sexta-feira, 28 de maio de 2010
Um Segredo em Família
Amor Proibido
O longa-metragem francês Um Segredo em Família mexe novamente com as feridas ainda não cicatrizadas do Nazismo e a consequente ocupação na França. O diretor Claude Miller conduz com sensibilidade este drama que dilacera uma família quase que por inteira. Com um elenco de primeiríssima qualidade, onde Mathieu Amalric tem um papel secundário como o filho François, de 37 anos, embora sempre eficiente e correto na sua atuação. Baseou-se na autobiografia do psicanista Philippe Grimberg.
O filme tem por cenário ao final da 2ª. Guerra Mundial, onde François (Valentin Vigourt, menino de 07 anos) vive numa família judia aparentemente tranquila e sem maiores problemas, inventa para si um irmão e diante de sua solidão passa a imaginar o passado dos pais. No seu aniversário de 15 anos (agora o ator é Quentin Dubuis), descobre um terrível segredo que irá modificar aquela tranquilidade mentirosa: seus pais eram cunhados. A mãe Tânia (a belíssima Cécile de France) na realidade é casada- após alguns anos de amor proibido- com Maxime (Patrick Buel), viúvo da cunhada Hannah (Ludivine Sagnier). Há sequelas oriundas de uma equivocada ocupação nazista em território francês.
O Nazismo serve de pano de fundo para os confrontos amorosos, os desejos proibidos de Maxime por Tânia, ambos casados com os irmãos judeus que foram deportados e mortos na guerra. Há um jogo de palavras no roteiro bem elaborado, onde as paixões e os amores vão se entrelaçando, soçobrando algumas mentiras e poucas verdades num mundo de perseguições e em constante guerra pelo poder e o domínio, perseguindo os judeus e o brusco domínio territorial do governo de Hitler.
O cenário traz uma recriação de época impecável, embora com um roteiro de alguns deslizes, mas que não chega a comprometer, brecando com sabedoria algumas emoções que pederiam tornar-se piegas. O diretor segue uma linha contrária ao politicamente correto, pois o passado é mostrado em cores, contrastando com presente em preto-e-branco e revisitado em flashbacks, num tom acinzentado, numa bela combinação e coloração de cores.
François vai ao encontro do pai que está sumido, diante da morte súbita de seu cão de estimação, na qual assume a culpa pela perda e por sua contumaz teimosia. Lá no banco da praça, Maxime rememora seu passado, como a perda do filho- esperança de torná-lo atleta e derrotar os competidores de Hitler, numa bela cena de Olimpíada- e da esposa que amou até por aí, ambos enviados para o campo de concentração. Embora sempre achasse que o pai lhe preterisse, pois não era o símbolo do jovem forte, levou muito tempo para descobrir que os conflitos e desavenças familiares se davam mais em função do segredo mantido, pois os pais negavam com veemência a existência do irmão deportado e morto.
Ressalte-se que o mal-estar na França pela ocupação nazista já rendeu vários filmes de magnífica qualidade, tais como A Dor e a Piedade (1970), de Marcel Ophüls, O Último Metrô (1980), de François Truffaut, Lacombe Lucien (1974) e Adeus Meninos (1987), ambos dirigidos por Louis Malle, que de debruçavam sobre o conteúdo político e afastavam-se de romances proibidos, procurando se esmerar mais em desajustes comportamentais. Um dos pecados capitais de Um Segredo em Família é o afastamento da política como ponto principal, deixando se aproximar com maior intensidade o intimismo e a impossibilidade, que depois torna-se possível, de um belo e inusitado romance com lacunas e reflexos no filho François e sua dolorosa trajetória de perseguição nazista aos judeus nesta crônica familiar de perdas e descobertas. Permite ao espectador ir montando o quebra-cabeça, num experimento instigante por vezes; mas de muitos clichês, em outras.
Este longa sem exageros, mas com muitos significados e revelações no seu desenrolar, numa famíllia judia conturbada pelos fantasmas da guerra, embora não chegue a ser perturbador, fica um roteiro até inovador como das cores agindo num cenário onde a barbárie está implícita, mas há uma linearidade de um passado, dando um tom muito romanceado e quebrando a reflexão mais apurada, afastando a película de um resultado melhor, embora no todo seja boa a conclusão, ainda que haja um epílogo sem novidades e até previsível; ou que venha deixar uma perturbação instigante, ainda assim não é filme irregular, nem tampouco empolgante, mas que se somará a tantos outros melhores.
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