Bellas Mariposas
Vem da Itália a grande decepção desta 37ª. Mostra de Cinema
de São Paulo, o sofrível filme Bellas
Mariposas, quarto longa-metragem do cineasta Salvatore Mereu, que tem em
sua filmografia Ballo a ter Passi
(2003), Sonetaula (2008) e Tajabone (2010). Aborda a ansiedade da
juventude e os contrastes com os adultos num mundo surreal e inusitado por
situações bizonhas sem um aprimoramento estético mínimo como condizente,
beirando ao risível uma produção de pobreza franciscana e sem grandes ambições.
Antes de tudo, deveria ser uma comédia escrachada com pretensões
de toques intimistas, porém tornam-se pífias e descambam para uma obra tosca e
sem um mínimo de depuração. O que se vê é um filme mal conduzido e pior ainda é
a produção cinematográfica despauperada, que se arrasta por uma eternidade de
doer na alma, pela falta de uma estrutura narrativa compatível com o bom senso
aguardado pelo espectador. Descamba para o grotesco em várias situações do cotidiano
de uma escatologia escarrada: arrotos, defecações em penicos dentro de uma
suposta banheira, escovação de dente com espuma caindo pela casa. Tudo isto
complementado por um alarido ensurdecedor de falas desconexas e baboseiras sem
sentidos.
Um longa em que o painel de personagens está repletos de
clichês, para apresentar um desnível desmesurado e longe de alcançar um
resultado com alguma proposta apreciável. A sensibilidade passou longe e sequer
há um mínimo de sutileza, diante de uma câmera solta captando imagens sem
sentido ou que pudesse contribuir com alguma coisa. Falar em cuidado estético
seria pedir demais e inalcançável para ser respeitado com alguma seriedade para
fazer parte de uma Mostra de Cinema. Não haveria necessidade de ser apelativo,
caso tivesse alguma consistência de estrutura psicológica de personagens. Mereu deve ter pensado em realizar uma comédia felliniana ao
montar um painel de tipos caracterizados na Itália do velho mestre e sua
criação inesgotável, porém parou por aí. As duas meninas adolescentes e amigas
próximas, que no final saberão realmente sobre suas identidades e paternidades finalmente
reveladas, estão na maioria das cenas.
A história é contada na primeira pessoa para a câmera por Cate (Sara Podda) vivendo com seus irmãos na periferia paupérrima da Sardenha de poucas opções, pensa em sair daquele lugar barulhento para ser cantora, embora esteja ali Luna (Maya Mulas), a amiga para todas as horas. Não pensa em ter filho cedo, como sua irmã de 13 anos. Seu pai é um pária que se aposentou por invalidez, embora nunca estivesse doente, ou seja, sua enfermidade é ser um tremendo garanhão obsessivo que ataca todas as mulheres da comunidade. A garotinha busca uma alternativa bizarra para salvar o namoradinho que está ameaçado de morte pelo irmão, o bem dotado, terror das mulheres, tal qual o pai canastrão, porém há o outro irmão com tendência homossexual que sonha em jogar na Cagliari como atleta profissional. A mãe é uma faxineira noturna, mas também aposentada por invalidez e há ainda a piranha que todos pegam.
Bellas Mariposas tinha
tudo para dar certo e ser uma comédia sobre a dignidade humana e seus valores
que se esvaem por circunstâncias familiares de vínculos perdidos e violentados
pelo meio, porém é colocado fora e a ideia de reflexão foi literalmente
liquidada por uma direção inexistente pela falta de conhecimento sobre um
cinema de qualidade aceitável, resulta numa obra infantojuvenil descartável,
além da gritaria desconexa e ruim para os ouvidos desacostumados com baixarias.
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