domingo, 1 de novembro de 2009

Mostra de Cinema São Paulo- (Ninguém Sabe...)


















Ninguém Sabe dos Gatos Persas

O cinema iraniano traz mais um bom filme para a 33ª. Mostra de São Paulo, no irrequieto Ninguém Sabe dos Gatos Persas, tendo na direção Bahman Ghobadi, que já realizara outras grandes obras, tais como Tempos de Embebedar Cavalos (20o0), Canções da Terra de Minha Mãe (2002) e Tartarugas Podem Voar (2004), todas com premiação nas mostras anteriores. A simplicidade é uma tônica nos produtos do Irã, porém dificilmente não traz reflexões políticas e sociais satisfatórias.

Bahman é um cineasta de muita sensibilidade, assim como demonstrara em seus filmes antecessores. Neste longa aborda com muita propriedade a trajetória de um casal de jovens músicos que saem da prisão, decididos a formarem uma banda de indie rock, mas encontram diversos obstáculos, como a polícia repressora de um regime totalitário. São reprimidos nas suas incursões pelos subúrbios, encontram sérios problemas para realizarem seus ensaios, achando alguma tranquilidade num estábulo, onde as assistentes são as vacas leiteiras que atônitas parecem escutar a música vinda daquele grupo de ideais e vontades contrárias à ordem e aos bons costumes.

As andanças pelo submundo do Teerã, procurando parceiros e instrumentos, refletem o caos das ruas da periferia, assim como nas baladas os jovens se divertem bebendo ou se drogando, reflexo de um sociedade derrotista e sem perspectiva para uma geração de desafortunados. As autoridades proíbem músicas ao vivo e ensaios, mas são corruptas como na cena do policial que alivia uma multa pesada, ou arranca um cão de dentro do carro, na espera de propina.

A busca da liberdade fora do País para tocar na Europa é tentada, mas os óbices vão surgindo e os caminhos cada vez mais encurtando, até mesmo com a prisão daqueles atravessadores que recebem dinheiro para conseguir passaportes clandestinos. O casal fica sem dinheiro e o jeito é tocar nos subterrâneos da capital iraniana, enfrentando a fúria dos vizinhos delatores e da polícia repressora.

A reflexão dos caminhos daquela juventude se cruza com um músico voltado para atividade voluntária de um grupo de crianças carentes, numa cena bonita de esperança que resiste no coração daquele ativista convicto, embora haja o contraste da morte por suicídio, quando há na metáfora do jovem literalmente sem saída para um futuro imediato, cansado da opressão e não vislumbrando um destino como previa, numa situação desoladora pela revolta.

Um filme inquietante numa estética simples e eficiente, que alavanca para uma reflexão de um Irã repleto de contrastes, onde a religião é usada como escudo de um totalitarismo de xás, mulás e homens voltados para seus instintos de domínio, sem uma democracia que conceda a juventude um mínimo de direito ou a possibilidade de partir para a busca de outros horizontes pelo mundo.

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