As Bruxas de Zugarramurdi
Uma das aguardadas realizações vem da Espanha na 38ª. Mostra de Cinema em São Paulo, As Bruxas de Zugarramurdi, dirigido pelo espanhol Alex de la Iglesia que dividiu o roteiro com Jorge Guerrica Echevarría. Vencedor de oito Prêmios Goya, incluindo melhor atriz coadjuvante (Terele Pávez). Não é um neófito, antes realizou filmes até interessantes, entre eles os longas Ação Mutante (1993); O Dia da Besta (1995, 20ª Mostra); Perdita Durango (1997); 800 Balas (2002); Crime Ferpeito (2004); Balada do Amor e do Ódio (2010), vencedor dos prêmios de direção e roteiro no Festival de Veneza.
Os espanhóis sempre se notabilizaram por ótimas obras sobre o período do ditador Francisco Franco, morto em 1975. Tanto pelos quadros de Salvador Dalí, Pablo Picasso, como nos filmes de Buñuel, Saura e Almodóvar, entre tantos outros notáveis, de uma lista imensa, quase que interminável. Porém, o mais conhecido dos longas de Iglesia, o resultado não foi nada bom e Balada do Amor e do Ódio não passou de uma comédia equivocada nos seu diagnóstico final, ao abordar o período do franquismo, numa sucessão de erros e gafes intermináveis e desgastantes para um cineasta que pretendia construir uma película com alguma pretensão.
Em sua última realização o cineasta tropeça novamente e seu
resultado é irregular, abalando uma carreira promissora que perde o rumo e o
foco de um cinema sério voltado para as questões sociais, parece estar mais inclinado
para os blockbusters hollywoodianos e
recheados de clichês inapropriados, dirigidos para uma plateia sem exigência e com
viés para o puro entretenimento dos velhos matinês dominicais. Mais do que
isso, expressa a ausência de critérios que permite que o cinema seja dominado por produções que nada acrescentam e integrem um processo destinado a
transformar o espectador num ser desprovido de senso crítico e o faz aumentar
seu distanciamento de obras comprometidas com uma qualidade superior de mínima
reflexão.
As Bruxas de
Zugarramurdi é baseada num caso real ocorrido em Logronõ, no distante ano
de 1610, quando a Inquisição se fez presente e queimou 40 habitantes acusados
de serem bruxas daquela comunidade. O filme conta a história de José (Hugo
Silva), um pai divorciado e um jovem desempregado, Antonio (Mario Casas), que
assaltam uma ourivesaria em Madrid e conseguem levar uma sacola cheia de anéis
de ouro. Tentam fugir para França num táxi, após o roubo espetacular, mas esta
viagem começa a correr mal quando mergulham nos bosques do País Basco. Acabam
nas mãos de uma família de bruxas, com três gerações dominadas essencialmente
por mulheres, sob o prisma do rótulo de feministas extremadas. Tudo acontece no
reinado de Felipe III, um povoado acusado de formas de cultos e bruxarias, impostas
por uma lei de execução dos habitantes, exceto claro, de uma mulher que testemunhou
sobre o caso e que domina as florestas impenetráveis. Além das dificuldades de
fugir das garras das vampiras, enfrentam ainda uma polícia bisonha e arcaica.
Nem as personagens interpretadas como Graciana (Carmen Maura) e sua filha Eva
(Carolina Bang) conseguem salvar a trama diabolizada.
Zugarramurdi é uma vila em Navarra, norte de Espanha, a
cerca de 80 quilômetros
da cidade de Pamplona, também conhecida como A Catedral do Diabo, é conhecida
como a cidade das bruxas, devido aos fatos em seu passado envolvendo as lendas
com o paganismo. Este era o cenário que o cineasta tinha nas mãos e levava o
enredo até a metade do filme dando mostras de uma realização significativa. Chegava
a dar indícios de feitos maiores como Convenção
das Bruxas (1990), de Nicolas Roeg e o clássico A Dança dos Vampiros (1967), de Roman Polanski. Ledo engano, o
roteiro desabou do meio para o epílogo e descambou para o intragável Godzilla (1998), de Roland Emmerich,
refilmado depois em 2014, por Gareth Edwards, próximo de outros estereótipos
antigos da categoria. Nem a grande-mãe, figura horrenda com seios maiores que
as mulheres de Fellini, deu estofo para sustentar o imbróglio. Tudo vira um grande
corre-corre, muitos gritos, sangue jorrando num cenário típico de filmes B. Ou
de videogames em que a brutalidade do grotesco se sobressai no visual e se
sobrepõe à história.
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