segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Mostra de Cinema São Paulo (Jauja)


Jauja

Uma das surpresas negativas na 38ª. Mostra de Cinema em São Paulo é Jauja, embora vencedor do Prêmio da Crítica da Mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes, dirigido pelo argentino Lisandro Alonso que dividiu o roteiro com Fabian Casas. Não é um estreante, antes realizou filmes que passaram despercebidos, entre eles La Libertad (2001); Los Muertos (2004), Fantasma (2006) e Liverpool (2008). A se julgar por esta sua última realização que aborda os povos antigos que diziam da existência de uma terra mitológica de abundância e felicidade, a mesma que empresta o nome ao título do longa, uma experiência que o realizador poderia ter permanecido nas sombras que abrigam diretores de menor expressão, que só conseguem destaque graças à bondade que parece estar presente em alguns setores da crítica.

Com uma paisagem centrada por longos planos fixos na bela composição fotográfica assinada pelo finlandês Timo Salminen, autor das imagens dos filmes de seu compatriota Aki Kaurismäki, o longa conta a historia do capitão uniformizado Gunnar Dinesen (Viggo Mortensen), um colono dinamarquês que empreende uma louca viagem pela Patagônia para tentar liquidar os ditos cabeças de coco. Tem como companhia a filha Misael Saavedra (Viilbjork Agger Malling), mas o destino pretendido é um deserto localizado no fim do mundo. Esta é uma empreitada onde muitos já se aventuraram, mas poucos conseguiram concluir com sucesso, tendo em vista ser um lugar de muitos mistérios sobre a existência buscada por ambos, que se dispersam e perderam as referências de vínculos afetivos.

Alonso não consegue se aproximar de algo mais consistente em momento algum de seu estéril drama que retrata diversas expedições tentando encontrar o lugar para comprovar a lenda. O imaginário fez com que ela crescesse com o tempo de forma desproporcional como reza o lema que todos os que tentaram encontrar este xangrilá escondido na terra, em que seria um lugar onde as pessoas vivem como se fosse um paraíso, onde ninguém morre, mas muitos sumiram pelo caminho. E até o cinema, que aparece como instrumento que capta imagens e preserva a memória, às vezes é vítima da ineficiência de cineasta despreparado que se utiliza de relatos passageiros e inconsistentes. Nos momentos finais, na cena da menina com os cachorros na mansão que vai desembocar no pequeno lago, tudo soa falso como se ela acordasse de um sonho. Bem que a proposta encaminha para este desfecho insosso e frio se não fosse utópico e longe da realidade.

A definitiva ausência do pai coloca a filha diante de um impasse não resolvido, sendo que a trama girou quase que o tempo tudo na procura pela filha que fugiu com um homem desconhecido. A peregrinação pelo reencontro tem alguns momentos de inteira desolação e cansaço do protagonista, como uma demorada caçada num velho western sem ritmo, primando pela repetição desmotivada de um enredo fragilizado, que não pode criar um clímax de superação dos pobres personagens infantilizados. Até o encontro com a mulher das cavernas (Ghita Norby) não tem fluidez suficiente para agregá-la como um indicativo maternal do epílogo sugerido. As causas são do modorrento roteiro sem inspiração, com criaturas caminhando sem estrutura psicológica. Há inclusive índios figurando como elementos perversos, em mais um equívoco da direção nesta concessão imperfeita.

Jauja não avança, por isto as digressões com total ausência de profundidade, sem o efeito de romper a continuidade de uma viagem fabular deixa o enredo tênue e vacilante para alternativas enigmáticas naquele ambiente falso como prenuncia os usos e costumes preponderantes ali, com pouca ênfase ao tema proposto, omite os sonhos e ilusões com mais densidade neste filme de resultado pífio e sem autonomia pela busca de um resultado melhor. Inclui-se nas realizações de formato experimental pela desconstrução estrutural de uma narrativa com enormes distorções de um cinema e sua contribuição efetiva, mas pela ambiguidade adicionada deixa ruir uma análise mais profunda que ficou pelo caminho, também.

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