A Decadência
Roteirista das comédias Amor
a Toda Prova (2011) e Última Viagem a
Vegas (2013), Dan Fogelman estreia na direção do longa-metragem Não Olhe para Trás, uma comédia
dramática que aborda superficialmente um músico que não vive seus melhores dias
ao descobrir uma carta escrita para ele por John Lennon há trinta anos e que
nunca tinha lido. Com esta proposta inspiradora é motivado para embarcar numa
viagem para reencontrar seu filho biológico (Bobby Cannavale). Danny Collins
(Al Pacino) está idoso e gasta mais dinheiro do que tem, troca de esposa com
frequência, vive de lembranças da fama pelas músicas populares do passado, tem
como fãs principalmente o público da terceira idade, está sem compor uma canção
sequer e apenas reprisa os seus maiores hits, se vê encorajado a não se deixar
influenciar pela indústria. Diante disto, decide ser um homem melhor pelo
avançar da idade, já cansado da rotina de drogas e excessos, interrompe a
carreira para tentar reatar os laços com a família.
O longa se propõe a resgatar um passado pela história de um
pai ausente que agora descobre um caminho promissor para um caminho de
purificação da alma. Embora o cineasta não caia no pieguismo lacrimoso, utiliza-se
dos velhos clichês do melodrama, mas conduz com algum distanciamento, ao
retratar de maneira leve e cômica algumas situações peculiares. Tem no
protagonista acostumado a ter tudo que deseja pelo carisma e seus contatos
pessoais, às vezes antipático pelo contexto, como no encontro com a nora (Jennifer
Garner); em outras beira uma vítima do destino dos deuses, como a famosa carta
que chega atrasada. Ainda que atrapalhado pelas circunstâncias, demonstra ser
um homem de bom coração, como na cena em que faz de tudo para salvar o filho,
sendo doador no transplante de medula.
A comédia não chega a sucumbir e tem boas tiradas, como nos
diálogos da gerente do hotel (Annete Bening- de boa performance) com Danny. O
roteiro não flui com leveza e sincronia, há percalços na trama com cortes
abruptos, deixando sem ritmo de continuidade o desenvolvimento intimista da
reinvenção. De forma quase simplória é dito que o dinheiro não traz felicidade,
mas os familiares mudam de opinião ao receberem presentes generosos do pai
ausente. Outro equívoco é o surgimento inesperado da doença terminal do filho
mesclado com a gravidez de risco, acompanhado por uma iminente morte no
passado, além da suposta traição, faz render uma salada sem tempero, de pouco
sal, muito açúcar e um resultado indigesto. O humor fica devendo, diante da
narrativa opaca, como no momento em que o artista doa seu carro caríssimo ao
funcionário pobre do hotel. Fica a ideia de um moralismo exacerbado, ao refutar
valores morais de maneira franciscana.
Não Olhe para Trás
tem contrastes extremados, como do homem rico que ajuda pessoas pouco
aquinhoadas, ou ainda do músico decadente e arrogante que torna-se humilde e
sentimental, prejudicado na essência pelo bom-mocismo de comportamento exemplar
oriundo do capitalismo sem freios, que busca nas doações em dinheiro resgatar
um passado inglório. Mas principalmente a relação pai e filho tem boas
referências no cinema, como Coração Louco
(2009), de Scott Cooper, ao tratar a saga clássica de derrotas de um cantor
country que traz a marca da rejeição familiar; ou no documentário brasileiro
dirigido por Patrícia Pilar, Waldick-
Sempre no Meu Coração (2007), em situação semelhante de afastamento de
filho e pai.
Al Pacino é um estupendo ator e dispensa maiores
comentários. Está perfeito na narrativa da crise criativa de um veterano ídolo
decadente, ao se dar conta do talento que se esvai e perde força aos poucos.
Sua imagem é o retrato corajoso e realista de um homem solitário derrotado pelo
tempo, mas que ainda tem o carinho dos fãs da velha guarda. Seu personagem é
contraditório e nem sempre mantém a coerência, às vezes beira o ridículo e em
outras dá uma guinada à medida que as crises se avolumam, diante da comicidade
pouco adequada e de ausência de brilho. Um filme que fica no meio termo, sem a
consistência de um diretor mais calejado, não alcança força dramática adequada
ou de humor condizente com a proposta em foco.
Danny tem no rosto a marca pelos sulcos de toda sua história
de músicas e letras prodigiosas, com um conteúdo duvidoso que não atrai os
jovens, porém sem os horizontes infinitos de conhecimentos que tinha em mente
pelas infindáveis noites de aparições ao grande público, diante das
dificuldades do velho cantor em recompor sua vida, há a recomposição familiar
fragilizada que conspira para uma solução previsível. Não chega a ser um filme
instigante, tem um desfecho nos moldes de telefilmes rasos pela linearidade que
ofusca a densidade mais elaborada, resta uma narrativa irregular, mas sem
invalidar a proposta esperançosa, mesmo tropeçando no sentimentalismo barato e
sem inovação estética, tendo no centro uma personagem repleta de bravatas.
2 comentários:
Roteiro interessante tem este filme. Esta carta de John Lennon então é uma ideia muito original.
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