terça-feira, 27 de outubro de 2009

Mostra de Cinema São Paulo (Ervas Daninhas)

















Ervas Daninhas

Desta vez o velho mestre Alains Resnais, com seus 87 anos de idade bem vividos, erra feio a mão com Ervas Daninhas. Um filme menor e longe da genialidade peculiar deste excepcional diretor francês do recente e maravilhoso Medos Privados em Lugares Públicos (2007), do notável Amores Parisienses (1997),do ótimo Beijo na Boca, Não (2003), e dos clássicos de outrora consagrados como obras-primas O Ano Passado em Marienbad (1961) e Hiroshima Meu Amor (1959).

Já em Medos Privados a paixão na terceira idade era o mote com um aprofundamento tocante e sensível, tendo um desenlace formidável. Agora com Ervas Daninhas o tiro saiu pela culatra e o longa mais parecia um enredo de novela mexicana, com direito a choro e dores de juventude frustrados com desenlaces perpetrados pela esposa e pela paixão recente como formas de equilíbrio de uma vida voltada para a aviação. Mesmo que a comicidade tenha se misturado com uma poesia mínima e sem sentido, por um sonho do personagem que se altera com doses de fragilidade e falta de eloquência, contrasta com uma fotografia magnífica.

A película traça um paralelo entre o inusitado e o destino, como que o acaso de uma bolsa roubada, vindo a carteira parar embaixo do pneu do carro daquele que nem sonha que esta pessoa mudaria os rumos de sua vida e o sonho acalantado iria tornar-se uma realidade divina, como o toque do salto do belo par de sapatos tocando lentamente na chão, abrindo caminho para a imaginação e os devaneios masculinos.
Resnais sabe escolher um elenco, isso não se discute, pois Mathieu Amalric está convincente na pele do policial, assim como o veterano sedutor e sonhador está perfeito André Dussolier, a jovem e bonita dentista como Emmanuelle Devos, Marguerite como a musa inspiradora está representada por Sabine Azéma e a esposa na interpretação de Anne Consigny, todos com boas atuações.

O longa se perde ao tentar explicar os rumos de um personagem que por si só se manteria e daria uma sustentação com embasamento e eficácia, mas que prolonga-se por demais, falta uma montagem mais enxuta e que poderia salvar o filme desta situação constrangedora que é o anacronismo de um roteiro. A cena do encontro no bar, por exemplo, logo após o encontro na saída da sala de cinema poderia ser um marco final, deixaria em aberto o restante da narrativa, mas a voracidade de um montagem com previsão de um desnecessário prolongamento, praticamente liquida um filme que começou bem e finaliza de forma melancólica.

Outro fator negativo foi o constante desfile de uma marca famosa de automóvel francesa, apresentando todos os seus modelos e lançamentos de mercado. Isso não é merchandising, é propaganda pura e que agride ao espectador que foi ver um filme e não uma mostra como se fosse uma feira internacional do automóvel. Lamentável em todos os sentidos, e que o velho mestre se redima na próxima.

Nenhum comentário: