sexta-feira, 12 de junho de 2015

Festival Varilux Cinema Francês (Papa ou Maman)













Papa ou Maman

O Festival Varilux de Cinema Francês deste ano está marcado pela predominância das comédias. Entre elas, a esperada Papa ou Maman, dirigida por Martin Bourboulon, em seu primeiro longa-metragem que alcançou grande sucesso na França, com mais de três milhões de espectadores. O neófito realizador iniciou carreira como assistente de direção de Mathieu Kassovitz, no longa Les Rivières Pourpres (2000); depois com os festejados diretores Jean-Paul Rappeneau e Bertrand Tavernier. Seu primeiro curta-metragem, Sale Hasard, foi selecionado no Festival do Filme Policial de Cognac.

A trama parte do casamento frustrado e em crise existencial, criando-se o estopim que faltava para uma plêiade de acontecimentos caóticos com reflexos nos três filhos adolescentes, que vão minar aos poucos e definitivamente os laços familiares, mas sempre tem um porém e fatos inesperados geram uma história de amor, ou até mesmo duas. Florence e Vincent (Marina Foïs e Laurent Lafitte) formavam um casal invejado pela notoriedade. Ele era um médico obstetra bem-sucedido, logo foi convidado para realizar um trabalho social no Haiti, por um período de sete meses; ela uma engenheira promissora que acaba de receber uma promoção dos sonhos, ou seja: mudar-se para a Dinamarca e dirigir uma filial da empresa.

Bourboulon exagera na dosagem e faz de sua obra uma trapalhada típica das comédias estilo pastelão. Parte da mudança de vida do casal em suas atividades profissionais, associada com a iminente separação que transformará em pesadelo a notícia que terá que ser comunicada aos três filhos. A guerra proporcionada pelos dois irá refletir nas crianças, pois ambos farão de tudo para não ter a guarda dos menores. No início, discutem se será compartilhada, alternada ou exclusiva, sob os olhos atentos da magistrada, mais confusa e alheia que os próprios divorciandos. O fogo inusitado da residência e os desdobramentos futuros irão pontilhar encontros e desencontros de membros de uma família heterogênea pelos traços marcantes de ser sui generis.

A comédia retrata um momento complicado para o casal e os filhos, num clima tenso de ruptura familiar. Há momentos simplórios, como as questões inverossímeis levantadas, como as tentativas de eliminar, machucar ou agredir com contundência odiosa a própria prole, física e moralmente, na busca ingênua de livrar-se dos estorvos juvenis, jogando-os para a guarda definitiva do pai ou da mãe. Tudo pensado e efetivado por uma causa específica arraigada ao futuro de ambos, sem estofo, pouca inspiração e muita gritaria, correria, tapas e beijos, ao melhor estilo dos blockbusters hollywoodianos.

Papa ou Maman é um retrato pouco fiel de um casamento que chega ao fim pelo estremecimento das relações, diante da quebra do vínculo afetivo entre um homem e uma mulher, bem como dos pais com os filhos. Há um marco no filme de definições do casal perturbado pelas frustrações e cinismos enrustidos, causando uma surpresa pouco sutil na busca derradeira de reconciliação alavancada pelos pimpolhos enfurecidos até o fim, embora os animais de estimação hamsters causem o fato mais inusitado, que sequer os filhos chegaram a pensar. É uma bisonha piada de mau gosto, talvez fosse boa na França, aqui não surtiu efeito e causou um frio na gélida sessão frustrada de uma expectativa bem alentadora.

Como o cineasta é estreante, se faz necessário um desconto desta comédia da inexistência de profundas reflexões e de resultados abaixo da média das produções cômicas, onde a fotografia tem um destaque relevante num cenário de razoável inspiração, para um roteiro nada instigante de situações recorrentes e de velhos clichês das cenas com toques recheados de um humor longe do refinado pelas piadas pouco inteligentes. Deixou de lado uma boa abordagem sobre o tema da guarda e do vazio do cotidiano das vidas corrompidas pelo desgaste do tempo e da fadiga dos metais, idiossincrasias, mentiras, traições e revelações de lado a lado, no esboço de um quadro cênico de realismo deturpado por sentimentos perdidos.

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