quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Mostra de Cinema São Paulo (Abraços Partidos)



Abraços Partidos

Está de volta o talento e o melhor estilo que consagrou Pedro Almodóvar com este brilhante Abraços Partidos, última realização deste genial cineasta espanhol, que estava devendo um grande filme; ou melhor, dois filmes, pois realizou um dentro do outro, com todo seu charme, elegância e irreverência, que lembra o inesquecível Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), não pela semelhança, mas pela estética e pelos desdobramentos.

Se em Volver (2006), a atriz Penélope Cruz já encantara, agora como Lena arrasa e seu brilho contagia, envolvendo e dando um clímax que só Almodóvar sabe dosar com sua qualidade indiscutível, como conduzir um elenco de estrelas e em especial uma diva como Penélope, bem como o duplo papel de cineasta como Mateo Blanco e Harry Caine (Lluís Homar, em grande desempenho, convence como cego), a amiga do diretor Judit (Blanca Portillo), seu filho (Tamar Novas), o empresário Ernesto Martel (José Luís Gomez), ainda Lola Dueñas, Rossy de Palma e Chus Lamprave.

O longa trata de um filme que será rodado com o patrocínio do empresário Martel, porém sua esposa Lena envolve-se amorosamente com o diretor, causando uma reviravolta espantosa e intrigante numa obsessiva perseguição, com direito a filmagens no melhor estilo de detetive particular, realizado pelo filho problemático com o pai, diante de sua condição sexual, o que revolta e atormenta o empresário. Há a volta ao passado, 14 anos depois do acidente na ilha de Lanzarote, na Espanha, o que faz renascer pelas lembranças todos os momentos especiais maravilhosos da grande paixão que já não está mais ao seu lado, mas a vida e o senso profissional está acima e deve ser levado em frente, custe o que custar. Nada é desprezível, as cenas vão se juntando como um teorema para elucidar o problema proposto.

Há amores contidos e revelações, entre as quais de paternidade, romance desfeito, todas surpreendentes e inimagináveis, com todo estilo almodovarianos se fazendo presente, como na cores fortes com predomínio vermelho e listrados e xadrezes gritantes, mas sem agressão visual, num estilo típico e marca registrada de Almodóvar. O enredo se mistura entre a ficção imaginária e a ficção que se desenrola, misturando-se as obras e a busca da remontagem do filme pretendido, diante da tragédia pessoal de sua visão e a perda da musa, leva para um desfecho memorável.

É difícil dizer o que mais cativa no filme; se as interpretações, a mistura de filmes, o roteiro, o cenário, a fotografia, ou se tudo mesclado, com uma direção inventiva, sem preconceitos, deixando fluir as amarguras pelas imagens desfilando com sutileza e clarividência, relatando os dramas pessoais, as fraquezas e as vicissitudes. Tudo isso colocado na cabeça e nas mãos de Almodóvar acarreta nesta película imperdível e digna de se candidatar como uma das melhores, podendo chegar ao topo como a melhor da 33ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Pode não ser o melhor, embora beire à obra-prima, mas é indiscutivelmente uma renovação com fôlego deste cineasta incansável no seu método de abordar questões polêmicas.

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