reza Pahlevi, que se exilou nos Estados Unidos, despertando mais ódio e uma fúria ensandecida nos iranianos.

A trama tem bons momentos cinematográficos, como a invasão da embaixada americana no Teerã fazendo diversos reféns presos e isolados do mundo por mais de um ano em total incomunicabilidade, causando furor no governo de Jimmy Carter, que chegou a ordenar um resgate forçado, mas somente tornado público no governo de Bill Clinton. Porém rendeu-se ao plano de Mendez que articulou uma saída aparentemente inverossímil e temerária, ao montar uma equipe fictícia de cinema para realizar um documentário nos principais pontos turísticos da Capital do Irã. Há a prestimosa ajuda do maquiador John Cambers (John Goodman), mestre dos efeitos especiais e ganhador de vários prêmios na categoria, como no longa O Planeta dos Macacos (1968); e do produtor Lester Siegel (Alan Arkin), obedecendo as ordens do chefe maior Jack O’Donnell (Bryan Cranston). A dupla Cambers e Siegel está muito bem nos grandes momentos hilários do filme, com uma dose de ironia fina e sutil nos diálogos.

O filme mostra uma missão arriscada do agente da CIA que atuou por 27 anos no Oriente Médio, com chances remotas de alcançar um total sucesso, mas assim mesmo é colocado em prática o plano mirabolante para deleite do espectador, numa montagem eficiente e com cenas eletrizantes, tendo um respeitável amparo musical de uma trilha sonora elogiável, com as participações de bandas consagradas como Led Zeppelin e Van Halen. A reconstituição de época é impecável, tanto no figurino como num cenário típico e convincente da década de 70.

Mas o longa apresenta equívocos como o heroísmo desbragado americano insuflado pela paixão nacionalista sem limites, numa louvação de enaltecimento desproporcional, mesmo após o epílogo. Há uma singela homenagem ao Canadá, país que foi fundamental para a epopeia do resgate dos diplomatas americanos em território iraniano, agasalhado pelo roteiro tendenciosamente maniqueísta de Chris Terrio, que se baseou num artigo publicado pelo jornalista Joshuah Bearman.

Em Argo não dá para dizer que há um componente meramente apelativo nas cenas de suspense, pois possui um clímax bem aprimorado e a trajetória do filme é instigante e leva para um final angustiante. Talvez aí o mérito maior de Affleck com a tensão sendo mantida em dose equilibrada, intercalada com algum humor para descontrair, mostrando que tanto na política como no cinema o que importa fundamentalmente é iludir e convencer, como estabelece as normas de Hollywood e a CIA. A representação dos políticos mentirosos faz parte do sistema e contexto, excetos os atos de heroísmos excessivos, chega a ser um bom e instigante filme, que mescla com ironia uma realidade advinda da ficção. Tudo soa falso e aos poucos vai virando uma contraditória verdade.

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