terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mostra de Cinema São Paulo (Late Bloomers- O Amor Não Tem Fim)



















Late Bloomers- O Amor Não Tem Fim

Julie Gavras erra feio a mão com esta comédia de costumes, ao abordar um tema instigante e sempre interessante como a transição para a terceira idade de um casal cinquentão, logo após perceberem que estão sozinhos, pois seus três filhos já construíram seus futuros. A leveza que tentou passar à plateia foi um verdadeiro tiro pela culatra, considerando-se o resultado inócuo no melhor estilo dos filmes românticos de final feliz de Hollywood.

Jogou fora um tema que já foi abordado pelo cinema com excelentes resultados, como Ninho Vazio (2008), de Daniel Burman, sobre os filhos que sem de casa para o mundo, terão que descobrir como se acomodar à nova configuração de sua vida e salvar o casamento, e ainda o ótimo Dois Irmãos (2010), do mesmo diretor, numa abordagem provocadora e notável da terceira idade rejeitada. Também marcou com elegância o mesmo tema o filme brasileiro Chega de Saudades (2008), de Laís Bodansky, ao mostrar um baile em um clube de dança, com diversos personagens rondando o local.

No filme mais marcante de sua carreira, A Culpa é do Fidel (2006), Gavras obtém um resultado espantosamente memorável para uma diretora estreante à época. Agora perdeu-se por completo, embora com um elenco de primeira linha, tendo Adam (William Hurt) casado há mais de trinta anos com Mary (Isabela Rossellini), estão prestes a se separarem diante de uma rotina chata e dominada por irritações de parte a parte, sem tolerância de nenhum deles para bobagens que sempre aturaram, mas que agora resolveram colocar um ponto final. Evidentemente que os filhos se reúnem e não aceitam a separação, buscando de todas as formas uma maneira de evitar a desunião. Mary está sempre voltada aos idosos e busca prazer de vida na comunidade dos mais velhos, com projetos e soluções para o futuro, tentando adequar-se à sua idade, acaba por bater de frente com o marido, um bem-sucedido arquiteto muito próximo dos colegas mais jovens. Tem sede de juventude e não aceita pensar ou viver numa realidade que está chegando.

Não falta traição de ambos os protagonistas, com a clássica culpa posterior e o arrependimento dos infratores da moral e dos bons costumes. Os filhos montam uma artilharia para contornar a situação no velório da vovó materna, uma velhinha astuta com tiradas sarcásticas no melhor estilo da filosofia existencialista. A se lamentar seu desperdício no enredo e a ênfase gratuita do aproveitar a vida até seus últimos dias em todos os seus momentos, com clichês já batidos à exaustão como da “brilhante lição de vida”.

O filme não escapa do moralismo barato e a preservação da família unida e feliz para sempre. Embora houvesse ambição no projeto inicial, restou como resultado uma imensa babaquice vazia desta obra descartável de Gavras, pois prometia bem mais do que as conclusões precipitadas e decepcionantes pelo moralismo exacerbado e fora de propósito ilustradas no epílogo, com toques e requintes autobiográficos. Um final horroroso e frustrante, diante da expectativa aguardada desta promissora diretora que desandou de vez.

Debate em São Paulo

Após a exibição do filme, a diretora Julie Gavras participou de um bate-papo com o público. Durante a conversa, ela afirmou que o filme é autobiográfico, em razão de seus pais serem idosos. Falou da harmonia dos instrumentos de música utilizados na gravação e a relação deles com a leveza proposta do filme. Gavras foi lacônica nas respostas, parecendo um pouco irritada com as perguntas. Ou seria somente timidez?

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