sábado, 31 de outubro de 2009

Mostra de Cinema São Paulo (Insolação)

















Insolação

Há filmes que têm tudo para dar certo, com um grande elenco, a começar pelo magnífico Paulo José, passando pelo sempre bom Leonardo Oliveira na companhia de seu filho Antônio Medeiros, Simone Spoladore, Maria Luiza Mendonça, Leandra Leal, André Frateschi, Daniela Piepsyk e Emílio di Biasi, entre tantos outros. Tem uma bela trilha sonora composta por Arthur de Faria, uma boa fotografia com um cenário sob medida.

Acontece que Insolação tudo dá errado num tema de solidão em uma cidade vazia pela frieza e a ausência de calor humano, a falta de amor entre velhos e jovens que se confundem numa Brasília distante e corroída pelos fantasmas da morte, alicerçada na utopia dos contos da literatura russa, não funcionam apesar do esforço. Peca a montagem, com uma pífia direção de Felipe Hirsch e Daniela Thomas, com um roteiro fragilizado pelas pretensões poéticas, distante porém de uma qualidade mais efetiva e sem uma mínima verossimilhança.

Um filme não precisa ter início, meio e fim. Longe disso, mas a lógica e o cinema como um todo se faz necessário, para não torná-lo chato e arrastado com repetições vagas e tênues de desinteligência. Ora, repetir várias vezes "por favor, um café", é brincar com a eloquência de uma continuação lógica e fundindo os ouvidos mais perceptivos, minando os neurônios à espera de uma inovação de cena.

Insolação lembra dois filmes com a mesma estética narrativa pelas complicadas metáforas poéticas, como A Via Láctea (2007) e O Signo da Cidade (2008). Ambos fracassaram em seus propósitos e objetivos, sendo verdadeiros fiascos de bilheteria e crucificados pela crítica mais isenta de apadrinhamentos. O tema proposto foi bem abordado em Brasília 18% (2006), dirigido por Nélson Pereira dos Santos, um dos mais experientes e melhores diretores brasileiros. Aprofundou Brasília sem perfumaria, deixando a poesia para outros filmes em ocasiões mais apropriadas, com personagens de corpo e alma, sem parecerem robôs orbitando a lua na procura do sol.

Se na Mostra de São Paulo houvesse premiação para os piores filmes, assim como há uma paródia ao Oscar, com a estatueta de Framboesa de Ouro, esta teria teria um forte candidato, o inconsequente e confuso Insolação. A filmografia brasileira merece algo melhor, assim como o brilhante Hotel Atlântico, simples e com uma reflexão perturbadora, com suas revelações típicas de um "cinema de autor".

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