Uma Questão Pessoal
Veio da Itália direto para a 41ª. Mostra de Cinema de São
Paulo, em coprodução com a França, o
razoável drama de guerra civil no verão de 1943, em Piemonte, no território
italiano, Uma Questão Pessoal, com
uma fotografia simplesmente espetacular de Simone Zampagni. A direção e o roteiro
são dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, em mais um longa-metragem da vasta
filmografia da dupla. Eles deram início em suas carreiras com uma série de documentários
e, entre seus filmes de ficção, os mais famosos são: Pai Patrão (1977) que ganhou a Palma de Ouro no
Festival de Cannes daquele ano; A Noite
de São Lourenzo (1982); Bom Dia,
Babilônia (1987, 11ª Mostra); A Casa
das Cotovias (2007); e César Deve
Morrer (2012), vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim. A 30ª Mostra
exibiu alguns de seus importantes filmes políticos, tais como: O Prado (1979), Os Subversivos (1967) e Sob o
Signo do Escorpião (1969).
O último filme dos realizadores, César Deve Morrer, ambientou a peça teatral Júlio César, de William Shakespeare, que foi levada ao cinema pelos
irmãos octogenários Paolo e Vittorio, à época com 81 e 83 anos respectivamente,
para ser encenada por um grupo de presidiários selecionados pelo teatrólogo
Fábio Cavalli, também responsável pela montagem de A Divina Comédia Humana, de Dante. O local escolhido para o cenário
foi a prisão de segurança máxima Rebibbia, em Roma. Fizeram com muito fôlego um
comovente e maravilhoso registro documental ao ficcionar o enredo trágico numa
adaptação magistral para as telonas escuras, sendo vencedores do Urso de Ouro
no Festival de Berlim de 2012. Cinco anos depois, parece que a fonte da
inspiração secou, a disposição embora esteja vigorosa e repleta de energia
decepciona pela redundância, beirando a tolice novelesca da clássica disputa de
uma linda mulher por dois amigos inseparáveis, como se fossem irmãos. Nada de
novo, tudo velho e já contado inúmeras vezes por diversos diretores. Uns com
mais inteligência e senso criativo, outros caindo na mesmice de sempre e sem
alternativas para inovar, no que se enquadra os Taviani.
Uma Questão Pessoal é
um retrato pouco inspirado e bem convencional de uma guerra civil na Itália, nos
anos de 1940, entre os fascistas (denominados de vermes) contra a resistência
(chamados de partisanos), estes contrários à política de Benito Mussolini, o
líder máximo (O Dulce) durante o
período de 1922 a
1943- quando foi preso por tropas aliadas durante a Segunda Guerra Mundial- foi o
grande criador do movimento fascista, que deu origem ao Partido Nacional
Fascista, no fim da década de 1910, sendo o primeiro ideólogo totalitário a
chegar ao poder máximo de uma nação da Europa Ocidental. A aspiração ao
controle total do Estado na vida dos cidadãos acabou inspirando outros líderes
políticos da época, entre eles Francisco Franco, na Espanha e Adolf Hitler, na
Alemanha. Porém, é bom ressaltar, que esta história também já teve dezenas de
versões cinematográficas e teatrais.
O drama aborda o protagonista Milton (Luca Marinelli) que é
apaixonado pela bela Fulvia (Valentina Bellè), uma moça que brinca com seus
sentimentos num jogo arriscado e perigoso, pois gosta mesmo é de receber as
cartas dele e flerta com pequenas armadilhas sentimentais do coração do sofrido
rapaz com seu intenso amor e sempre com os pensamentos voltados para a musa de
sua razão de viver. O tempo passa e um ano depois, Milton acaba aderindo à
Resistência italiana durante a Segunda Guerra Mundial. Mas durante este período
de imprecisão do romance, a obsessão lhe atormenta pelas dúvidas, logo acaba
por descobrir que a sua amada está perdidamente apaixonada por seu melhor
amigo, Giorgio (Lorenzo Richelmy), que também é membro do mesmo movimento em
que lutam para depor o Dulce. Toma
uma decisão difícil na sua trajetória, resolve ir atrás do grande amigo na bucólica
e esplendorosa região de Langhe. O inesperado se sucede e Giorgio acaba de ser
preso pelos grupos fascistas. O amigo tenta de toda as maneiras realizar uma
troca de presos, mas suas tentativas são infrutíferas, sendo que em uma das
raras chances ocorridas, o preso fascista era um maluco que simulava tocar
bateria, mas sem prestígio para uma negociação, sendo que suas pretensões heroicas
se encaminham para a frustração. E assim a trama se desenvolve com um certo
marasmo rumo ao desfecho de pouca lucidez.
Há uma pífia reflexão sobre os efeitos da guerra civil e a
truculência dos soldados e revolucionários em Uma Questão Pessoal, narrada pelo ponto de vista do protagonista partidário
da missão assumida junto aos partisanos.
Os jovens resistentes, entre os quais o personagem central e o secundário, atuam
com pouca amplitude nas cenas contrastantes do cenário recriado pela elogiável
reconstituição de época do figurino e da bonita trilha sonora, em especial, a encantadora
canção do clássico infantil O Mágico de
Oz (1939), de Victor Fleming e King Vidor, quando brilhou Judy Garland. Um filme
que acompanha os sonhos ludibriados, a decepção, o sofrimento de um e a prisão
de outro. A esperança que se esvai em um contexto de guerra entre compatriotas
nas adversas causas que levaram para o confronto e o desencanto de uma geração que
deu a vida nos campos ensanguentados da guerra sem limites, alimentados pelos
déspotas de plantão, de forma brutal, tudo em nome do poder tirânico daquele
período nebuloso, que é revisto nesta sofrível obra pouco inspirada e fragmentada
pelo tédio da redundância criada sem
grande esmero na temática.
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