sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Mostra de Cinema São Paulo (A 40ª. Porta)















A 40ª. Porta

Outro filme em que a mãe e o filho lutam pela sobrevivência, assim como na obra-prima Independência que veio das Filipinas, também o pequeno e recém-independente Azerbaijão nos apresenta este bom e sensível primeiro longa-metragem de Elchin Musaoglu, A 40ª. Porta. Foi apontado por parte da crítica como um dos favoritos para melhor filme da 33a. Mostra de São Paulo, embora seja um filme que tem boas qualidades, está longe de concorrer com o filme filipino supramencionado, bem como o iraniano O Apedrejamento de Soraya M e o espanhol de Almodóvar Abraços Partidos, estes sim, candidatos com potenciais fortes.

A película A 40ª. Porta está bem estruturada num bom roteiro, uma fotografia radiante, com atuações excelentes dos atores escalados, em especial filho e mãe. Porém peca pela mania de alguns diretores em minimizar os dramas pessoais, querendo deixar propostas próximas de um otimismo exacerbado. Não que o longa do Azerbaijão tenha algo descomunal, mas seu final fica a desejar, levando a uma crença dúbia e estéril.

A morte do pai de Rustam pela máfia russa é o ponto de partida, tornando-se o chefe da família com seus 14 anos, protege a mãe e sua honra junto à comunidade, afastando incautos pretendentes. Luta pela retomada de um tapete de estimação, armando contra o comerciante maldoso. Trabalha de lavador de carros e acaba dentro de algumas encrencas com delinquentes juvenis perigosos e ciumentos, envolve-se com um chefe de gangue, mas consegue por se libertar sozinho e com a imagem do pai assassinado. Sonha em ser músico e ganha um instrumento que tocará na ponte junto com uma lâmpada que teima em acender e apagar.

O menino tem um coração maravilhoso e resiste bravamente, luta para não se envolver, situação que não teve melhor sorte o menino do nacional Pixote- A Lei do Mais Fraco (1981), morrendo até o próprio ator pela polícia, por suspeita de assalto em 1987. Outro filme em que os garotos não tiveram uma sorte razoável foi no longa Linha de Passe (2008), sem falar no Cidade de Deus (2002). Mas, enfim o Azerbaijão talvez seja diferente mesmo.

Já no início do filme começa também com um jogo de futebol da gurizada num campinho como nas velhas e tradicionais "peladas", assim como no Brasil, a busca pela profissão de atleta é uma constante. A luta pela dignidade é interrompida com a tragédia pessoal deste promissor jogador, mas as demais situações de guerrilha juvenil são elaboradas de forma amena.

Uma cena realizada com forte dramaticidade é a do menino cego que é carregado nos braços para a casa de Radum, após a prisão de seu irmão e protetor, ainda tenta buscar seu gatinho de estimação, num belo e sensível humanismo de extrema profundidade do diretor.

Fica a reflexão do cinema de um país distante e de uma desconhecida filmografia, onde a criminalidade existe em proporções ainda com algum desconhecimento mais profundo ou talvez por probemas de censura, mas imagináveis como uma das portas que se abrem para o futuro.

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