Um Pombo Pousou num
Galho Refletindo Sobre a Existência
Surge um dos melhores filmes da 38ª. Mostra de Cinema de São Paulo, o notável Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência faz uma reflexão profunda sobre a existência e o sentido da vida, seguindo o título já analítico da comédia dramática. Foi o grande Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza deste ano, com a impecável direção e roteiro do sueco Roy Andersson, que realizou seu primeiro filme ao se formar em cinema, no ano de 1969, com A Swedish Love Story. Dirigiu vários curtas com o estilo de tomadas longas. Na Mostra de São Paulo esteve presente com Vocês, os Vivos (2007) e Canções do Segundo Andar (2000), no qual venceu o Grande Prêmio do Júri em Cannes.
Com uma trama aparentemente simples, mas logo se evidencia a complexidade de um tema filosófico sobre o existencialismo através de dois homens cansados da vida que estão viajando a negócios. Ao melhor estilo de Groucho Marx, um comediante norte-americano celebrizado como um dos mestres do humor, Sam (Nils Westblom) e Jonathan (Holger Andersson) são dois vendedores ambulantes de artefatos engraçados que estão cansados do mundo. Uma bela construção de dois personagens consistentes dentro de suas fragilidades emocionais, vencedores ou vencidos, não importa, diante das circunstâncias que levam a vida. É um salto sobre o caos no mundo moderno, quase que apocalíptico pela sugestão derrotista da dupla em estado de pura reflexão sobre o futuro da humanidade.
Com uma trama aparentemente simples, mas logo se evidencia a complexidade de um tema filosófico sobre o existencialismo através de dois homens cansados da vida que estão viajando a negócios. Ao melhor estilo de Groucho Marx, um comediante norte-americano celebrizado como um dos mestres do humor, Sam (Nils Westblom) e Jonathan (Holger Andersson) são dois vendedores ambulantes de artefatos engraçados que estão cansados do mundo. Uma bela construção de dois personagens consistentes dentro de suas fragilidades emocionais, vencedores ou vencidos, não importa, diante das circunstâncias que levam a vida. É um salto sobre o caos no mundo moderno, quase que apocalíptico pela sugestão derrotista da dupla em estado de pura reflexão sobre o futuro da humanidade.
István Borbás e Gergely Pálos são os responsáveis pela bela
fotografia esmaecida em tons pastéis com visão de dor e tristeza, dentro do
silêncio onipresente ambientadas nas cenas de elipse criativa que dá brilho aos
olhos, dentro do apreciável formalismo de um universo deslumbrante em que o
cineasta dá uma visão de esperança, embora minúscula, mas que faz os dois
desencantados enxergarem um mundo repleto de pequenos momentos únicos no
cotidiano, com um bálsamo de sonhos para dar imaginação às fantasias. Tudo é
muito complexo dentro de uma analogia que vem das boas lembranças de grandeza de
uma vida tênue pelas fragilidades do ser humano vulnerável.
Por vezes nem parece uma comédia dramática, ao oscilar para
o drama melancólico, faz deste um filme maior pelo humor corrosivo, satiriza o
rei e sua arrogante tropa que vão para a guerra e voltam alquebrados, embora
mantenha a pomba dos superiores que perderam, com a empáfia dos sangues azuis
hipócritas e tiranos. Aqueles dois homens moribundos a tudo assistem como
fantasmas ambulantes que vendem uma alegria inexistente para os fregueses, pois
paradoxalmente são tristonhos e visivelmente pessimistas. Comercializam dentes
de vampiros, sacos de risadas e máscaras horrendas que assustam mais do que
provocar risos. Ninguém acredita neles e nas mercadorias ultrapassadas e
ingênuas, sequer na forma de alegoria como transposição à civilização.
O drama Winter Sleep
(2014), do turco Nuri Bilge Ceylan, faz uma abordagem do mesmo tema existencial,
aprofunda-se nos diálogos doloridos com questionamentos implacáveis, através do
extremo realismo de cenas que retratam os efeitos do tédio. Já Andersson faz um
filme complexo que deriva para o desencanto humano e a civilização colocada em
xeque, como na cena do macaco sendo torturado psicologicamente, que remete para
o início da criatura, hoje hostil e perversa, ligada num celular discute a
relação e pouco se importa com o animal no estado de vítima. Ou ainda no
pesadelo do protagonista que sonha com os negros sendo queimados vivos dentro
de um tambor enorme com esboço de sistema de som, saindo fumaça preta de um
lado. Ou seja, desta vez não foi o Nazismo embrutecido de Hitler que pratica o
holocausto, mas os escravos sendo chicoteados covardemente que ardem no fogo do
inferno.
A trilha sonora é também fundamental e preponderante para o
desenvolvimento do clímax entediante que sufoca como se o espectador estivesse
num claustro. Mas o diretor compensa com um humor sutil na deliciosa paródia musical
que soa como o hino religioso Glória,
Glória, Aleluia. Outro achado da direção é o personagem que ouve uma canção
no quarto do hotel até a madrugada, desata numa melancolia incontrolável, fica
triste porque não quer se encontrar com os pais no paraíso, refuta o reencontro
e desaba como um farrapo. Não é à toa o filme ter no prólogo três atos sobre a
morte, anunciando situações como esta no inovador e singular roteiro que dribla
a plateia com tiradas bem-humoradas, para depois jogá-la novamente para a
reflexão da existência e seu sentido.
A dor da vida e do cotidiano com escassos recursos
financeiros, tanto pode ser num dos tempos indicados: 1943, como nos dias
atuais. Um filme perturbador pelo dolorido sentimento de derrota, em que há um
leve sorriso das situações embaraçosas que se misturam. A câmera que percorre o
cenário silenciosamente deixa espaço para meditar sobre um profundo mergulho na
alma partida e sua lucidez perdida neste fabuloso Um Pombo Pousou...de emoções contidas e equilibradas sem apelar
nunca para o melodrama.
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