sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Mostra de Cinema São Paulo (Irmãs jamais)
















Irmãs Jamais

Marco Bellocchio arrasou em Vincere (2009), um filme que tinha todos os ingredientes das relações familiares, na controvertida vida de Benito Mussolini, dividido entre o poder, mulher e um filho que nasceu, foi reconhecido, e em seguida renegado. É uma página negra da história da Itália, ignorada na biografia oficial do Duce. Outro grande filme de Bellocchio foi Bom Dia Noite (2003), que narra a história do Primeiro Ministro da Itália Aldo Moro, em 1978, sequestrado e morto pelo grupo extremista Brigada Vermelha. Mas antes ainda filmou o notável Em Nome do Pai (1971), contando a história de um atentado a bomba do IRA que mata cinco pessoas num pub, em 1974, com os julgamentos equivocado dos acusados: um jovem rebelde, seu pai e três amigos.

Agora quando se esperava um filme ainda maior, surge esta produção bem menor e longe das qualidades do diretor que todos conhecem e se sabe de suas aptidões diferenciadas. Irmãs Jamais é uma obra vazia de conteúdo, no período de 1999 a 2008, com uma precária direção, ficou devendo em técnica de segurança, ritmo e profundidade, apesar de tentar equivocamente passar para os espectadores uma proposta de lembranças do passado para alicerçar um presente.

A trama tem duas tias velhinhas que perderam a irmã, mãe dos jovens que retornam à pequena cidade rural chamada Bobbio, que nunca teve uma celebridade ali nascida, segundo informa um protagonista. Um dos sobrinhos busca empréstimo bancário com aval das titias para se livrar dos credores que estão à sua procura; já sua irmã deixa a filha menor, sob os cuidados das anciãs e de seu irmão, para tentar a carreira de atriz de teatro. As tias anciãs aceitam qualquer coisa, menos chegar atrasadas para assistirem a ópera Il Trovatore, num dos raros momentos de lucidez e beleza da película. Antes houve o som de algumas notas musicais regionais da cidade natal da família. Mas os irmãos buscam estabilidade financeira e profissional em suas vidas e abafam as peculiaridades pitorescas de Bobbio, mal explorada e pouco convincente no que conseguiu mostrar.

Nem mesmo o acontecimento teoricamente inusitado do afogamento, nas filmagens realizadas pelo irmão; o surgimento de uma garota do passado com promessas de amor ou a tentativa de venda da propriedade das titias conseguem salvar a película da beira da chatice. Tudo muito vago numa indolência enorme, tornando-se gratuitas as cenas inseridas sem uma continuidade e uma melhor elaboração. Bellocchio deixa o filme andar como um barco sem timoneiro. Filmou mais à noite com uma fotografia discutível e de má qualidade, esteticamente depreciativa e tudo muito escuro e sem graça. Deveria ver como se faz ma filmagem à noite com o diretor Nuri Bilge Ceylan, do extraordinário Era Uma Vez na Anatólia (2010), um dos destaques desta Mostra de Cinema de São Paulo.

Este é um filme biográfico e feito para toda família Bellocchio se divertir e brincar de fazer cinema. Não é à toa que nos créditos só dá os parentes de todos os graus. Faltou lucidez e criatividade nas situações de relacionamento familiar soltas no roteiro, sem construção adequada dos personagens, com diálogos frouxos e inconsistentes, foram a tona deste equivocado longa que não consegue manter-se num ritmo de emoção harmonizado com os problemas inerentes de uma família. Ficou no meio do caminho entre documentário e drama intimista de nostalgia. O resultado foi nenhuma coisa e nem outra.

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