quinta-feira, 5 de junho de 2014

La Playa


















Os Irmãos

O cinema da América do Sul cresceu muito nos últimos anos, tendo na Argentina seu polo principal como um dos melhores do mundo. É seguido de perto pelo Brasil, Uruguai, Chile e o Peru pela ordem de importância. Já a Colômbia surge como uma boa alternativa desde Maria Cheia de Graça (2004), de Joshua Marston, depois com o sensível e interessante Crônica do Fim do Mundo (2012), bem dirigido pelo estreante Mauricio Cuervo, e agora está presente novamente com La Playa, num razoável trabalho do estreante cineasta promissor Juan Andrés Arango Garcia, embora com um orçamento baixo, uma câmera na mão e pouco tempo para gravações, como manda o típico cinema independente, demonstra potencial para render melhores obras no futuro.

Também com poucos recursos, mas com resultados bem melhores, Mariana Rondón realizou o longa Pelo Malo (2013), numa abordagem fiel de um ambiente familiar degradado pela falta de opção de trabalho, visto com muita sutileza e reflexão sobre um momento delicado que vive os venezuelanos; assim como no recente e ótimo suspense 7 Caixas (2012), dos estreantes Juan Carlos Maneglia e Tana Schémbori, retrata a pobreza com dignidade, sem proselitismo e nem demagogia barata, colocam o lado humano de uma plêiade de personagens de carne e osso, com suas fraquezas e vicissitudes afloradas num contexto minado pelos tempos, a dupla deixa o Paraguai em evidência, como desbravadores de um mercado apagado e sem qualquer tradição de uma indústria completamente inexplorada, que registra apenas 25 obras produzidas em toda sua história.

Apesar das dificuldades inerentes foi escolhido para representar os colombianos na disputa por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. La Playa tem muita similitude estética com os brasileiros Querô (2007), de Carlos Cortez e com o festejado Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles e Kátia Lund, apesar do roteiro ser menos contundente e com sequências longas, excessos de contraplanos, há uma quebra do ritmo pela trêmula câmera filmando com ângulos sempre de trás, dando menos impacto e descontinuidade de clímax, o que faz tornar-se monótono por várias cenas de perseguição ou busca de um ponto obscuro e desnecessário. Perde-se em muito a sincronia de uma boa história que poderia ser desfiada com uma elaboração mais criativa e menos burocrática. O discurso fica pasteurizado com soluções simplórias e pouca objetivas, deixa de reforçar com vigor os valores da luta pela sobrevivência.

O drama familiar está centrado na figura de Tomás (Luis Carlos Guevara), um jovem afro-colombiano que fugiu de sua aldeia, no litoral do país, acaba perdido na bonita, mas nada acolhedora para ele cidade de Bogotá, diante do conservadorismo da predominante sociedade branca. Sua saga começa com o irmão mais novo Jairo (Andrés Murillo), um viciado que some de casa em busca da liberdade para se drogar. O protagonista pede ajuda ao irmão mais velho Chaco (Jamés Solís) na jornada inglória do reencontro pelas ruas desta metrópole. Mergulha numa luta para abrir seu espaço, por uma aventura traçada para encontrar o caminho de uma perspectiva de vida nesta fria cidade repleta de dúvidas e hostilidades para o futuro dos forasteiros.

Garcia retrata um painel nebuloso para os irmãos e suas contrariedades no seio familiar, em que Tomás rebela-se com a passividade da mãe e abandona a casa, diante da contrariedade do padrasto que não aceita a presença do irmão viciado. Fica ao lado de Jairo, como se tentasse protegê-lo do mundo inóspito que se desenha. O que era para ser uma parceria entre os dois, vira uma ruptura, diante da tendência em não mudar do irmão caçula que desaparece misteriosamente pelo medo dos traficantes, com quem tem uma dívida quase que impagável. Mesmo com o apoio quase que logístico do malandro e egoísta Chaco, dá a impressão que não anda o roteiro e trunca no desenrolar da trama, por falta de uma consistência na elaboração inadequada da trajetória do enredo. Um dos personagens está atolado em dívidas e no vício; o outro quer salvá-lo, mas sem saber o que quer realmente, deixa tudo muito vago num espaço vazio; já o terceiro sonha com o retorno às praias do mar, de onde tiveram que fugir há alguns anos, tendo em vista os conflitos das guerrilhas armadas naquela região.

La Playa é uma boa proposta sobre os combalidos vínculos familiares orquestrada pela figura materna, sem voz ativa e de pouca eficiência no contexto humano naquele cenário de uma cidade violenta. Fica evidente que os irmãos estão tomando cada um suas decisões, equivocadas ou não, o protagonista tem pouco a contribuir com seu comovente esforço. Tem a convicção de querer salvá-los, mas sozinho e sem apoio é mais difícil. Ao tomar um rumo próprio protetivo, verá que está dentro de uma selva de pedra implacável. Porém, não resta outra alternativa, senão ter que trabalhar e opta em ser cabeleireiro. Dedica-se nos estilos práticos dos suburbanos rapazes afrodescendentes, com desenhos imaginativos e diferenciados na arte feita na cabeça e voltada para as conquistas do cotidiano e as aspirações da difícil realidade financeira das classes em geral pelo desemprego. O filme é um retrato sombrio de um país em ebulição, mesmo que não empolgue traz uma contribuição interessante para o cinema latino.

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