Jauja
Uma das surpresas negativas na 38ª. Mostra de Cinema em São
Paulo é Jauja, embora vencedor do
Prêmio da Crítica da Mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes, dirigido pelo
argentino Lisandro Alonso que dividiu o roteiro com Fabian Casas. Não é um
estreante, antes realizou filmes que passaram despercebidos, entre eles La Libertad (2001); Los Muertos (2004), Fantasma
(2006) e Liverpool (2008). A se
julgar por esta sua última realização que aborda os povos antigos que diziam da
existência de uma terra mitológica de abundância e felicidade, a mesma que
empresta o nome ao título do longa, uma experiência que o realizador poderia
ter permanecido nas sombras que abrigam diretores de menor expressão, que só
conseguem destaque graças à bondade que parece estar presente em alguns setores
da crítica.
Com uma paisagem centrada por longos planos fixos na bela composição
fotográfica assinada pelo finlandês Timo Salminen, autor das imagens dos filmes
de seu compatriota Aki Kaurismäki, o longa conta a historia do capitão
uniformizado Gunnar Dinesen (Viggo Mortensen), um colono dinamarquês que
empreende uma louca viagem pela Patagônia para tentar liquidar os ditos cabeças de coco. Tem como companhia a
filha Misael Saavedra (Viilbjork Agger Malling), mas o destino pretendido é um
deserto localizado no fim do mundo. Esta é uma empreitada onde muitos já se
aventuraram, mas poucos conseguiram concluir com sucesso, tendo em vista ser um
lugar de muitos mistérios sobre a existência buscada por ambos, que se
dispersam e perderam as referências de vínculos afetivos.
Alonso não consegue se aproximar de algo mais consistente em
momento algum de seu estéril drama que retrata diversas expedições tentando
encontrar o lugar para comprovar a lenda. O imaginário fez com que ela
crescesse com o tempo de forma desproporcional como reza o lema que todos os
que tentaram encontrar este xangrilá escondido na terra, em que seria um lugar
onde as pessoas vivem como se fosse um paraíso, onde ninguém morre, mas muitos sumiram
pelo caminho. E até o cinema, que aparece como instrumento que capta imagens e
preserva a memória, às vezes é vítima da ineficiência de cineasta despreparado
que se utiliza de relatos passageiros e inconsistentes. Nos momentos finais, na
cena da menina com os cachorros na mansão que vai desembocar no pequeno lago,
tudo soa falso como se ela acordasse de um sonho. Bem que a proposta encaminha
para este desfecho insosso e frio se não fosse utópico e longe da realidade.
A definitiva ausência do pai coloca a filha diante de um
impasse não resolvido, sendo que a trama girou quase que o tempo tudo na
procura pela filha que fugiu com um homem desconhecido. A peregrinação pelo
reencontro tem alguns momentos de inteira desolação e cansaço do protagonista,
como uma demorada caçada num velho western sem ritmo, primando pela repetição desmotivada
de um enredo fragilizado, que não pode criar um clímax de superação dos pobres
personagens infantilizados. Até o encontro com a mulher das cavernas (Ghita Norby)
não tem fluidez suficiente para agregá-la como um indicativo maternal do epílogo
sugerido. As causas são do modorrento roteiro sem inspiração, com criaturas
caminhando sem estrutura psicológica. Há inclusive índios figurando como
elementos perversos, em mais um equívoco da direção nesta concessão imperfeita.
Jauja não avança,
por isto as digressões com total ausência de profundidade, sem o efeito de
romper a continuidade de uma viagem fabular deixa o enredo tênue e vacilante
para alternativas enigmáticas naquele ambiente falso como prenuncia os usos e
costumes preponderantes ali, com pouca ênfase ao tema proposto, omite os sonhos
e ilusões com mais densidade neste filme de resultado pífio e sem autonomia
pela busca de um resultado melhor. Inclui-se nas realizações de formato
experimental pela desconstrução estrutural de uma narrativa com enormes
distorções de um cinema e sua contribuição efetiva, mas pela ambiguidade
adicionada deixa ruir uma análise mais profunda que ficou pelo caminho, também.
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