Com Outros
O Irã se faz presente na 38ª. Mostra de Cinema de São Paulo através
do pouco eficiente filme Com Outros,
do jovem cineasta estreante em longas Nasser Zamiri. É uma abordagem intimista de
pouco lirismo sobre maternidade e prisão num mundo em transformação cada vez
mais violento e desregrado, ao expor a desonra numa família muçulmana com
seus dogmas e tradições culturais, diante da gravidez inesperada da esposa do companheiro
preso em Teerã, o que não é muito normal para uma mulher, em face da
intransponível fé religiosa.
O ponto de partida está centrado no relacionamento de Arezoo
(Leila Zare- a linda atriz iraniana)
com o marido Amir-Hossein (Babak
Hamidian). O casal entra em crise quando descobre que não pode ter
filhos. Há uma obstinação desenfreada da jovem esposa em ter uma criança, custe
o que custar, com o apoio explícito do esposo, porém sob a vigilância de sua
mãe intrometida e sempre pronta para fustigar a relação. Só existe uma solução:
uma barriga de aluguel, para isto convence Tahereh (Hengameh Ghaziani), amiga próxima e colega de trabalho
de um hospital, que pode abrir um novo horizonte na vida deles. Mas quando
Yaghoub, o ex-marido de Tahereh, sai esporadicamente da prisão, haverá uma complicação
familiar insustentável.
Um filme que fala da obsessão e o amor incondicional pelo
nascimento de um filho, uma contida ternura entre o casal e a dificuldades de
tomar esta atitude mais ousada. Entre eles está o sogro e ao mesmo tempo tio da
mãe de aluguel com seu carinho pela mulher que sustenta bravamente os dois
filhos da relação, por culpa dele que aproximou e incentivou um casamento que
está marcado pela separação, diante do desatino de Yaghoub que cumpre uma pena
por um crime não revelado. Uma trama que parece ingênua, quase simbólica de primos
apaixonados ou casados por circunstâncias.
É uma singela amostragem pouco satisfatória contra a
opressão machista diante da posição da mulher num papel meramente secundário,
sem nenhum poder de interferência ou tentativa de marcar posição na sociedade
muçulmana dominada eminentemente pelos homens. A atitude do casal em busca do
filho é consciente dos terríveis riscos que correm pela quebra dos tabus e
regras sociais. Há um romantismo inconsistente entre os dois e tudo vai bem até
a descoberta da gravidez e a recusa em esclarecer ou assumir a situação caótica
proporcionada.
O clima de tensão é frouxo, o diretor estreante vacila e não
avança, por isto nada acontece. Fica a sugestão de optar entre a honra da
família para manter a preservação como se fosse uma instituição, ou o fato
escondido sem muitas digressões com total ausência de profundidade, sem o efeito
de romper a continuidade de uma farsa pela mudança do enredo tênue e vacilante
para alternativas esclarecedoras naquela comunidade conservadora e obediente
aos dogmas religiosos, além dos tradicionais usos e costumes preponderantes.
Um drama com uma linguagem simples e ineficiente, com um
poder de fogo menor ainda, em que o cineasta reflete a condição feminina de
forma precária. É dada pouca ênfase ao tema proposto, omite a voz da mulher que
poderia ter sonhos e ilusões. Mesmo que esteja na condição de vítima diante da
protagonista, uma pessoa egoísta, mas que age com dedicação e determinação dentro
de uma sociedade conservadora pelos bons costumes na predominância de atitudes
e decisões eminentemente dos homens, inexiste a contestação mais específica.
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