Indignados
A trajetória do misto de documentário com ficção de Indignados é basicamente centrada na
figura da africana Betty (Mamebetthy Honoré Diallo) e seu périplo por países
europeus. Uma jovem imigrante que foge de seu país, para aventurar-se pela
Grécia, França Turquia e Espanha, num momento difícil destes povos que estão em
iminente efervescência de uma crise econômica inimaginável.
Indignados aborda
um tema universal que é a ilegalidade dos imigrantes e seus ingressos na
sociedade, oriundos da África e Ásia na sua maioria. O filme é muito simples na
sua estética, um documentário aparentemente realizado para um canal de
televisão ou propaganda eleitoral de algum partido, onde o choque cultural da
africana é mostrado em longos planos de sequência, cansativos e enfadonhos,
causando enormes bocejos na platéia. As manifestações de ruas são vazias e os
gritos de revolta da população estão sempre acompanhados do forte componente do
panfleto demagógico, sem grandes rodeios ou simbologias das desgraças sociais.
O longa não tem a profundidade de um filme como O Porto (2011), do finlandês Aki
Karismäki, que aborda o sofrimento e a ojeriza de uma casta que vira as costas,
fruto da xenofobia racial, com um olhar de misericórdia e esperança, nem de
Claire Denis no instigante Minha Terra,
África (2009); ou do arrasador O
Segredo do Grão (2007), do tunisiano Abdellatif Kechiche; ou ainda do
contundente Cachê (2003), de Michael
Haneke; ou do recente campeão de bilheteria Intocáveis
(2012), de Eric Toledano e Olivier Nakache, sobre uma história real de uma
inesperada amizade genuína, entre um milionário tetraplégico e um ex-assaltante
de uma joalheria, um imigrante do Senegal que busca seu reingresso social na
França dos brancos.
O diretor Tony Gatlif exagera nas simbologias, como da
latinha descendo ladeira abaixo ao som de uma trilha sonora enervante; ou ainda
das laranjas indo parar dentro do barco, esta sim uma metáfora inteligente
sobre a vida e os sem rumos que se encontram todos no mesmo lugar. Peca com os
excessos de planos de ruas ou na interminável apresentação teatral. Arroubos
infanto-juvenil são passados como se fossem um protesto edificante, longe de Cosmópolis (2012), que se debruça sobre
a derrocada do Capitalismo, dirigido pelo canadense David Cronenberg, em mais
um filme experimental de sua cinebiografia.
O cineasta se deixa levar pelos impulsos e ojerizas contra
tudo e contra todos, como num manifesto de rebeldes sem causa, embora tivesse
um bom conteúdo como do Movimento Ocupe
que se espalhou pela Europa, onde homens e mulheres lutavam contra os poderosos,
vistos pelo olhar da moça negra ao confrontar uma dura realidade de uma
implosão social que aos poucos vai encontrando pessoas pelo caminho, juntando-se
como um ato de solidariedade, buscando colocar valores humanísticos no centro
do sistema em decomposição.
Eis um longa-metragem pretensioso, porém é jogado fora este bom
tema por Gatlif, por escassez de harmonia e por não saber conter a ansiedade do
contraditório. Erra feio a mão por exceder na linguagem e deixar em falta a
dramaticidade numa trama que tinha tudo para dar certo. Faltou talento e sobrou
revanchismo numa abordagem que se tornou tola e beirando a idiotice, diante da
babaquice do cineasta. Lamentável e quem puder fuja de Indignados na 36ª. Mostra de Cinema de São Paulo deste ano.
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