domingo, 28 de outubro de 2012

Mostra de Cinema São Paulo (Sonata Silenciosa)



Sonata Silenciosa

Outro filme sem maiores referências que está na 36ª. Mostra de Cinema de São Paulo é este sofrível Sonata Silenciosa, uma coprodução da Eslovênia com a Finlândia e Suécia. É o terceiro longa-metragem do neófito diretor eslavo Janez Burger, que tem em sua filmografia outros dois longas desconhecidos, como o inédito Idle Running (1999) e Ruins (2004).

Este filme sem diálogos é um retrato sobre um cenário de guerra e mortes com a esperança de que a vida possa ter vez e prosperar com a chegada de uma caravana errante do Circus Fantasticus, bem próximo de uma residência e seus traumas. Lá mora um homem solitário acompanhado de seus dois filhos numa casa em ruínas no meio de um campo em estado desolador por consequência dos traumas da guerra. Acaba de morrer a esposa e mãe de seus filhos acidentalmente por uma granada durante uma investida militar feroz. Vive pensando que será atacado novamente e a morte ronda esta família vitimizada pelo terror dos confrontos bélicos.

Um filme sobre os efeitos da guerra e sinais evidentes ainda das bombas explodindo. Nem o tanque de guerra com seu soldado que ousa brincar com os palhaços do circo itinerante consegue escapar de uma certeira pontaria vinda de um inimigo oculto. A explosão violenta que levanta para os ares aquele intransponível carro-tanque é o símbolo da violência exacerbada e fora de controle do homem civilizado. Mas a película tem erros primários como a previsibilidade amorosa do viúvo com uma das componentes circense, bem como a garota órfã de mãe com outro integrante do comboio itinerante. Há a cena fria do passeio pela praia do casal enamorado e o encontro com os corpos dilacerados na areia parecendo normal e servindo de brincadeira e um lirismo ingênuo. Também o excesso da apresentação circense com acrobacias, um homem engolidor de fogo, outro fazendo mágica barata, soa como desnecessária e cai na sonolenta basbaquice.

O cineasta perde o tempo e o momento certo para a ilusão de ótica na simbolizada cena solta no roteiro do velhinho recém-morto. Outro exagero de um iniciante cineasta é a tosse sufocante e tediosa do longo plano-sequência, que não seria realizado por um diretor um pouco mais experiente, pois uma elipse cairia bem e daria o tom correto e digno de uma sequência de melhor qualidade. Burger também se perde com as aparições da esposa em forma de fantasma, pois vinha bem conduzida até a cena da aliança ser jogada para o filho. Uma licença poética tem limites e não pode cair no artificialismo infantil do suposto corte do vínculo matrimonial. É desnecessário tal forçação de barra, com a iminente quebra de credibilidade autoral do realizador da obra.

Um drama mudo, com apenas sons do vento, da chuva, bombas explodindo e da respiração dos personagens angustiados pela guerra seria bem conduzido, se fosse um diretor como Ettore Scola na obra-prima O Baile (1983), dando uma dimensão exata de um país sendo atacado e a resistência francesa sendo massacrada; ou no excelente O Artista (2011), de Michel Hazanavicius, que levou a estatueta de melhor filme e tornou-se o grande vencedor da 84ª edição do Oscar deste ano. Faltou talento de condução para um filme completamente sem diálogos.

Sonata Silenciosa tem jeito de um longa pretensioso dentro de uma trama que tinha tudo para dar certo, porém é jogado fora este bom tema por Burger, que tenta mesclar drama de guerra com uma fábula adulta e o resultado piora ainda mais. Falta estrutura e um pouco mais de emoção e menos artificialismos num cenário de derrocada institucional, com planos equivocados sequenciais e muita previsibilidade para um roteiro sem grandes armadilhas.

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