segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mostra de Cinema São Paulo (Os Selvagens)














Os Selvagens

Outro filme que decepciona 36ª. Mostra de Cinema de São Paulo é Os Selvagens, também exibido na Semana da Crítica no Festival de Cannes deste ano. Vem da Argentina em formato de um misto de faroeste com drama rural, tendo na direção o estreante em longas Alejandro Fadel, que já dirigiu três curtas e foi corroteirista de Pablo Trapero em Leonera (2008), Abutres (2011) e o inédito Elefante Branco (2012).

A trama gira em torno de cinco adolescentes que fogem de um reformatório de uma província na Argentina. O diretor centra nos quatro rapazes e uma moça sempre drogados na busca da almejada liberdade para dar continuidade às suas vidas marcadas por crimes, roubos e assassinatos de familiares. Fadel não consegue manter a intensidade da dramaticidade como no longa iraniano O Caçador (2010), de Rafi Pitts, onde o protagonista tem como passatempo se embrenhar na floresta e caçar para aliviar as tensões do trabalho e o estresse da vida cotidiana e monótona para buscar a paz entre as árvores e a caça como entretenimento e refúgio de dias passados atrás das grades e uma tragédia que se prenuncia.

Os Selvagens começa com bastante fôlego na peregrinação dos garotos por dentro de uma floresta com mais de cem quilômetros. Eles buscam uma saída andando a pé, demonstrando fatiga e divergências de lideranças dentro do grupo. Caçam porcos do mato, também conhecidos como javalis, comem galinhas, entram em casas antigas para roubar e matar a sangue frio, sem dó e nem piedade, sempre sob o efeito de drogas potentes como a cocaína. Mas o cineasta erra a mão e torna este longa, que tinha tudo para ser um bom filme, em apenas uma realização razoável diante de seus enormes defeitos estruturais e frágeis, embora tivesse uma proposta abrangente de seres atormentados e em fuga pela liberdade na busca de um espaço. Ao mesclar a coragem com buscas espirituais e alguns rituais que se tornam enfadonhos, tentando acreditar em mudanças sobrenaturais. Surge ainda a patética figura do homem eremita com a bandeira surrada da Argentina hasteada em sua casa fincada no meio do matagal, apenas balbucia que matou uma jovem que perguntava demais. Fica como uma peça solta da engrenagem à deriva de um roteiro esfacelado.

Não houve uma reflexão e sequer uma análise mais profunda das causas e efeitos daqueles jovens que passaram a conviver como silvícolas, exceto algumas insinuações pueris. Ou na construção psicológica do abrutalhamento de seres animalescos, embora juvenis, ainda que demonstrando ligeira doçura nas relações sexuais. O drama peca do meio para o final, quando o roteiro perde harmonia e contundência naquela viagem progressiva rumo ao desconhecido ou um imaginário criado pelos personagens para tentar manterem-se com esperanças. Mas a monotonia começa a tomar conta do enredo e a mesmice se torna completa, deixando traços de insatisfação nos espectadores e a perda completa do controle do filme, que desce ladeira abaixo nos minutos finais.

O longa perde o sentido e o rumo do objetivo principal que é manter-se para uma nova vida. Porém, os resultados estéticos e reflexivos ficaram longe do desejado, reduzindo um bom projeto para uma obra menor e precária.

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