segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Mostra de Cinema São Paulo (A Ilusão Cômica)
A Ilusão Cômica
A Ilusão Cômica é o quinto filme de Mathieu Amalric, sendo uma adaptação moderna para o cinema da peça teatral do dramaturgo francês Pierre Corneille (1606-1684). Amalric dirigiu antes os filmes Mange Ta Soupe (1997), Le Stade de Wimbledon (2001), A Coisa Pública (2003) e o festejado Turnê (2010). Neste seu último longa-metragem, está o grande desafio do cineasta em trazer para a telona a história de um pai que contrata um mágico para procurar seu filho sumido há dez anos. Manteve os diálogos de Corneille, com suas rimas rebuscadas do barroco, transpondo para os nossos dias a peça clássica, num cenário bonito com ambientação no Hotel du Luvre.
Desta vez Amalric não consegue se sustentar como nos filmes anteriores passados no Brasil, onde marcou pelo bom A Coisa Pública e o elogiado Turnê. Perde força sua transposição e mescla teatral para o cinema, enrolando-se nas duas linguagens opostas e perigosas, quando tenta conciliar e filmar um clássico do século XVII. A força narrativa se esvai e se dilui num enredo confuso e dúbio, numa montagem quase que grotesca em seu todo, mas apressada demais para um texto tão expressivo e significativo do teatro. Os personagens parecem estar vagando no túnel do tempo dentro de uma caverna, com improvisações frágeis e sem nenhuma consistência dramática convincente.
Há personagens controversos e lutando com esmero para se livrarem dos fantasmas da traição e da perseguição obsessiva paternal, como o filho perdido e encontrado, beirando ao ridículo dos filmes da saga do seriado de Harry Potter. Não é um filme bom, muito pelo contrário, é muito irregular, pois peca tanto na emoção fria como na estrutura dos personagens fragilizados por uma desconstituição e descontinuidade de cenas absolutamente perdidas e sem complexidade num roteiro tosco e sem envolvimento harmônico com a trama.
Mesmo que o longa tivesse a intenção de obter bons resultados, surgiram sérios defeitos narrativos e confusos de duas linguagens distintas: o cinema e o teatro clássico. Sem falar que há induzimento para a previsibilidade no epílogo, embora seus propósitos iniciais vislumbrem uma iniciativa de adaptação respeitável, a inspiração esteve bem aquém do aguardado, deixando margem de desconfiança, em especial pelo atribulado roteiro de uma adaptação muito aquém do esperado.
Embora houvesse ambição no projeto inicial, restou como resultado um imenso vazio desta obra puramente descartável de Amalric, pois prometia bem mais do que as conclusões precipitadas e decepcionantes que ficaram marcadas no epílogo, exceto as belas imagens da Cidade Luz que oferece a boemia, o charme e a beleza, sempre acolhedora culturalmente como escreveu Hemingway em seu livro Paris É Uma Festa (1951). Sobra um jogo emaranhado de palavras inócuas e abstratas, num final melancólico e triste, tanto para o pai que retorna ao lugar de partida, como para o espectador frustrado por este mau filme, fruto de um erro enorme de planejamento.
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