Papa ou Maman
O Festival Varilux de Cinema Francês deste ano está marcado
pela predominância das comédias. Entre elas, a esperada Papa ou Maman, dirigida por Martin Bourboulon, em seu primeiro
longa-metragem que alcançou grande sucesso na França, com mais de três
milhões de espectadores. O neófito realizador iniciou carreira como assistente
de direção de Mathieu Kassovitz, no longa Les
Rivières Pourpres (2000); depois com os festejados diretores Jean-Paul
Rappeneau e Bertrand Tavernier. Seu primeiro curta-metragem, Sale Hasard, foi selecionado no Festival
do Filme Policial de Cognac.
A trama parte do casamento
frustrado e em crise existencial, criando-se o estopim que faltava para uma
plêiade de acontecimentos caóticos com reflexos nos três filhos adolescentes,
que vão minar aos poucos e definitivamente os laços familiares, mas sempre tem
um porém e fatos inesperados geram uma história de amor, ou até mesmo duas. Florence
e Vincent (Marina Foïs e Laurent Lafitte) formavam um casal invejado pela
notoriedade. Ele era um médico obstetra bem-sucedido, logo foi convidado para
realizar um trabalho social no Haiti, por um período de sete meses; ela uma
engenheira promissora que acaba de receber uma promoção dos sonhos, ou seja:
mudar-se para a Dinamarca e dirigir uma filial da empresa.
Bourboulon exagera na dosagem e faz
de sua obra uma trapalhada típica das comédias estilo pastelão. Parte da
mudança de vida do casal em suas atividades profissionais, associada com a
iminente separação que transformará em pesadelo a notícia que terá que ser
comunicada aos três filhos. A guerra proporcionada pelos dois irá refletir nas
crianças, pois ambos farão de tudo para não ter a guarda dos menores. No
início, discutem se será compartilhada, alternada ou exclusiva, sob os olhos
atentos da magistrada, mais confusa e alheia que os próprios divorciandos. O fogo
inusitado da residência e os desdobramentos futuros irão pontilhar encontros e
desencontros de membros de uma família heterogênea pelos traços marcantes de
ser sui generis.
A comédia retrata um momento complicado para o casal e os
filhos, num clima tenso de ruptura familiar. Há momentos simplórios, como as
questões inverossímeis levantadas, como as tentativas de eliminar, machucar ou
agredir com contundência odiosa a própria prole, física e moralmente, na busca
ingênua de livrar-se dos estorvos juvenis, jogando-os para a guarda definitiva
do pai ou da mãe. Tudo pensado e efetivado por uma causa específica arraigada
ao futuro de ambos, sem estofo, pouca inspiração e muita gritaria, correria,
tapas e beijos, ao melhor estilo dos blockbusters hollywoodianos.
Papa ou Maman é um
retrato pouco fiel de um casamento que chega ao fim pelo estremecimento das
relações, diante da quebra do vínculo afetivo entre um homem e uma mulher, bem
como dos pais com os filhos. Há um marco no filme de definições do casal
perturbado pelas frustrações e cinismos enrustidos, causando uma surpresa pouco
sutil na busca derradeira de reconciliação alavancada pelos pimpolhos
enfurecidos até o fim, embora os animais de estimação hamsters causem o fato
mais inusitado, que sequer os filhos chegaram a pensar. É uma bisonha piada de
mau gosto, talvez fosse boa na França, aqui não surtiu efeito e causou um frio
na gélida sessão frustrada de uma expectativa bem alentadora.
Como o cineasta é estreante, se faz necessário um desconto
desta comédia da inexistência de profundas reflexões e de resultados abaixo da
média das produções cômicas, onde a fotografia tem um destaque relevante num
cenário de razoável inspiração, para um roteiro nada instigante de situações recorrentes
e de velhos clichês das cenas com toques recheados de um humor longe do refinado
pelas piadas pouco inteligentes. Deixou de lado uma boa abordagem sobre o tema
da guarda e do vazio do cotidiano das vidas corrompidas pelo desgaste do tempo
e da fadiga dos metais, idiossincrasias, mentiras, traições e revelações de
lado a lado, no esboço de um quadro cênico de realismo deturpado por
sentimentos perdidos.
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