quinta-feira, 20 de maio de 2010

Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo



Monotonia na Estrada

Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo é um filme que poderia ser melhor aprofundado. O diretores Marcelo Gomes e Karim Aïnouz seguem uma linha inspirada no que tem de menor em Glauber Rocha, que consolidou seu estilo, pregando: "uma ideia na cabeça e uma câmera na mão", porém sem a competência e o estilo poderoso e crítico do irrequieto e saudoso mestre brasileiro.

O longa tenta mostrar o geólogo José Renato (Irandhir Santos), mas jamais a imagem é perceptível, pois o protagonista nunca é visto, fica apenas sua voz metálica e sonolenta, por 75 minutos, martelando os ouvidos dos espectadores que conseguem permanecer até o final da torturante sessão. Sem diálogos e com uma história pífia de um funcionário estatal que está analisando a estrada e os terrenos com suas dificuldades implícitas decorrentes da natureza, vai colocando seus temores para cumprir o projeto para o qual foi designado. Fala sem parar dos óbices que estão impedindo ou que causam as controversas da realização da pesquisa.

A meta para qual o geólogo foi escalado não é fácil, tendo em vista que chegar a um consenso para atravessar todo o sertão nordestino, visando implantar um represa que alagará toda região não é das mais salutares. Se a missão para avaliar a possibilidade de autorizar o tal canal, mudando o percurso das águas do único rio, causa tamanho transtorno mental e intelectual, com a consequência da saudade da família vem superar seus objetivos, nem por isso deverá infernizar a vida da plateia com suas lorotas e lamúrias inconsequentes e descabidas, oriundas de um roteiro desorganizado e sem inspiração. Seu percurso dia e noite, por uma estrada poeirenta e árida, lamentando a falta da esposa amada, que está na capital cearense, remetendo-o para as imagens do Padre Cícero e as romarias dos fanáticos cristãos, dão a tônica monótona e sonolenta do percurso de seu trabalho excomungado.

Uma constatação é evidente, os diretores do filme se esforçam ao máximo para tentar inebriar os espectadores com uma suposta solidão mesclada com uma dor insuportável de saudade do personagem entediado. Acontece que a viagem ao avançar, o roteiro tenta convergir para uma percepção de relação de coisas em comum com os lugares por onde passa José Renato. Há a sugestão nas entrelinhas de um abandono com a sensação de vazio e isolamento, causando a viagem difícil e impregnada de morbidez, com a perda de referência familiar.

Já se viu filmes brasileiros de estradas bem mais instigantes, tais como Bye Bye Brasil (1979), esplêndido longa dirigido por Cacá Diegues, que artesanalmente captava e mostrava as imagens de um outro Brasil, pelos olhos e ações de seus três artistas mambembes. Outro longa que aborda as transformações de uma geração é Tapete Vermelho (2006), sensível homenagem ao artista Mazzaropi, aproveitando o gancho faz uma reflexão sobre as mudanças dos tempos e a permanência das lendas.

Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo andou ganhando alguns prêmios internacionais importantes, mas nem por isso está imune de críticas. É um longa com um roteiro equivocado e uma técnica de captar imagens com a câmera em movimento com distorções de imagens, como se desta forma tosca e amadora fosse captar elogios para uma possível vanguarda. Ora, isso Glauber fez há décadas. Eram outros tempos e a ditadura militar imperava neste país. Estamos no Século 21 e os tempos mudaram.

Fica a proposta absurda de um filme descartável, por ser desconexo com um cinema voltado para a arte contemporânea. Não se pode confundir evolução com retrocesso técnico e estético, pelo simples fato de uma pseudocriação como desserviço de uma escola cinematográfica que tem muito ainda que crescer no cenário mundial.

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