domingo, 31 de outubro de 2010

Mostra de Cinema São Paulo (O Caçador)















O Caçador

Rafi Pitts é um diretor iraniano que mora desde o anos 90 em Paris, foi assistente de direção de Leos Carax no filme francês Os Amantes da Pont-Neuf (1991), com estupenda atuação de Juliette Binoche, dirigiu As Cinco Estações (1997) e o inédito It´s Winter (2006).

Agora traz para a 34a. Mostra de São Paulo, seu longa-metragem O Caçador, um projeto mais arrojado, tendo escrito o roteiro e também atuado como o ator principal do longa no papel-título, no personagem Ali. A trama gira em torno de um recém-egresso da penitenciária, que busca emprego e consegue uma vaga como vigilante numa fábrica no turno da noite. Seu retorno à sociedade está repleto de expectativas diante das próximas eleições que são promissoras e alardeiam mudanças radicais no governo, tenta passar boa parte de seu tempo livre durante o dia com sua bela esposa e sua adorada filha de 6 anos.

Ali tem como passatempo se embrenhar na floresta e caçar para aliviar as tensões do trabalho e o estresse da vida cotidiana e monótona, ausenta-se de sua casa urbana, com seu carro velho e parceiro de todas as horas, para buscar a paz entre as árvores e a caça como entretenimento e refúgio de dias passados atrás das grades. A tragédia lhe aguarda mais adiante, quando sua mulher Sara (Mitra Hajjar) é morta aparentemente de maneira acidental, num tiroteio da polícia com simpatizantes de uma manifestação de rua contra o vigente regime iraniano déspota e impositivo. A filha do casal desaparece literalmente e a procura pela garotinha torna-se sua missão diária e frequente, sem descanso beirando à obsessão.

Ali tenta encontrar sua filha numa frenética busca pelas ruas e arredores, depois de tomar um verdadeiro "chá de banco" numa delegacia distrital, ser hostilizado por policiais, resolve fazer sua investigação particular e de sucesso remoto, tomando rumos trágicos, com o fuzilamento daqueles que ele entende serem os culpados pela morte da esposa e o desaparecimento da filha. O longa peca do meio para o final, quando o roteiro troca os papéis na clássica inversão de caçador para caça. A monotonia toma conta do filme e a mesmice se torna completa, deixando traços de insatisfação nos espectadores e a perda completa do controle do filme, que desce ladeira abaixo nos minutos finais.

Rafi Pitts erra a mão e torna este longa, que tinha tudo para ser um bom filme, em apenas uma realização razoável diante de seus enormes defeitos estruturais e frágeis, embora tivesse uma proposta abrangente de um ser atormentado na busca de seus familiares, acreditando nas mudanças do governo e se decepcionado, perdendo o sentido e o rumo da vida. Porém, os resultados estéticos e reflexivos ficaram longe do desejado, reduzindo um bom projeto para uma obra menor e precária.

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