As Terras Frias
Vem dos EUA o filme As Terras Frias, do diretor Tom Gilroy em seu segundo longa-metragem, antes realizara Spring Forward (1999). É uma produção independente que causou boa impressão na 37ª. Mostra de Cinema de São Paulo, enfoca de maneira direta e bem criativa a recente crise dos norte-americanos, que levou à bancarrota o sistema financeiro, logo após a explosão da bolha imobiliária, numa intrincada e intrigante fórmula de um capitalismo selvagem com evidência de esgotamento em seu modelo clássico.
A trama se desenrola com o filho Atticus (Silas Yelich) vendo
sua mãe (Lili Taylor) gravemente enferma que se recusa a realizar um tratamento
médico adequado. Moram como se fossem reclusos numa casa velha de madeira encravada
na entrada de uma imensa floresta e sem luz. Ela é faxineira e ele mantém de reciclagem de
objetos descartados à beira da estrada. Com o falecimento prematuro da
genitora, o jovem de apenas 11 anos se vê obrigado a abandonar o lar, tendo em
vista que o pai é ausente e os vizinhos distantes não são confiáveis,
embrenha-se no bosque fechado à procura da sobrevivência mais segura, o que é
contraditório para as circunstâncias climáticas e a falta de suprimento para viver.
O diretor utiliza-se de um artifício
bem recorrente no cinema, quando traz para o enredo novamente a figura materna
para dar assistência espiritual e a condução empírica do menino para desatar e
retirar seus traumas com as pessoas que tentam se aproximar de uma forma ou de
outra. Segue na esteira da inspiração e da visão com o infinito depois da morte
o extraordinário longa filipino Independência
(2009), de Raya Martin, abordando uma mãe fugindo com seu único filho para o
meio da floresta, às vésperas de uma invasão e seu exílio no interior de uma
selva indevassável, em precárias condições para um ser humano, dentro de uma
choupana construída com pedaços de paus e capim como telha com a morte
rondando; o outro é o cultuado Tio Boonmee,
Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul, diante da
escolha do protagonista para passar seus últimos dias no meio da floresta,
amparado pela cunhada e por um sobrinho que faz seus curativos, adequando os
aparelhos no seu corpo para ajudá-lo a vencer a enfermidade que o atormenta,
deixa-o cada vez mais agonizante, para imergir num clima transcendental.
O longa dá uma grande guinada no roteiro do meio para o
epílogo, com o surgimento inesperado de um rapaz hippie (Peter Scanavino), um
típico americano representante do movimento da contracultura dos anos 1960.
Planta e fuma maconha, adepto do nudismo com os amigos nos acampamentos que
frequenta, contrário a furtos, ensina seu amigo fazer para vender artesanato
como forma de sobrevivência digna, passa a proteger Atticus como se fosse seu
irmão caçula, depois que o garoto órfão passou por poucas e boas, comendo
folhas no mato e devorando restos de comida nas lixeiras, surge um novo
horizonte no futuro.
As Terras Frias
desemboca e segue uma trajetória no final para o recente Na Estrada (2012), dirigido por Walter Salles, sobre o best-seller
de Jack Kerouac On The Road, de 1957,
centralizando seus personagens numa viagem existencial improvável, de rumos irrefreados,
apenas tendo como lema a inspiração para viver bem longe de um universo incerto
pelos dogmas e normas, recriando a saga da contracultura dos jovens perdidos no
mundo do pós-guerra, deixando nítidos os reflexos violentos do período da
Grande depressão americana de 1929. Já Gilroy busca elementos que indicam uma
crise sem precedentes e que dá rumo e destino após a generalizada quebradeira
decorrente de um abalo financeiro inimaginável, deixando bons subsídios para
uma reflexão desapaixonada, diante das referências familiares e de
solidariedade neste instigante drama social.
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