Políticas de Conchavos
O roteirista Santiago Mitre dos filmes Leonera (2008), Abutres
(2010) e Elefante Branco (2012),
todos realizados por Pablo Trapero, faz sua estreia como diretor no drama O Estudante, produção de 2011, ano
marcado por convulsões sociais nos EUA, Chile e na Europa. Também assina o
roteiro e é responsável pela produção que abocanhou 20 prêmios em festivais,
entre eles o Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires,
Locarno na Itália, Cartagena na Colômbia, Toronto no Canadá, com destaque ainda
para o obtido da Associação de Críticos Argentinos.
A trama centra o foco em Roque (Esteban Lamothe), um rapaz
recém-chegado de Mar del Plata, que vem cursar na Capital pela terceira vez a
faculdade de Ciências Sociais, participa de festas regadas com drogas e
bebidas, se envolve emocionalmente com a jovem professora Paula (Romina Paula),
uma liderança forte de um dos grupos militantes que está disposto a desbancar
da direção estudantil a facção enraizada e com tentáculos vinculados na
universidade, em conluio com a reitoria. Antes fizera amizade com uma garota
descolada, não muita afeita a relacionamentos sérios. Logo, o aparente ingênuo
moço interiorano ingressa na militância política acadêmica, conhece um
ex-político engajado que também é professor na universidade, deixa de lado os
estudos e novamente compromete sua aprovação, tendo em vista o desleixo para as
cadeiras e a alta infrequência em aulas.
"É uma fábula política, sobre o poder e os consensos, mas
passada num microcosmo particular: o da universidade pública", afirmou o
cineasta à Folha de São Paulo. O drama faz uma razoável síntese e reflete com
alguma maturidade sobre a efervescência política estudantil bem próxima da
partidária, lotada de cartazes com palavras de ordem e debates políticos recheados
de conchavos, coligações e falcatruas, num universo de sujeira, traição e os
interesses puramente pessoais. O peronismo é colocado em discussão numa
abordagem de mesa de um bar, quando o pai do acadêmico vem visitar-lhe e ali
são demonstradas as alianças e seus equívocos que levaram o país à bancarrota pela
instabilidade econômica, numa oportuna e adequada atmosfera que cerca a
película.
Mitre demonstra ter bons conhecimentos por trás das câmeras,
com elipses quase sempre no ponto, boa trilha sonora, fotografia discreta, um
elenco interessante numa consistente estrutura dos personagens, embora por
vezes peque nos excessos de diálogos e com explicações didáticas demais,
trancando a fluidez do desenrolar da história. Recupera-se da metade para a
parte final do longa, ao apresentar a capacidade de convencimento e descoberta
de vocações de liderança. Não faz concessões no epílogo seco e definitivo para
quem espera o fim clássico, soando como redenção do promissor cineasta.
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