terça-feira, 29 de outubro de 2013

Mostra de Cinema São Paulo (Ana Arabia)















Ana Arabia

De Israel em coprodução com a França vem Ana Arabia, do badalado cineasta Amos Gitai que também assina o roteiro em parceria com Marie-José Sanselme, com boa recepção de público e crítica na 37ª. Mostra de Cinema de São Paulo. A última produção do cineasta israelense é um misto de documentário com ficção e aborda essencialmente a manutenção da continuidade do processo pela paz no Oriente Médio e a coexistência entre os povos, inclusive os inimigos declarados. Sua filmografia é extensa sobre filmes recorrentes de desavenças étnicas, entre tantos estão: Kippur- O Dia do Perdão (2000), Kedma (2002), Free Zone (2005), Aproximação (2007), Mais Tarde Você Entenderá (2008) e Rosas a Crédito (2010).

Depois de Free Zone, o diretor israelense paralisou sua criatividade e buscou temas repetitivos como brigas de fronteira entre palestinos e judeus, desta vez inova apenas na estética, ao filmar em um único plano-sequência de 81 minutos, sendo a mais famosa até hoje no cinema os memoráveis 97 minutos da obra-prima Arca Russa (2002), de Alexander Sokurov. Pretendia dar nova luz e reacender seu cinema criativo esquecido, ultimamente anda numa mesmice de doer as suas últimas realizações, demonstrando uma falta de imaginação. Agora busca o experimental como novo, tentando se afastar do supérfluo, mas fica longe de algo consistente e de uma evolução primorosa para uma nova e prodigiosa etapa. Segue com o mesmo discurso folhetinesco e cansativo de ano após ano.

A trama de Ana Arabia mostra a vida de uma pequena comunidade de judeus e árabes exilados coabitando uma sede de um território de terras completamente esquecido na fronteira entre Jaffa e Tel Aviv, em Israel. Como se não houvesse diferenças raciais e religiosas, convivem em modestas casas entre um pomar de limoeiros, numa alusão ao comovente e eficiente filme Limon Tree (2008), de Eran Riklis, que retratou a história de uma mulher palestina que vê seus limões ameaçados quando o Ministro da Defesa de Israel se torna o seu vizinho e para salvar a plantação que lhe dá o sustento aciona a Suprema Corte do país.

Diante da inesperada chegada no enclave da jovem jornalista Yael (Yuval Scharf) para realizar algumas entrevistas bem singelas, cria-se um painel redundante de uma atmosfera vazia para as discussões e reflexões de pessoas quanto aos usos e costumes diferentes. Descobre-se que várias pessoas não estão contaminadas pelas constantes guerras entre muçulmanos e judeus naquela região conflitada permanentemente, inclusive são casadas, como depreende-se de alguns vizinhos, sendo que um deles dá abrigo para a ex-nora judia, após a morte súbita do filho árabe. São relatos sobre os sonhos, as esperanças, os casos amorosos e os desejos de cada um, mesclados com ilusões desfeitas e restos de um fio de esperança sem bombas explodindo nas carnificinas rotineiras. Uma galeria de depoimentos sobre os fragmentos de suas histórias contados com humanismo.

Há até um certo entusiasmo de Yael que choraminga pelo que viu de bom, chega a se esquecer de seu trabalho profissional, ao repensar sobre aquela fonte de sabedoria e esperança para um futuro de coexistência de povos em litígio. Ali o tempo parece ter parado, mesmo sendo um pequeno e frágil reduto, difere em muito das cidades que rodeiam em constante clima de convulsão social com o terror contumaz. A câmera sai do cenário focado e vai ao encontro de uma metrópole com seus prédios enormes, com um céu azul que antes passara um avião barulhento.

Ana Arabia mostra um Gitai ainda mais preguiçoso para filmar, utilizando-se do artifício da jornalista com uma caneta e um bloquinho na mão como fio condutor da trajetória, num enredo debilitado por falta de audácia criativa, de pouca emoção, sobra de indolência e falta de cinema, com um desenrolar exaustivo, embora de boas intenções como dita a regra de um típico folhetim pela paz no Oriente Médio.

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