sábado, 29 de outubro de 2011
Mostra de Cinema São Paulo (A Casa)
A Casa
A Eslováquia dá sua contribuição valiosa nesta 35ª Mostra de Cinema de São Paulo com A Casa, primeiro longa-metragem para o cinema da diretora eslovaca Zuzana Liová, que antes realizou dois curtas e um filme para a TV. Inova e mostra todo seu vigor, demonstrando ter talento para continuar a realizar outras obras iguais e até melhores do que esta bela surpresa alegórica. Há que se ressaltar a bela fotografia buscada num cenário adequado para uma proposta tão vigorosa.
Tem na trama a construção pelo pai de duas casas para as suas filhas, uma maior e outra ainda menor de idade. Imrich é um homem tosco, extremamente disciplinador, de uma rudeza incivilizada, religioso de carteirinha, guarda para si seus sérios problemas de saúde, porém busca a perfeição no reino familiar. Apesar de tudo tem um bom coração e sua esposa é submissa, sempre na busca da pacificação para evitar maiores conflitos.
A filha mais velha Jana ao ficar grávida é expulsa do lar e sua casa em construção fica paralisada. Logo aparece com três filhos e a situação se complica por problemas financeiros com o marido, falta de pagamento do aluguel e os constantes conflitos familiares aparentemente insolúveis. A coisa não anda e vai de mal a pior. Com a filha menor Laura que toca piano na igreja, ajuda na construção de sua casinha, um sonho de infância que aos poucos vai se dissipando, pois agora pretende é ir mesmo para a Inglaterra fazer intercâmbio cultural. Está prestes a se formar na faculdade, envolve-se por acaso com seu professor, um amor proibido pelas circunstâncias civis do mestre. Diga-se de passagem, um enrolador e tanto.
O filme parece ser uma tempestade que desabou no seio de uma família pacata e acomodada numa cidadezinha interiorana, mas não é só isso, pois no bojo da proposta está a alegoria da abertura democrática da divisão com a República Tcheca. Há a visita a Praga de Laura com seu amor proibido, ao passar uma noite espetacular e perfeita, sobrando muita alegria na realização de um contagiante pré-sonho. Ou seja, viajar para qualquer lugar e libertar-se das amarras do pai protetor e sem perspectiva. É a premissa de uma antevisão de seu futuro desejado.
A figura patética do pai é a metáfora da redenção e da abertura de um país fechado hermeticamente, advindo da divisão em dois e a emancipação de ambos, tal qual Laura procura com ardor sua liberdade para viver plenamente sua juventude e suas aspirações profissionais. Se Jana é a filha rebelde que realizou parte de seus propósitos idealizados, mas no final demonstra aptidão para a reconstrução paterna que simboliza um país se reencontrando com seus filhos, simbolizados pela família e na continuação da obra da casa.
Uma magnífica película alegórica, onde uma casa serve como símbolo metafórico para um notável exercício instigante de conclusão e redenção de seus filhos, amparados por uma sequência de personagens que evoluem de uma base familiar para o topo, sendo construídos artesanalmente com a dignidade de um grande filme europeu.
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