segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Mostra de Cinema São Paulo (Shirin)
Shirin
Às vezes a busca da reformulação ou de uma metalinguagem no cinema pode levar para a consagração ou para uma derrocada espetacular. Foi o que aconteceu com o indiscutível diretor iraniano Abbas Kiarostami com o longa Shirin na 33a. Mostra de São Paulo. Autor da obra-prima Gosto de Cereja (1997), obteve a Palma de Ouro em Cannes naquele ano. Tem na sua biografia outras obras magníficas que o consagraram no cenário internacional, como Onde Fica a Casa de Meu Amigo? (1987), Close Up (1990), Através das Oliveiras (1994), O vento nos Levará (1999) e em 2000 é indicado ao Palma de Ouro com o filme Dez.
Desta vez não estava inspirado e seu talento invulgar pediu férias para descansar e relaxar possivelmente em Paris. Ver Shirin parece ser uma tortura para os espectadores que assistem os intermináveis 91 minutos de rostos de mulheres chorando copiosamente pelo desenrolar de um melodrama em que uma princesa e um rei são os protagonistas.
Nem a presença e Juliette Binoche com lágrimas rolando pelo rosto conseguiu salvar Kiarostami do fiasco retumbante que foi esta caricatura de filme, em que fala de uma paixão de uma princesa armênia por um príncipe, relatada pela poetisa iraniana Nezami no século XII, contada para uma plateia majoritariamente feminina, de rostos lindos com belos lenços envoltos na cabeça, ficando para o espectador assistir pelos olhos destas mulheres as sequências da trama.
O som do trote dos cavalos, as espadas se tocando, vozes desconexas e rios com as águas subindo e descendo, com as chuvas tamborilando no palco, nada mais é do que uma volta ao passado; onde as velhas novelas de rádio, com os contrarregras sendo as estrelas com seus sons entrando e saindo nas cenas e os ouvintes em casa curtindo com todo o ardor o próximo capítulo. Mas isso foi lá na década de 60. Evidentemente que o diretor não se reportou e sequer pensou nesta ideia, mas que é um atraso para os dias de hoje uma referência destas é inegável. Ainda mais que estamos em plena era da internet.
A película ficaria muito bem num curta de no máximo 15 minutos, competindo na categoria. Porém é imperdoável massacrar os abnegados cinéfilos apreciadores de um gênero que o consagrou como o humanismo, a denúncia, a aproximação de um cinema de pessoas comuns com uma dramaturgia com a marca registrada da escola iraniana de diretores da primeira linha do cinema mundial.
O artista deve buscar alternativas, mas desde que o seu contexto de metalinguagem não frustre e decepcione, como ocorreu neste caso, em todos os sentidos, deixando passar uma oportunidade que se frustra, inegavelmente por outro lado fica o alerta de uma inovação menor e sem sentido, beirando ao risível que macula mesmo que levemente uma imagem construída com dignidade de histórias maravilhosas de uma beleza poética, social e política como o cultuado Gosto de Cereja.
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