domingo, 1 de novembro de 2009

Mostra de Cinema São Paulo (Vencer)



Vencer

Marco Bellocchio reaparece em grande forma com este poderoso longa-metragem Vencer na 33ª. Mostra de São Paulo. Realizador de Em Nome do Pai (1971) e Bom Dia, Noite (2003), conta de maneira simples e instigante o lado sombrio da vida de Benito Mussolini, seu passado de rejeição ao filho e abandono total à sua primeira mulher que contribuiu de forma decisiva para sua ascensão.

O longa se debruça na história de Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno, em desempenho elogiável), primeira mulher de Mussolini (Filippo Timi, num grande duplo papel) que vende sua casa e todos os seus bens, alcançando para o Duce montar um jornal, dando-lhe autoconfiança e um filho, que sofre todas as amarguras, após o abandono do velho fascista que se nega a assumir a paternidade.

A vida de Mussolini é dissecada, desde o tempo e que começou como líder sindical socialista, ateu, fundando o Partido Fascista na Itália. Incita as massas contra a igreja e a monarquia. Alista-se no Exército para ir lutar na I Guerra Mundial, mas desaparece misteriosamente, ressurgindo logo após casado com outra mulher, construindo uma nova família e negando qualquer outro vínculo com o passado, ignorando a primeira mulher e o filho bastardo. Manda queimar toda documentação nos cartórios e igrejas que possa prejudicar sua imagem. Vira as costas também para as bases sindicais que lhe deram suporte, conduzindo-o ao topo do governo e a liderança mundial.

Ida tenta buscar seus direitos em vão. O fascismo está por toda parte, até dentro da igreja junto às madres, entre os médicos psiquiatras, parentes e vizinhos. Sua luta é inglória e o seu destino é um longo enclausuramento num hospício por 11 anos, pois é tachada de louca com laudos forjados, com o objetivo de calar sua voz que poderia manchar a reputação de líder de uma nação em delírio com um dos mais abjetos regimes que foi o fascismo, a partir de 1919. É amarrada e torturada, por determinação superior, pois o Duce não pode ser injuriado, afastada definitivamente do filho que nunca mais poderá vê-lo, num castigo como só se aplicava na Idade Média. Dos direitos reivindicados, recebe como recompensa o isolamento e a pecha de louca.

A simbiose da política com o erotismo é abordada nas primeiras cenas com bastante maturidade entre Ida e Mussolini, porém já revela um País que se deixará envolver pelo fanatismo político e prenuncia a institucionalização fascista, onde o Duce deixa transparecer todas suas fraquezas, dúvidas e interrogações inerentes das deficiências de uma pessoa de carne e osso, bem como revela seus instintos violentos de uma personalidade doentia, onde os demônios do totalitarismo afloram neste longa italiano como poucas vezes se vê, ultimamente Sokurov (Sol- 2005), (Arca Russa-2002), (Taurus- 2001) e (Moloch-1999).

Bellocchio deixa singrar seu filme pelos mares da visão feminina, demonstrando e refletindo o usurpamento e o vilipêndio da mulher já desde aqueles tempos, ao ser descartada como um objeto pelo ditador. Ida é uma espécie de Antígona e de uma mãe lutadora pelo filho e pelo amor do marido, nesta bela caracterização do cineasta, neste drama político imperdível.

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