domingo, 21 de outubro de 2012

Mostra de Cinema São Paulo (Indignados)














Indignados

A trajetória do misto de documentário com ficção de Indignados é basicamente centrada na figura da africana Betty (Mamebetthy Honoré Diallo) e seu périplo por países europeus. Uma jovem imigrante que foge de seu país, para aventurar-se pela Grécia, França Turquia e Espanha, num momento difícil destes povos que estão em iminente efervescência de uma crise econômica inimaginável.

Indignados aborda um tema universal que é a ilegalidade dos imigrantes e seus ingressos na sociedade, oriundos da África e Ásia na sua maioria. O filme é muito simples na sua estética, um documentário aparentemente realizado para um canal de televisão ou propaganda eleitoral de algum partido, onde o choque cultural da africana é mostrado em longos planos de sequência, cansativos e enfadonhos, causando enormes bocejos na platéia. As manifestações de ruas são vazias e os gritos de revolta da população estão sempre acompanhados do forte componente do panfleto demagógico, sem grandes rodeios ou simbologias das desgraças sociais.

O longa não tem a profundidade de um filme como O Porto (2011), do finlandês Aki Karismäki, que aborda o sofrimento e a ojeriza de uma casta que vira as costas, fruto da xenofobia racial, com um olhar de misericórdia e esperança, nem de Claire Denis no instigante Minha Terra, África (2009); ou do arrasador O Segredo do Grão (2007), do tunisiano Abdellatif Kechiche; ou ainda do contundente Cachê (2003), de Michael Haneke; ou do recente campeão de bilheteria Intocáveis (2012), de Eric Toledano e Olivier Nakache, sobre uma história real de uma inesperada amizade genuína, entre um milionário tetraplégico e um ex-assaltante de uma joalheria, um imigrante do Senegal que busca seu reingresso social na França dos brancos.

O diretor Tony Gatlif exagera nas simbologias, como da latinha descendo ladeira abaixo ao som de uma trilha sonora enervante; ou ainda das laranjas indo parar dentro do barco, esta sim uma metáfora inteligente sobre a vida e os sem rumos que se encontram todos no mesmo lugar. Peca com os excessos de planos de ruas ou na interminável apresentação teatral. Arroubos infanto-juvenil são passados como se fossem um protesto edificante, longe de Cosmópolis (2012), que se debruça sobre a derrocada do Capitalismo, dirigido pelo canadense David Cronenberg, em mais um filme experimental de sua cinebiografia.

O cineasta se deixa levar pelos impulsos e ojerizas contra tudo e contra todos, como num manifesto de rebeldes sem causa, embora tivesse um bom conteúdo como do Movimento Ocupe que se espalhou pela Europa, onde homens e mulheres lutavam contra os poderosos, vistos pelo olhar da moça negra ao confrontar uma dura realidade de uma implosão social que aos poucos vai encontrando pessoas pelo caminho, juntando-se como um ato de solidariedade, buscando colocar valores humanísticos no centro do sistema em decomposição.

Eis um longa-metragem pretensioso, porém é jogado fora este bom tema por Gatlif, por escassez de harmonia e por não saber conter a ansiedade do contraditório. Erra feio a mão por exceder na linguagem e deixar em falta a dramaticidade numa trama que tinha tudo para dar certo. Faltou talento e sobrou revanchismo numa abordagem que se tornou tola e beirando a idiotice, diante da babaquice do cineasta. Lamentável e quem puder fuja de Indignados na 36ª. Mostra de Cinema de São Paulo deste ano.

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