El Pampero
Mais um outro argentino na 41ª. Mostra de Cinema de São
Paulo, em coprodução com o Uruguai e a França, El Pampero é um bom thriller
policial com toques de drama familiar intimista, num retrato de uma situação
aparentemente simples do personagem principal sendo colocado em uma conjuntura
ameaçadora, de certa forma misteriosa, em uma fuga do seu destino para uma
missão que se tornará perigosa com requintes que parecerão impossíveis de
escapar das armadilhas que a vida propõe e na ameaça velada. Num cenário
intrincado de dúvida quanto à inocência acaba inconscientemente envolvido na
trama bem arquitetada. A direção é de Matias Lucchesi, que dividiu o roteiro
com Gonzalo Salaya, neste segundo longa-metragem do jovem cineasta
argentino nascido em Córdoba. Deu início em sua carreira com o curta Distâncias (2010), e a estreia nos
longas se deu com Ciências Naturais (2014,
38ª. Mostra), vencedor do Urso de Cristal de Melhor Filme na Seção Generation
Plus do Festival de Berlim.
Um suspense psicológico com um roteiro enxutíssimo, conciso, que vai direto ao ponto, sem grandes elucubrações de retóricas cinematográficas exaustivas com mirabolantes planos e contraplanos. El Pampero aborda com suavidade e, às vezes, levanta o tom para atingir um clímax bem satisfatório. Fernando (Julio Chávez- em desempenho elogiável) é um homem com um diagnóstico médico de uma doença terminal, como se vê no prólogo. O telefone toca enquanto ele arruma suas coisas para afastar-se da realidade e rumar para uma viagem espiritual sem destino. Ouve-se a voz do filho tentando insistentemente falar com o pai, que não atende e mostra-se sombrio com o triste quadro daquela dor pela amargura de seu olhar perdido. Embarca numa jornada em seu barco veleiro em busca de refúgio na aprazível natureza. Mas aparece de supetão uma grande surpresa no interior da embarcação, quando se depara com uma mulher jovial (Pilar Gamboa- impecável em seu papel) dentro do banheiro. Toda ensanguentada, ela foge de um assassinato ocorrido num barco de propriedade de um homem poderoso no Puerto Madero, jura ser inocente e não ter nenhuma participação no crime.
Um suspense psicológico com um roteiro enxutíssimo, conciso, que vai direto ao ponto, sem grandes elucubrações de retóricas cinematográficas exaustivas com mirabolantes planos e contraplanos. El Pampero aborda com suavidade e, às vezes, levanta o tom para atingir um clímax bem satisfatório. Fernando (Julio Chávez- em desempenho elogiável) é um homem com um diagnóstico médico de uma doença terminal, como se vê no prólogo. O telefone toca enquanto ele arruma suas coisas para afastar-se da realidade e rumar para uma viagem espiritual sem destino. Ouve-se a voz do filho tentando insistentemente falar com o pai, que não atende e mostra-se sombrio com o triste quadro daquela dor pela amargura de seu olhar perdido. Embarca numa jornada em seu barco veleiro em busca de refúgio na aprazível natureza. Mas aparece de supetão uma grande surpresa no interior da embarcação, quando se depara com uma mulher jovial (Pilar Gamboa- impecável em seu papel) dentro do banheiro. Toda ensanguentada, ela foge de um assassinato ocorrido num barco de propriedade de um homem poderoso no Puerto Madero, jura ser inocente e não ter nenhuma participação no crime.
O roteiro dá uma
guinada significativa, diante da decisão de Fernando em mudar seus
planos para interromper seu retiro existencial. Ajudá-la seria sua última
chance de sentir-se útil e continuar vivendo não como um parasita ou um
pobrezinho resultado de uma rasteira do destino, mas como qualquer pessoa
normal, sem piedade ou estigmatizado pela vitimização na sociedade. No trajeto de
extradição da mulher, o barco singra as águas do estreito rio mansamente e
repleto de lugares esplendorosos de uma natureza invejável de arbustos e
árvores frondosas. Brilha a fotografia magistral de Guillermo Nieto, com uma invejável
elaboração na qualidade do colorido e as sutilezas captadas pela precisão das suas
lentes. Ela quer retornar para o Uruguai, seu país de origem, mas há um
imprevisível imbróglio com um guarda costeiro (Cesar Troncoso- sempre ótimo em suas atuações) que se diz
amigo do protagonista. Surgem diversos entraves e desejos doentios que
dificultarão a missão da dupla, cada um com seu objetivo traçado.
Com a câmera dinâmica acompanhando os movimentos dos
personagens em suas trajetórias, atua como cúmplice na realidade temporal e pela
invasão da privacidade. A história é contada em doses homeopáticas para ir
desenrolando lentamente o emaranhado dos enigmas que vão se dissipando e que
irão se sobrepondo. Como se estivesse investigando um possível crime, embora
exista uma forte tendência, há dissimulações que causam algumas dúvidas. A possível
culpa escondida e uma tênue vingança se entrelaçam e caminham juntas para um
desenlace de moderada dosagem de suspense que traz uma boa eficácia numa densa narrativa
fiel, seca e de inegável qualidade, embora fosse possível um aprofundamento
maior. O protagonista abatido por uma moléstia fatal e nebulosa mergulha numa
imensa solidão, sendo sugerido pelo realizador uma possível ausência do filho
que possa estar atormentando e corroendo seus pensamentos com um devastador
sentimento de injustiça. A ligação telefônica no epílogo é reveladora e parece
que é um grito para afastar os fantasmas decorrentes de uma situação da qual tenta
se livrar com consequências bem realistas do acaso, como metáfora do vento (que
empresta o nome ao título do longa) soprando para todas as direções do
quadrante.
Importante se ressaltar a trilha sonora sem histeria e perfeita, que
não chega a interferir na narrativa vigorosa e com sustentável fôlego no
transcorrer do enredo. El Pampero
pode não surpreender como uma notável obra, mas tem méritos no conjunto da
produção, tanto pela bela fotografia que explora as belezas naturais, como pelo
homogêneo elenco sem estrelismo, além do roteiro enxuto. Um thriller que apresenta uma razoável construção
psicológica para um contexto de emoção contida e, de certa maneira, acertada,
sem se afastar do ponto de um equilíbrio mesurado para um clímax adequado. Um
filme que segue o caminho da inarredável luta pela liberdade, mas sem perder a
dignidade até a tentativa de deportação, embora haja dissabores num calvário de
tormentos para um retorno inesperado. Uma criação típica do gênero com as
ferramentas organizadas para a direção do isolamento de circunstâncias do
personagem central em um plano que envolve sua solidão pelos fantasmas
misteriosos que assombram um presente de pouca perspectiva. Promete surpresas
para o final, tendo no prólogo a cena do gancho que irá materializar um
desfecho revelador que contextualiza a amargura, o pessimismo e um sopro de
otimismo para os desacreditados.
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