segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mostra de Cinema São Paulo (Na Sua Ausência)
















Na Sua Ausência

Surge um candidato forte ao melhor filme da 36ª. Mostra de Cinema de São Paulo deste ano, o magnífico longa-metragem francês Na Sua Ausência, dirigido pela outrora ótima atriz e agora estreando atrás das câmeras Sandrine Bonnaire. Mostra-se uma diretora competente e seu primeiro filme já dá sinais de ser plenamente autoral.

A trama começa com Jacques (William Hurt- de desempenho exemplar) retornando dos EUA para a França, depois de dez anos de ausência de seu país natal, para cuidar do funeral de seu pai, que estava separado de sua mãe, uma americana que vivia com ele na América do Norte. Deixara seu país após a morte e seu filho de apenas sete anos, decorrente de um acidente de carro. Ao retornar encontra a ex-mulher Mado (Alexandra Lamy) já casada e com um filho da mesma idade do morto, de aspecto feliz e aparenta ter esquecido o passado trágico. Bonnaire mostra o tenso e comovente reencontro de Mado com Jacques, onde as aparências do passado surgem e se confundem com um presente fragilizado pelos fantasmas que querem retornar. O retorno à casa da ex-mulher e sua instalação secreta no porão é o começo da degradação e do desespero que irá ir ao encontro da família hostilizada pelo passado.

O longa mostra uma tentativa desesperada de reaproximação com o filho de Mado. Tudo é feito por Jacques para resgatar e recriar a relação existente entre pai e filho até o fato trágico. A culpa e o sentimento que assolam aquele pai transtornado, em vias de perder a estabilidade emocional, são bem retratados pela diretora e atinge um clímax de alta tensão, embalados pela adequada e bela trilha sonora. A cineasta lança mão de um expediente perigoso, mas acaba por se dar muito bem, ao desenvolver com dramaticidade em alta tensão a morte de uma criança inocente e jogar a culpa aparente para que o pai assuma inteiramente, levando até as últimas consequências, inclusive desfazendo-se de seu patrimônio para tentar beneficiar um terceiro e apagar de sua consciência aquele sentimento latejante e dolorido da culpa que o corrói.

Este é um tema frequente no cinema, mas o filme mais contundente dos últimos anos é o extraordinário Anticristo (2009), de Lars Von Trier, abordando um casal devastado com morte do único filho muda-se para uma casa no meio da floresta para superar o episódio, tentando supera a dor do luto e o desespero da mãe, desencadeia-se uma gama de acontecimentos misteriosos e assustadores. Na Sua Ausência é um filme que já se insere como um grande observador pela reflexão da culpa vista como excesso e do sentimento que lateja na alma do suposto culpado que começa a perder a lucidez e a afundar-se num terrível destroçamento humano e a desconstituição de uma pessoa traumatizada pela perda.

O filme é uma sequência de desatinos da sedução e em busca de uma paternidade construída pela fobia da morte. Ao mostrar a distorção comportamental de um protagonista em total decomposição, como um farrapo humano, a diretora lança um olhar de compaixão ao perdoá-lo no epílogo, dando um rumo de destino duro, mas dentro de uma realidade verossímil, através da ação enérgica de atitude do outro pai vitimizado pelo contexto e do imbróglio de circunstâncias alheias aspiradas. Um longa de personagens fortes em sua construção, embora fragilizados pelas circunstâncias que dão consistência para este fabuloso suspense psicológico familiar.

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