Ana Arabia
De Israel em coprodução com a França vem Ana Arabia, do badalado cineasta Amos
Gitai que também assina o roteiro em parceria com Marie-José Sanselme, com boa
recepção de público e crítica na 37ª. Mostra de Cinema de São Paulo. A última
produção do cineasta israelense é um misto de documentário com ficção e aborda essencialmente
a manutenção da continuidade do processo pela paz no Oriente Médio e a
coexistência entre os povos, inclusive os inimigos declarados. Sua filmografia
é extensa sobre filmes recorrentes de desavenças étnicas, entre tantos estão: Kippur- O Dia do Perdão (2000), Kedma (2002), Free Zone (2005), Aproximação
(2007), Mais Tarde Você Entenderá
(2008) e Rosas a Crédito (2010).
Depois de Free Zone,
o diretor israelense paralisou sua criatividade e buscou temas repetitivos como
brigas de fronteira entre palestinos e judeus, desta vez inova apenas na
estética, ao filmar em um único plano-sequência de 81 minutos, sendo a mais
famosa até hoje no cinema os memoráveis 97 minutos da obra-prima Arca Russa (2002), de Alexander Sokurov.
Pretendia dar nova luz e reacender seu cinema criativo esquecido, ultimamente
anda numa mesmice de doer as suas últimas realizações, demonstrando uma falta
de imaginação. Agora busca o experimental como novo, tentando se afastar do supérfluo,
mas fica longe de algo consistente e de uma evolução primorosa para uma nova e
prodigiosa etapa. Segue com o mesmo discurso folhetinesco e cansativo de ano
após ano.
A trama de Ana Arabia mostra a vida de uma pequena
comunidade de judeus e árabes exilados coabitando uma sede de um território de
terras completamente esquecido na fronteira entre Jaffa e Tel Aviv, em Israel. Como se não
houvesse diferenças raciais e religiosas, convivem em modestas casas entre um
pomar de limoeiros, numa alusão ao comovente e eficiente filme Limon Tree (2008), de Eran Riklis, que
retratou a história de uma mulher palestina que vê seus limões ameaçados quando
o Ministro da Defesa de Israel se torna o seu vizinho e para salvar a plantação
que lhe dá o sustento aciona a Suprema Corte do país.
Diante da inesperada chegada no enclave da jovem jornalista
Yael (Yuval Scharf) para realizar algumas entrevistas bem singelas, cria-se um painel
redundante de uma atmosfera vazia para as discussões e reflexões de pessoas quanto
aos usos e costumes diferentes. Descobre-se que várias pessoas não estão
contaminadas pelas constantes guerras entre muçulmanos e judeus naquela região
conflitada permanentemente, inclusive são casadas, como depreende-se de alguns vizinhos,
sendo que um deles dá abrigo para a ex-nora judia, após a morte súbita do filho
árabe. São relatos sobre os sonhos, as esperanças, os casos amorosos e os
desejos de cada um, mesclados com ilusões desfeitas e restos de um fio de
esperança sem bombas explodindo nas carnificinas rotineiras. Uma galeria de
depoimentos sobre os fragmentos de suas histórias contados com humanismo.
Há até um certo entusiasmo de Yael que choraminga pelo que viu
de bom, chega a se esquecer de seu trabalho profissional, ao repensar sobre
aquela fonte de sabedoria e esperança para um futuro de coexistência de povos em litígio. Ali o tempo
parece ter parado, mesmo sendo um pequeno e frágil reduto, difere em muito das cidades
que rodeiam em constante clima de convulsão social com o terror contumaz. A câmera
sai do cenário focado e vai ao encontro de uma metrópole com seus prédios
enormes, com um céu azul que antes passara um avião barulhento.
Ana Arabia mostra
um Gitai ainda mais preguiçoso para filmar, utilizando-se do artifício da
jornalista com uma caneta e um bloquinho na mão como fio condutor da trajetória,
num enredo debilitado por falta de audácia criativa, de pouca emoção, sobra de
indolência e falta de cinema, com um desenrolar exaustivo, embora de boas
intenções como dita a regra de um típico folhetim pela paz no Oriente Médio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário