Mundo sem Esperança
Wes Anderson é um diretor norte-americano de 45 anos, conhecido
pelos excessos radicais e apaixonado por fábulas, adorado por uns e odiado por
uma boa camada de críticos, embora faça significativo sucesso com o público
alvo. Assim foi em Os Excêntricos Tennenbaums
(2001) e Moonrise Kingdom (2012). Venceu
o grande prêmio do júri deste ano em Berlim com O Grande Hotel Budapeste, que
segue a filmografia controversa do cineasta afetado pelo estilo de linguagem
barroca, com personagens estereotipados por uma estética bem peculiar. Admite
ter como referência para o filme o cineasta alemão Ernest Lubitsch, autor dos
clássicos farsescos Ladrão de Alcova
(1932) e Ser ou Não Ser (1937).
O roteiro do longa é inspirado livremente nos livros do
escritor judeu Stefan Zweig, nascido em1881, na Áustria, que se refugiou no
Brasil e se suicidou no Rio de janeiro, em 1992, deixando uma carta-testamento
de despedida e demonstrando desilusão pela amargura da desesperança com o novo mundo,
diante da ascensão do nazismo, a intolerância e a perseguição implacável
ocorrida na Europa. Já nas primeiras cenas do filme, há uma referência ao livro
Coração Impaciente, de Zweig, quando o
escritor (Tom Wilkinson) que narra a trajetória de Gustave H (Ralph Fiennes- de
muito bom desempenho) diz que “a melhor parte de escrever como ofício é que ele
não tem de se preocupar em ir atrás das histórias, pois elas vêm naturalmente
até ele”.
Com um orçamento de US$31 milhões, considerado pequeno para
os padrões de Hollywood, conseguiu reunir um elenco poucas vezes visto num
filme. Além de Fiennes e Wilkinson, temos Jude Law (jovem escritor), Adrien
Brody (o vilão Dmitri), Edward Norton (o militar Henckels), Bill Murray (Ivan,
amigo de Gustave H), Tilda Swinton (a milionária octagenária Madame D), Toni
Revolori (Zero, fiel escudeiro do concierge Gustave H- magnífica atuação),
Saoirse Ronan (Agatha- a bela namorada de Zero), F. Murray Abraham (o
proprietário Zero Mr. Moustafa- fase adulta), ainda integram a constelação
Mathieu Amalric, Léa Seidoux, Harvey Keitel, Willem Dafoe e Owen Wilson. Também
o roteiro é bem orquestrado, com uma bonita fotografia, um figurino de acordo
com a época para caracterizar a Europa no século passado, num cenário bem
planejado como uma antiga loja de departamentos na cidade alemã de Gorlitz, faz
fronteira com a Polônia e a República Tcheca.
O diretor cria com muita inspiração a fictícia República de
Zubrowka, na década de 30, no leste europeu e que abriga um hotel luxuoso no alpes
montanhosos. Neste cenário aprazível é contada uma história quase que
inverossímil pelos grandes acontecimentos no século 20, como a Belle Époque e as grandes transformações
sociais e políticas como o surgimento do fascismo. Entre as duas guerras
mundiais surge o famoso e excêntrico concierge Gustave H de um renomado hotel, que
irá conhecer um jovem empregado de raízes árabes, e os dois se tornam amigos
inseparáveis. O roteiro apresenta várias estripulias da dupla, como o furto de
um raríssimo quadro renascentista, a batalha por uma fortuna de uma família e as
mudanças que atingiriam a velha Europa na metade do século XX.
Embora os filmes de Anderson pareçam ser repetitivos esteticamente,
ao procurar a forma mais adequada para fisgar seus espectadores, às vezes
comete delírios desmedidos, porém com O
Grande Hotel Budapeste atinge um misto de diversão pura da comédia com
pitadas farsescas, cria-se propositalmente a metalinguagem para adicionar um
suspense exagerado e desproporcional à trama com ingredientes de uma aventura
com jogos de ação. O protagonista ama seu emprego e os hóspedes, envolve-se em
tons melodramáticos com idosas milionárias, assim como o escritor que reconta
sua passagem na juventude pelo já decadente hotel e ouve do proprietário um
relato de 1932, quando estava no auge e o envolvimento do concierge com uma
viúva rica e seus herdeiros.
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