Os Selvagens
Outro filme que decepciona 36ª. Mostra de Cinema de São
Paulo é Os Selvagens, também exibido
na Semana da Crítica no Festival de Cannes deste ano. Vem da Argentina em
formato de um misto de faroeste com drama rural, tendo na direção o estreante em longas Alejandro
Fadel , que já dirigiu três curtas e foi corroteirista de
Pablo Trapero em Leonera (2008), Abutres (2011) e o inédito Elefante Branco (2012).
A trama gira em torno de cinco adolescentes que fogem de um
reformatório de uma província na Argentina. O diretor centra nos quatro rapazes
e uma moça sempre drogados na busca da almejada liberdade para dar continuidade
às suas vidas marcadas por crimes, roubos e assassinatos de familiares. Fadel não consegue manter a intensidade da dramaticidade
como no longa iraniano O Caçador (2010), de
Rafi Pitts, onde o protagonista tem como passatempo se embrenhar na floresta e
caçar para aliviar as tensões do trabalho e o estresse da vida cotidiana e
monótona para buscar a paz entre as árvores e a caça como entretenimento e
refúgio de dias passados atrás das grades e uma tragédia que se prenuncia.
Os Selvagens
começa com bastante fôlego na peregrinação dos garotos por dentro de uma floresta
com mais de cem quilômetros. Eles buscam uma saída andando a pé, demonstrando
fatiga e divergências de lideranças dentro do grupo. Caçam porcos do mato,
também conhecidos como javalis, comem galinhas, entram em casas antigas para
roubar e matar a sangue frio, sem dó e nem piedade, sempre sob o efeito de
drogas potentes como a cocaína. Mas o cineasta erra a mão e torna este longa, que tinha tudo
para ser um bom filme, em apenas uma realização razoável diante de seus enormes
defeitos estruturais e frágeis, embora tivesse uma proposta abrangente de seres
atormentados e em fuga pela liberdade na busca de um espaço. Ao mesclar a
coragem com buscas espirituais e alguns rituais que se tornam enfadonhos,
tentando acreditar em mudanças sobrenaturais. Surge ainda a patética figura do homem
eremita com a bandeira surrada da Argentina hasteada em sua casa fincada no
meio do matagal, apenas balbucia que matou uma jovem que perguntava demais. Fica
como uma peça solta da engrenagem à deriva de um roteiro esfacelado.
Não houve uma reflexão e sequer uma análise mais profunda
das causas e efeitos daqueles jovens que passaram a conviver como silvícolas,
exceto algumas insinuações pueris. Ou na construção psicológica do
abrutalhamento de seres animalescos, embora juvenis, ainda que demonstrando
ligeira doçura nas relações sexuais. O drama peca do meio para o final, quando o roteiro perde
harmonia e contundência naquela viagem progressiva rumo ao desconhecido ou um
imaginário criado pelos personagens para tentar manterem-se com esperanças. Mas
a monotonia começa a tomar conta do enredo e a mesmice se torna completa,
deixando traços de insatisfação nos espectadores e a perda completa do controle
do filme, que desce ladeira abaixo nos minutos finais.
O longa perde o sentido e o rumo do objetivo principal que é
manter-se para uma nova vida. Porém, os resultados estéticos e reflexivos
ficaram longe do desejado, reduzindo um bom projeto para uma obra menor e
precária.
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