quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O Estudante
















Políticas de Conchavos

O roteirista Santiago Mitre dos filmes Leonera (2008), Abutres (2010) e Elefante Branco (2012), todos realizados por Pablo Trapero, faz sua estreia como diretor no drama O Estudante, produção de 2011, ano marcado por convulsões sociais nos EUA, Chile e na Europa. Também assina o roteiro e é responsável pela produção que abocanhou 20 prêmios em festivais, entre eles o Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires, Locarno na Itália, Cartagena na Colômbia, Toronto no Canadá, com destaque ainda para o obtido da Associação de Críticos Argentinos.

A trama centra o foco em Roque (Esteban Lamothe), um rapaz recém-chegado de Mar del Plata, que vem cursar na Capital pela terceira vez a faculdade de Ciências Sociais, participa de festas regadas com drogas e bebidas, se envolve emocionalmente com a jovem professora Paula (Romina Paula), uma liderança forte de um dos grupos militantes que está disposto a desbancar da direção estudantil a facção enraizada e com tentáculos vinculados na universidade, em conluio com a reitoria. Antes fizera amizade com uma garota descolada, não muita afeita a relacionamentos sérios. Logo, o aparente ingênuo moço interiorano ingressa na militância política acadêmica, conhece um ex-político engajado que também é professor na universidade, deixa de lado os estudos e novamente compromete sua aprovação, tendo em vista o desleixo para as cadeiras e a alta infrequência em aulas.

"É uma fábula política, sobre o poder e os consensos, mas passada num microcosmo particular: o da universidade pública", afirmou o cineasta à Folha de São Paulo. O drama faz uma razoável síntese e reflete com alguma maturidade sobre a efervescência política estudantil bem próxima da partidária, lotada de cartazes com palavras de ordem e debates políticos recheados de conchavos, coligações e falcatruas, num universo de sujeira, traição e os interesses puramente pessoais. O peronismo é colocado em discussão numa abordagem de mesa de um bar, quando o pai do acadêmico vem visitar-lhe e ali são demonstradas as alianças e seus equívocos que levaram o país à bancarrota pela instabilidade econômica, numa oportuna e adequada atmosfera que cerca a película.

Mitre demonstra ter bons conhecimentos por trás das câmeras, com elipses quase sempre no ponto, boa trilha sonora, fotografia discreta, um elenco interessante numa consistente estrutura dos personagens, embora por vezes peque nos excessos de diálogos e com explicações didáticas demais, trancando a fluidez do desenrolar da história. Recupera-se da metade para a parte final do longa, ao apresentar a capacidade de convencimento e descoberta de vocações de liderança. Não faz concessões no epílogo seco e definitivo para quem espera o fim clássico, soando como redenção do promissor cineasta.

O Estudante é um bom filme sobre a política partidária incrustada no mundo acadêmico das utopias da juventude e os aspectos contraditórios daqueles que querem mudar os rumos da nação, que se deixam levar por vaidades personalíssimas, quando costuram ligações de grupos opostos para chegar ao poder, mesmo que para isto tenham que ferir a ética e pisotear os valores morais dos indivíduos. Há mágoas e rupturas de vínculos mínimos de amizades, tal qual se observa no cotidiano da política de partidos tão desacreditada. A trama de questões que tocam os bastidores é apropriada, mas a forma é exaustiva, por vezes, pelo vazio dos simplismos de cenas didáticas por vícios de raciocínio que consiste em desprezar soluções mais abrangentes, no qual deixa de ser um trabalho mais significativo, embora a obra tenha algumas virtudes como as tensões entre os ideais traídos e a vida pública.

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