terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mostra de Cinema São Paulo (Cópia Fiel)



Cópia Fiel

Abbas Kiarostami definitivamente se ocidentalizou e parece ter perdido sua referência com o Irã, deixando para trás seus filmes de raízes com seu povo e suas dificuldades inerentes, como Gosto de Cereja (1997), Atrás das Oliveiras (1994), O Vento nos Levará (1999), Onde Fica a Casa do Meu Amigo? (1987) e Close Up (1990). Já na Mostra de 2009, Shirin (2008) foi apresentado com muita pompa e foi uma retumbante decepção, mesmo que fosse enfatizada a frágil inovação estética, embora se assemelhasse mais com a linguagem de televisão.

Agora Kiarostami deu uma guinada respeitável e traz Cópia Fiel para discutir a relação de um casal, conflitado com os problemas decorrentes do desgaste da convivência da união de duas pessoas que mais parecem estranhas do que próximas, tendo no meio uma criança que está perdido e entra no jogo da mentira, num novelo como se fosse uma ficção e não uma realidade que lhe diz muito de sua convivência paterna e não afetiva, distante e completamente ausente. A trama é bem conduzida até o meio do longa-metragem. Elle (Juliette Binoche) é uma galerista francesa que encontra por acaso James (Willian Shimmel), um escritor britânico que dá uma conferência no lançamento de um livro que tem por tese defender as réplicas. Oferece-se para ciceronear o intelectual numa belíssima viagem à região italiana de Toscana, quando fatos inusitados começam a interferir entre os dois.

Quem conduz o carro é Elle pela bucólica estrada que dará num vilarejo de aparente boa comida e bom vinho. Num certo momento, parece que estamos em Teerã, com os velhos filmes de Kiarostami, mas não. Tudo é aparência e um jogo estranho de diálogos ríspidos começa a acontecer entre aquele homem e aquela bela mulher que se produz, usa batom bem vermelho e brincos atraentes. Até que James afirma categoricamente numa cena que começa a ser reveladora: "Eu vivo minha vida e a minha família vive a dela". Ou seja, a mulher e o filho estão fora do seu contexto de vida e dos parâmetros comportamentais de convivência harmoniosa. A sedução no quarto de hotel remete para um passado de 15 anos, num encontro frio e distante, com uma boa dose de culpa recíproca e questionamentos de perdas e ganhos. Frases de provocações e estímulos, como reiterados acabam por desestimular um recomeço alviçareiro, parecendo o reflexo do jogo de espelhos contra o sol refletindo com ardor e ao mesmo tempo muita dor.

Cópia ou original? Réplica ou Tréplica? Ficção ou Realidade? Um bom e intrigante jogo de palavras, tal qual o filme no seu início e desfecho, não tão surpreendente, pois o fio do nó se desata no meio do longa. Inegavelmente, perde o clímax com a frouxidão da direção, embora não se possa negar o roteiro bem elaborado, porém lamentando-se que fosse conduzido afoitamente pelo diretor iraniano. Cópia Fiel até parece tratar de um casal em crise matrimonial. As acusações e as tentativas frustradas de um relacionamento remasterizado, indicam e dão uma tênue luz no início da película, que estes dois se conhecem há muito tempo e querem nos pregar uma peça.

Suspeita-se serem velhos conhecidos e brigões daqueles que estão presentes nas cenas de um casamento frustrado? E que as alternativas de uma bela região como a Toscana seria a saída no fim do túnel. Ficção ou realidade de uma verdade escondida na mentira, em que as respostas bem simples estão neste bom filme de Kiarostami.

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