Soul Kitchen
Novamente o brilho do cineasta alemão de ascendência turca Fatih Akin, se faz presente nesta elogiável comédia dramática Soul Kitchen, que obteve o Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza deste ano. O diretor tem no seu currículo filmes rigorosamente dramáticos como sua obra-prima Do Outro Lado (2007), que obteve o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes daquele ano. Causou furor no cenário brasileiro inicialmente com Contra a Parede (2004) e em seguida com o deslumbrante documentário musical Atravessando a Ponte- O Som de Istambul (2005), demonstrando toda sua sensibilidade e vigor estético inovador nestas três obras anteriores magistrais.
Desta vez o documentário e o drama cedem seus lugares para a comédia escrachada com pitadas de drama. Começa com uma cozinha saborosa, com pratos bem feitos e deliciosos quitutes colocados numa mesa bem posta, lembrando A Festa de Babette (1987) e O jantar (1998). Mas Akin tem luz própria e não se deixa levar pelas semelhanças de filmes estritamente de forno, fogão e mesa.
Sua história com o cinema é mais elevada e os dramas pessoais abrangem o contexto e dominam as diversas situações; como as do cozinheiro com suas peripécias do amor quase perdido da namorada que está indo para Xangai, ou da dor física como os problemas com sua insólita hérnia de disco a perturbar seus movimentos. Ainda que o riso provocado pelas situações cômicas se alternem, fica evidente a preocupação com o ser humano. O irmão em liberdade condicional, viciado em jogo, ao assumir o restaurante leva-o para um imbróglio. A troca do chefe de cozinha e a fiscalização da saúde e da fazenda levam para uma verdadeira maratona confusa quase sem saída.
Mas o amor está como uma solução para os irmãos, como uma cura protagonizada com eficácia; ou para aquele viciado com problemas com a justiça, mesmo mentindo para a mãe não se acha desleal; ou para o dono do estabelecimento que parte para uma solução drástica para sua doença, conduzido pelas mãos de uma fisioterapeuta que aos poucos vai conquistando o coração daquele atrapalhado comerciante de comidas. Inova com grupos musicais realizando shows e muda a mentalidade de seu estabelecimento outrora decadente, abriga agora um público mais eclético e descolado, pois os tempos de mudança sopram rapidamente para o futuro.
O filme mostra as decisões equivocadas e inconsequentes, como uma boa reflexão sobre a persistência e a renovação do restaurante para a busca de um idealização com o se significado próprio como a cozinha das almas.
As mudanças sugeridas são o elo entre o pessimismo e uma realidade que às vezes está bem próxima, mas teimosamente alija ou afasta como forma de um preconceito ou conservadorismo cultuado. A insistência e a fibra com uma mentalidade criativa servem de estímulo deste belo filme, com uma Istambul com seus barcos e rios maravilhosos desfilando na tela.
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