sábado, 29 de outubro de 2011
Mostra de Cinema São Paulo (Dance Town)
Dance Town
Vem da Coreia do Sul este significativo drama social mesclado com política em Dance Town, com direção segura e precisa de Jeon Kyu-hwan. Já dirigiu Mozart Town ((2008) e Animal Town (2010), sendo que agora completou sua trilogia bem emblemática entre as relações dos povos, da política e da cultura entre as duas Coreias divididas, como ocorrera com as Alemanhas no passado.
Agora com o fechamento do ciclo, tendo no trunfo o mote em Jung-Nim, que se vê obrigada a fugir de seu país Coreia do Norte e exilar-se na Coreia do Sul, pelo fato pitoresco e banal de ter assistido uma fita pornográfica na sua casa com o marido. Tentam fugir, mas somente ela obteve sucesso e o esposo foi preso e sua situação se complica completamente, pois na Coreia do Norte é crime tentar fugir ou ajudar terceiros para outro país, especialmente para o Sul.
O diretor tem um olhar crítico também da Coreia do Sul, pois a refugiada é apenas um pano de fundo para abordar com eficiência os problemas que ocorrem no capitalismo, sendo frequentes os abortos clandestinos, alcoolismo entre jovens e idosos, a inconformidade com os baixos salários e os desníveis sociais. Kyu-hwan questiona com pertinência do por quê apenas uns vivem em melhores condições em detrimento de outros que dão duro e ralam para sobreviverem. Há a comprovada marginalização de muitas pessoas, levando ao crime de pequenos furtos, como na cena da bolsa de Jung-Nim jogada na sarjeta.
O diretor fixa-se especialmente nos bêbados inveterados que perturbam o trânsito, ou saem dos restaurantes e vão para os karaokês beberem até cair. O trabalho ingrato e cansativo na lavanderia destinado à fugitiva, que é vigiada por câmeras, sob a suspeita de ser uma espiã. Sai exausta da engrenagem de lavar, passar e secar. As atribulações da vida encontradas pela norte-coreana têm suas compensações positivas como a liberdade de expressão, o trabalho digno com contraprestação salarial e até a experiênca afetiva no envolvimento com um policial elegante e boa-pinta. Sem nunca esquecer é claro o marido que ficou para trás, pois lhe soa como um pesadelo diário com remorsos e arrependimentos.
Eis um bom longa-metragem que não invoca o conservadorismo e sequer é moralista, embora a culpa seja uma companhia permanente, mas a vida continua com suas tropelias e divisões entre irmãos da mesma raça, por decorrência dos governantes. O que vem acontecer são as consequências nefastas de um regime ditatorial fechado e hermético que pune seus filhos que ousam buscar a liberdade.
O mérito do cineasta é não fazer a ode do capitalismo instalado na Coreia do Sul com o apoio dos EUA, como bem demonstrado nas cenas do americano que por lá se alojou definitivamente. Fica flagrante que nem tudo é tão maravilhoso como se divulga, embora no Norte governado pelos comunistas inexiste igualdade e reivindicação, sendo a ditadura ferrenha e imperdoável para os supostos “traidores” que pretendem evadir-se. O filme se debruça com eficiência sobre o choque cultural que se estabelece com a chegada da norte-coreana desacostumada com uma vida tão versátil, tendo as mulheres total liberdade para enfrentarem os homens no mesmo grau de igualdade, com direitos e deveres assegurados pela democracia.
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