sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A Vida de Outra Mulher



















Bendita Amnésia

A indústria cinematográfica da França não atravessa uma boa fase definitivamente. Parece dar mostras de um cansaço ou esgotamento de ideias novas para realizar grandes filmes. Apresenta uma fadiga que inocula os diretores atualmente, resultando em obras menores e discutíveis. O último Festival de Cinema Varilux realizado no Brasil em nada contribuiu e sequer inovou ou deixou grandes recordações, exceto o badalado Intocáveis (2011), de Eric Toledano e Olivier Nakache. Outro longa aclamado pelo público francês, mas sem grande repercussão no Brasil foi A Riviera Não é Aqui (2010), de Dany Boon. Há ainda no circuito comercial filmes como Bem Amadas (2011), de Christophe Honoré e Os Infiéis (2011), de Jean Dujardin e Gilles Lellouche, produções apenas intermediárias e discutíveis se for observado o aspecto de uma proposta convincente com um resultado excelente. Estão distantes de uma obra qualificada e definitiva. Mas há as exceções como O Artista (2011), de Michel Hazanavicius; ou arrasador O Segredo do Grão (2007), de Abdellatif Kechiche; ou ainda do contundente Cachê (2003), de Michael Haneke.

Diante desta miséria que grassa no mercado dos cinéfilos, surge um outro longa-metragem que padece de uma estrutura mais consistente, o sofrível A Vida de Outra Mulher (2012), tendo na direção a estreante Sylvie Testud, que se inspira no romance de Frédérique Deghelt. A cineasta demonstra poucos recursos técnicos para dar uma obra convincente e manter com segurança o clímax do enredo até o fim. A trama tem Marie (Juliette Binoche) que em “boa hora” perde a memória ao se levantar num belo dia ensolarado, quando completaria 41 anos, tema bastante recorrente no cinema. Acorda como uma mulher de 25 anos e sua memória apaga nos últimos 15 anos em que viveu casada e com um filho menor, o cotidiano e as particularidades inerentes de um casal. A protagonista não lembra do que aconteceu com o pai doente, sua relação deteriorada com a mãe e sequer que é uma executiva de negócios bem-sucedida.

O longa descamba para o melodrama choroso e piegas, com bonitas tomadas das ruas de Paris e um lindo passeio pelo rio Sena num Bateau Mouche navegando pelas águas da cidade das luzes, onde Marie, a empresária e autoritária, esposa egoísta que despreza o marido (Mathieu Kassovitz), está em busca constante do passado e quer recuperá-lo, além de uma mãe sem tempo para o filho. Busca a reconquista de seu amor outrora e a retomada do que aconteceu no período de esquecimento, que beira em situações cômicas e constrangedoras, tanto com o filho como com o marido e o processo de divórcio.

Um dos grandes problemas de A Vida de Outra Mulher é a previsibilidade do desenlace, não há uma construção de personagens fortes ou uma abordagem psicológica dos mesmos, que estão à deriva e soa como criaturas perdidas no enredo. Nem a musa do cinema francês Juliette Binoche que dá vida própria para a protagonista, não consegue salvar o filme, embora esteja excelente em seu papel, clássica e talentosa, esbanjando como sempre sua beleza e sensualidade.

Eis um filme que não escapa do rótulo de descartável por ser irregular, diante do vazio e da superficialidade que aborda o tema de forma linear, beirando para o apelativo, decepciona àqueles que foram em busca de uma proposta mais audaciosa e menos comercial. Resta uma película primordialmente para fazer chorar, na mesma linha de outras realizações análogas americanas como os melodramáticos Para Sempre (2012), de Michael Sucsy e Como se Fosse a Primeira Vez (2004), de Peter Segal.

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