quinta-feira, 21 de maio de 2009

O Visitante


















Visitantes da Alma

O cineasta americano Tom McCarthy, ao filmar O Visitante, firma-se como um diretor do cotidiano, que visita as almas vazias, entediadas e frustradas, tendo como pano de fundo a paranoia do 11 de setembro.

Acerta a mão no elenco, especialmente no casal principal protagonizado por Richard Jenkins, no papel do professor literário metódico e cansado de sua vida pacata, bem como ao escolher para ser mãe de um jovem sírio preso por ser imigrante ilegal, a bela e notável atriz palestina Hiam Abbass, em mais um desempenho memorável, pois já estrelara de forma magnífica e impecável no excelente filme Lemon Three.

Tanto Richard Jenkins, que concorreu ao Oscar e perdeu a estatueta de ator principal para Sean Penn, pelo seu desempenho em Milk- AVoz da Igualdade, como a charmosa atriz Hiam Abbas, têm desempenhos destacados, com representações convincentes e marcantes por seus recursos técnicos apreciáveis. Jenkins perdeu o Oscar, mas sua atuação ficará como uma da melhores de um veterano ator candidato preterido, porém deixa sua marca registrada. Já Abbas ilumina a tela quando aparece à procura do filho preso e desaparecido. Mesmo sofrendo pela dor angustiante de uma genitora desesperada, não deixa o filme descambar para o a pieguice, segura com todo seu talento.

Cabe ressaltar o comentário feito pelo ator Jenkins sobre a atriz palestina e sua paixão tanto pela mulher como pelo seu trabalho: "Ela é a mulher mais bela e talentosa do mundo", mas fez questão de frisar que está casado há 40 anos e feliz com sua mulher.

O filme aborda o vazio existencial do professor viúvo que vê seu apartamento em Nova York invadido por um casal de imigrantes ilegais; ele sírio e ela senegalesa. Tão logo percebe suas dificuldades nos EUA, estende a mão, mesmo que sua vida vire completamente, logo vê as boas intenções do casal refugiado, aprende a tocar um tambor para afastar seu tédio e sua falta de vocação para aprender a manejar seu piano. Já nas cenas inicias fica evidente sua timidez e seu desconforto com a vida sem objetivo, ao ser ofertado pela professora de piano que pretende adquirir aquilo que mais ele queria: seu instrumento emoldurado por uma paixão reprimida. Ou seja, recebe como uma apunhalada seu sonho secreto de ser artista do teclado.

O Visitante foge da neurose americana de filmes bombásticos e voltados exclusivamente para o 11 de setembro, assim como fizeram vários diretores, entre eles Steven Spielberg, com sua trilogia: O Terminal, Munique e Guera dos Mundos. Seu foco secundário é mostrar a burocracia americana das casas de detenções, o desrespeito com o próprio cidadão americano que questiona o desaparecimento de uma pessoa de origem muçulmana. É uma visão amplamente crítica, sem as desgastadas vitimações.

Porém o tema principal da película, sem deixar de abordar as questões americanas, é o ser humano com nome, estado civil, origem, raça e suas mazelas que abalam vidas que sangram. O encontro de duas almas feridas e frustradas, ambas solitárias pelo destino, fazem do professor Walter ao receber em sua casa por acaso, a mãe de um filho muçulmano tido como imigrante ilegal, numa metáfora notável sofre o vazio existencial de vidas que perambulam pelas ruas, cidades ou países desenvolvidos ou não, mas que priorizam mãe/filho ou professor/piano/literatura nas suas eternas buscas; brindam com extrema doçura, embora amargos, no restaurante através de gestos e palavras bonitas no tilintar de duas taças de vinho tinto.

Ver O Visitante é mais do que assistir a um grande filme, talvez um dos melhores do ano que passou pelas nossas telas. Uma ode à vida, pela simplicidade, luta, e seus caminhos para fugir do vazio e das neuroses urbanas entediadas.

Um comentário:

Belisa Figueiró disse...

Mais um que escorreu pela passagem do tempo curto no circuito paulistano. Eu sabia que perdia um grande filme. Agora tenho certeza.