segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mostra de Cinema São Paulo (Turnê)

















Turnê

Mathieu Amalric estreou no Brasil com Turnê, na 34ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O festejado ator francês tem em sua bagagem outros três longas que nunca chegaram comercialmente em nosso país, exceto na 27ª. Mostra com A Coisa Pública (2003). Destacado em atuações impecáveis como em A Questão Humana (2007), Atrizes (2007) e Um Conto de Natal (2008), entre tantos longas de sua bela carreira.

Com Turnê que é um bom filme, aparece algumas virtudes de um diretor de ator/atriz. Suas qualidades são reconhecidas já no início do filme, ao conduzir com certa elegância aquelas atormentadas atrizes de stripper burlescas de um teatro de revista pela América e depois pelo interior da França, esquivando-se dos problemas plantados na capital, pois Paris fica como uma cidade que dilacera seu personagem principal Joachim, interpretado pelo próprio Amalric, também reabrindo as feridas de um passado que o persegue pelas dívidas e amores frustrados.

Joachim é um antigo produtor de TV que busca o sonho americano para começar uma nova vida. Seu passado não é dos melhores, as lembranças o faz um homem perturbado e tragado pela consciência de um pai ausente, como uma pessoa que se distanciou dos amigos, ao buscar sempre uma virada em sua profissão. Mas as ilusões começam a se tornar realidade, ao formar aquele grupo de mulheres gordas, de pouco charme, mas de muita tenacidade, como se extraídas dos filmes de Federico Fellini: Satyricon (1969), Roma (1972) e Amarcord (1973), ainda que o envolvimento emocional com uma das estrelas esteja para fluir, contrastando com a traição de seu melhor amigo, colocando um balde de água fria nas suas futuras apresentações.

A volta de Joachim pelo interior e sua resistência em chegar a Paris dão o tom, embora sem aquele clímax aguardado. Falta um pouco de inspiração no final e a superficialidade acaba por envolver o final, deixando de lado uma abordagem mais profunda e realista. O encontro inusitado com os demais componentes do grupo teatral naquele admirável cenário junto ao mar fica vago e a mercê de um resultado esteticamente melhor.

Amalric busca no gotesco das"meninas" gorduchas sua inspiração para dar vazão para seu poema visual no desenrolar da trama, mas peca com um epílogo quase que infantil. A bizarrice e os nus frontais com cenas de striptease se diluem e vão ao encontro de uma vulgaridade, e, entra em choque com o pedido poético de Joachin por silêncio pelos lugares que passa, diante do som alto e do barulho dos hotéis de beira de estrada que o deixam incivilizado.

O mundo contestado por Amalric, através das feridas abertas de um passado que volta para Joachim, a traição do amigo, as fantasias, os sonhos ilusórios de uma realidade distante e os fantasmas que o perseguem, são os ingredientes que compõem esta boa comédia dramática francesa, embora haja erros estruturais e contraditórios, mas que não afastam as virtudes inquestionáveis da obra deste promissor diretor, neste painel de andanças daquele personagem amargurado e torturado pela consciência.

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