Sonata Silenciosa
Outro filme sem maiores referências que está na 36ª. Mostra de Cinema de São Paulo é este sofrível Sonata Silenciosa, uma coprodução da Eslovênia com a Finlândia e Suécia. É o terceiro longa-metragem do neófito diretor eslavo Janez Burger, que tem em sua filmografia outros dois longas desconhecidos, como o inédito Idle Running (1999) e Ruins (2004).
Este filme sem diálogos é um retrato sobre um cenário de guerra e
mortes com a esperança de que a vida possa ter vez e prosperar com a chegada de
uma caravana errante do Circus
Fantasticus, bem próximo de uma residência e seus traumas. Lá mora um homem
solitário acompanhado de seus dois filhos numa casa em ruínas no meio de um
campo em estado desolador por consequência dos traumas da guerra. Acaba de
morrer a esposa e mãe de seus filhos acidentalmente por uma granada durante uma
investida militar feroz. Vive pensando que será atacado novamente e a morte
ronda esta família vitimizada pelo terror dos confrontos bélicos.
Um filme sobre os efeitos da guerra e sinais evidentes ainda
das bombas explodindo. Nem o tanque de guerra com seu soldado que ousa brincar
com os palhaços do circo itinerante consegue escapar de uma certeira pontaria
vinda de um inimigo oculto. A explosão violenta que levanta para os ares aquele
intransponível carro-tanque é o símbolo da violência exacerbada e fora de
controle do homem civilizado. Mas a película tem erros primários como a previsibilidade
amorosa do viúvo com uma das componentes circense, bem como a garota órfã de
mãe com outro integrante do comboio itinerante. Há a cena fria do passeio pela
praia do casal enamorado e o encontro com os corpos dilacerados na areia parecendo
normal e servindo de brincadeira e um lirismo ingênuo. Também o excesso da
apresentação circense com acrobacias, um homem engolidor de fogo, outro fazendo
mágica barata, soa como desnecessária e cai na sonolenta basbaquice.
O cineasta perde o tempo e o momento certo para a ilusão de
ótica na simbolizada cena solta no roteiro do velhinho recém-morto. Outro
exagero de um iniciante cineasta é a tosse sufocante e tediosa do longo
plano-sequência, que não seria realizado por um diretor um pouco mais
experiente, pois uma elipse cairia bem e daria o tom correto e digno de uma
sequência de melhor qualidade. Burger também se perde com as aparições da esposa em forma
de fantasma, pois vinha bem conduzida até a cena da aliança ser jogada para o
filho. Uma licença poética tem limites e não pode cair no artificialismo
infantil do suposto corte do vínculo matrimonial. É desnecessário tal forçação
de barra, com a iminente quebra de credibilidade autoral do realizador da obra.
Um drama mudo, com apenas sons do vento, da chuva, bombas
explodindo e da respiração dos personagens angustiados pela guerra seria bem
conduzido, se fosse um diretor como Ettore Scola na obra-prima O Baile (1983), dando uma dimensão exata
de um país sendo atacado e a resistência francesa sendo massacrada; ou no
excelente O Artista (2011), de Michel
Hazanavicius, que levou a estatueta de melhor filme e tornou-se o grande
vencedor da 84ª edição do Oscar deste ano. Faltou talento de condução para um
filme completamente sem diálogos.
Sonata Silenciosa
tem jeito de um longa pretensioso dentro de uma trama que tinha tudo para dar
certo, porém é jogado fora este bom tema por Burger, que tenta mesclar drama de
guerra com uma fábula adulta e o resultado piora ainda mais. Falta estrutura e
um pouco mais de emoção e menos artificialismos num cenário de derrocada
institucional, com planos equivocados sequenciais e muita previsibilidade para
um roteiro sem grandes armadilhas.
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