segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Mostra de Cinema São Paulo (Belleville Tóquio)



Belleville Tóquio

Vem da França o drama Belleville Tóquio, tendo na direção Elise Girard com seu primeiro longa-metragem, mostrando um triângulo amoroso com direito a idas e vindas de Julien (Jérémi Elkaim), deixando na estação de Paris para Veneza sua mulher grávida Marie (Valérie Donzelli), ficando claro que iria se encontrar com outra mulher, mas a esposa não se propõe a fazer o papel de abandonada e vítima frustrada do casamento. Vai à luta e busca seu espaço como pessoa e profissional.

A diretora sabe aproveitar bem o cenário das belas ruas de Paris, utilizando nas fotografias um cinza claro com tons cinza-escuro na tonalidade esverdeada, tendo uma linda trilha sonora cantada pelo casal em uma das músicas, numa homenagem ao célebre compositor Enio Morricone. O filme busca discutir a gravidez indesejada e não programada pelo casal, mas não é só isso, pois no desenrolar da trama as frustrações do amor e as dificuldades na vida a dois vão aflorando, com as andanças de Marie em seu périplo de reflexão sobre a traição escancarada. Busca desesperadamente a reconciliação e o perdão expresso, tentando de qualquer forma a reconstrução do amor.

Julien deixa transparecer toda sua indignação e insatisfação pessoal com a proximidade do nascimento do filho, indo do paradoxal amor e paixão até transgredir para o ódio tresloucado e o rancor desvairado com as complexidades dos sentimentos, na clara e manifesta menção à sua própria vida particular, também em forma de nova homenagem explícita da cineasta com o longa O Inocente (1876), de LucchinoVisconti, na invejável interpretação de Giancarlo Giannini. Ainda há referências ao diretor Robert Aldrich, nas cenas em que Marie tem o apoio e o conforto moral no local de trabalho de seus superiores, que gerenciam um cinema de filmes cult e clássicos americanos.

A obstinação e a luta ferrenha para não deixar a peteca cair são bem explorados pela diretora, embora o filme perca em alguns momentos seu clímax e não haja um equilíbrio formal das cenas protagonizadas pelo casal em litígio. Ainda assim se sustenta e tem um resultado bem aceitável, sem ser uma obra maior, mas promissora, considerando-se como estreia de uma cineasta em busca de seu espaço.

Eis um bom drama pela estética e com razoável força de construção de personagens e imagens beirando a reveladoras. Tem no seu bojo e na essência uma reflexão do casamento e suas dificuldades, assim como debate a vinda do primeiro filho, quando não amplamente planejado, sem ter a pretensão de chegar a algum resultado definitivo, embora crucial, deixa margem para se discutir e se pensar, dando luz para um olhar panorâmico e questionador.

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