segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Mostra de Cinema São Paulo (Metrópolis)
Metrópolis
É impagável assistir um clássico inquestionável como Metrópolis, realizado em 1927, dirigido pelo mestre alemão Fritz Lang, com os arranjos da trilha sonora ao vivo pela Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo, dentro do Parque Ibirapuera, das 20h15min às 23h, mesmo com um friozinho gelado percorrendo o corpo e algum prenúncio de chuva, muito silêncio na apresentação a céu aberto, demonstrando-se todo o repeito pelo evento. Quem viu está de parabéns; quem não viu, perdeu um show extraordinário nesta 34ª. Mostra de Cinema de São Paulo, na primeira reapresentação na América Latina da versão original restaurada com mais 30 minutos, após descoberta em Buenos Aires do negativo de 16mm.
Metrópolis é um filme essencialmente futurista pelos olhos mágicos de seu genial diretor Fritz Lang. Sua força estética se propõe já nas primeiras cenas quando fica claro seu propósito de contrastar a civilização sendo engolida pela revolução industrial, ao criar-se o "ser-máquina", terminologia usada antes do "homem-robô". A construção da cidade do futuro com viadutos, aeroportos, pontes e aviões sobrevoando os edifícios, que hoje são uma realidade, na época não passava de uma mera especulação ou um sonho imaginário fictício.
Fritz Lang ao realizar esta autêntica obra-prima, veio inspirar pela sua forma expressionista, outros filmes pela sua força esteticamente lançada, como Tempos Modernos (1936), do grande e inesquecível Charles Chaplin; bem como A Bela e a Fera (1946), O Mágico de Oz (1939), apenas para citar dois entre tantos outros que beberam na fonte inesgotável de Metrópolis, com aquela teatralidade de passos e gestos, como se fosse um balê clássico num cenário com os avanços de um cinema da década de 20.
Evoluiu o cinema e a cidades, mas Metrópolis agiganta-se pela sua antevisão dos fatos e acontecimentos que se desenrolaram de uma época de poucos recursos para depois de cem anos, em plena era da internet, telefone celular, filme digital, demonstrar que esta maravilhosa precursora película continua atual.
Em Metrópolis podemos ver como foi o esforço descomunal para construir a Torre de Babel, segundo o livro Gênesis, edificada na Babilônia, mas a história aposta que foi na Mesopotâmia, hoje Iraque, para unir os povos e as raças diferentes. A cidade das máquinas planejada e vista como realidade, através de suas engenhocas e parafernálias, tem um final beirando a tragicidade elevam o nível do filme aos píncaros da magnitude do homem. A luta do homem e da máquina, as obstruções e as dificuldades de uma harmonia pelos seus contrastes estão bem claras e sintetizadas no epílogo, quando busca-se a união do cérebro com a mão e o coração, naquela cena que até pode ser interpretada como politicamente correta ou conservadora, mas fica a simbologia da paz para um distante ano de 1927, pelas convulsões ainda que latentes do conflitos belicistas de uma Primeira Guerra Mundial de 1914 a 1918.
Fritz Lang insere-se na categoria de gênio da sétima arte, pois viria a filmar outro magnífico filme como M, o Vampiro de Dusseldorf (1931). Realizou tantos outros como Vive-se Só Uma Vez (1937) e O Diabo Feito Mulher (1941). A luta de classe dos intelectuais que moram na superfície com os operários que vivem no subsolo em Metrópolis, projetada para 2026 é a essência do conflito, assim como o amor do filho do prefeito por aquela pobretona trabalhadora Maria, vem aflorar os desentendimentos entre pai e filho.
Mas o cerne da questão é depurado com ardor e maestria pelo diretor alemão, ao situar a efervescência do conflito e os rumos civilizatórios oriundos da intransigência exacerbada de ambas partes daquele povo literalmente dividido ente a suposta inteligência intelectual e os alegados operários não-pensantes, numa absurda e severa dicotomia advinda de uma monstruosa separação de pessoas, porém bem colocado e enfatizado quando da construção da Torre de Babel, numa reflexão adequada e profunda de um diretor com a capacidade e o olhar de um Fritz Lang.
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