segunda-feira, 15 de junho de 2015

Festival Varilux Cinema Francês (Diário de Uma Camareira)















Diário de Uma Camareira

Outro aguardado lançamento neste Festival Varilux de Cinema Francês era o drama Diário de Uma Camareira, dirigido por Benoit Jacquot, reconhecido pela crítica internacional por Uma Garota Solitária (1995), depois se solidificou com O Sétimo Céu (1997) e Tosca (2001), mas seu último filme com repercussão foi Adeus, Minha Rainha (2013), com sua nova musa Léa Seydoux, antes dirigira Isabelle Adjani, Isabelle Huppert e Catherine Deneuve. Agora em seu último longa, o filme revisita o universo do romance escrito em 1900, por Octave Mirbeau. A primeira transposição para a tela ocorreu em 1946, por Jean Renoir, sendo batizado no Brasil com o nome de Segredos de Alcova.

Coube, porém, a Luís Buñuel realizar a melhor adaptação, em 1964, fotografada em preto e branco, com o título original Diário de Uma Camareira abordou a forma como a protagonista manipulava os homens que a deseja. Por vezes os provoca e quando estes fazem investidas, os recusa. Assim, esta mulher sádica tem a forma bem buñuelesca, que brinca com o fetiche e satiriza a sociedade francesa e seus delírios. Jeanne Moreau encarna com perfeição a camareira para criticar a burguesia, ao trabalhar para a família Monteil, que tem certas peculiaridades: a patroa é frígida, o marido sempre caçando animais ou mulheres, o pai tem um fetiche por sapatos femininos e há um trabalhador que se sente atraído pela moça, que contorna a situação e faz amizade com um ex-oficial. Quando o pai de Madame Monteil falece, a empregada deixa o emprego, pois pensava em voltar para Paris, mas logo altera seus planos ao saber que uma meiga garotinha da região foi morta e estuprada. Acredita que o criminoso seja o jardineiro, que ironicamente diz que quer se casar com ela, logo vira seu noivo, mas há indícios que o incriminam.

Jacquot não foge muito da temática nesta adaptação que segue uma linha já conhecida pelos cineastas que o antecederam com brilhantismo, em especial Buñuel, um crítico social ácido pela singularidade que criou dentro de um contexto exótico. Há uma sensação do déjà vu desde o início do drama, pelo cenário e a referência ao século XIX. Aborda novamente Célestine (Léa Seydoux- de boa interpretação), uma jovem camareira que é muito desejada pelos homens sedentos de prazer, tendo em vista ter uma radiante beleza, com um glamour de uma parisiense recém-chegada, desperta um clima de moça festeira e avançada para sua época. Há um rebuliço entre o público masculino e com um frisson, contrastando com as dúvidas, apreensão e temor pelas mulheres enciumadas pelas suas fragilidades e falta de encantos. Ou pela repressão familiar, ou por uma maldade oriunda de uma crise latente de autoestima.

O drama avança lentamente, com a câmera acompanhando a chegada da protagonista da Cidade Luz. Vem trabalhar para a família Lanlaire, mas logo sofrerá um assédio do patrão com suas botas imundas, que a faz retirá-las, já insinuando dias de tormento. Ao fugir dos avanços implacáveis do senhor todo poderoso, esbarra na perseguição da mulher dele, a megera Madame Lanlaire (Clotilde Mollet), uma patroa com uma ferrenha personalidade e de difícil relacionamento, beirando um estado emocional doentio, que governa a casa com um rigor excessivo e humilhante. Mas parece que nem tudo está perdido, pois logo faz amizade com Joseph (Vincent Lindon), um misterioso jardineiro que se apaixona por ela, promete casamento, mas tem uma condição, terá que se submeter numa cidade portuária aos prazeres dos famintos marinheiros por sexo. Ou seja, ele propõe uma parceria de prostituição explícita, desde que fujam dali para bem longe.

O veterano diretor francês coloca alguns acontecimentos em meio da trama, como um estupro seguido de morte, um assalto simulado na residência do casal Lanlaire, deixando claro o antissemitismo exacerbado do rude trabalhador e seu plano de fuga bem planejado. Não há um questionamento ou reflexão sobre aversão cultural, étnica e social aos judeus, sequer há uma crítica social pontual ou qualquer sátira à aristocracia francesa, na qual foi exemplarmente registrado pelo mestre espanhol na versão de 1964, que também foi fundo na visão dos empregados e seus problemas particulares. Jacquot ficou bem distante de uma análise mais aprofundada, ao traçar um painel raso, pouco eficiente e inconsistente. A fotografia tem destaque relevante no cenário pouco inspirado, para um roteiro de situações recorrentes de clichês repetitivos. Deixou de lado uma boa abordagem sobre o tema, caso avançasse para uma adaptação mais criativa e crítica.

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