Os Irmãos
O cinema da América do Sul cresceu muito nos últimos anos,
tendo na Argentina seu polo principal como um dos melhores do mundo. É seguido
de perto pelo Brasil, Uruguai, Chile e o Peru pela ordem de importância. Já a
Colômbia surge como uma boa alternativa desde Maria Cheia de Graça (2004), de Joshua Marston, depois com o
sensível e interessante Crônica do Fim do
Mundo (2012), bem dirigido pelo
estreante Mauricio Cuervo, e agora está presente novamente com La Playa ,
num razoável trabalho do estreante cineasta promissor Juan Andrés Arango
Garcia, embora com um orçamento baixo, uma câmera na mão e pouco tempo para
gravações, como manda o típico cinema independente, demonstra potencial para
render melhores obras no futuro.
Também com poucos recursos, mas
com resultados bem melhores, Mariana Rondón realizou o longa Pelo Malo (2013), numa abordagem fiel de
um ambiente familiar degradado pela falta de opção de trabalho, visto com muita
sutileza e reflexão sobre um momento delicado que vive os venezuelanos; assim
como no recente e ótimo suspense 7 Caixas
(2012), dos estreantes Juan Carlos Maneglia e Tana Schémbori, retrata a pobreza
com dignidade, sem proselitismo e nem demagogia barata, colocam o lado humano
de uma plêiade de personagens de carne e osso, com suas fraquezas e
vicissitudes afloradas num contexto minado pelos tempos, a dupla deixa o
Paraguai em evidência, como desbravadores de um mercado apagado e sem qualquer
tradição de uma indústria completamente inexplorada, que registra apenas 25
obras produzidas em toda sua história.
Apesar das dificuldades inerentes foi escolhido para
representar os colombianos na disputa por uma indicação ao Oscar de Melhor
Filme Estrangeiro. La Playa tem muita
similitude estética com os brasileiros Querô
(2007), de Carlos Cortez e com o festejado Cidade
de Deus (2002), de Fernando Meirelles e Kátia Lund, apesar do roteiro ser
menos contundente e com sequências longas, excessos de contraplanos, há uma quebra
do ritmo pela trêmula câmera filmando com ângulos sempre de trás, dando menos
impacto e descontinuidade de clímax, o que faz tornar-se monótono por várias
cenas de perseguição ou busca de um ponto obscuro e desnecessário. Perde-se em
muito a sincronia de uma boa história que poderia ser desfiada com uma elaboração
mais criativa e menos burocrática. O discurso fica pasteurizado com soluções
simplórias e pouca objetivas, deixa de reforçar com vigor os valores da luta pela
sobrevivência.
O drama familiar está centrado na figura de Tomás (Luis
Carlos Guevara), um jovem afro-colombiano que fugiu de sua aldeia, no litoral
do país, acaba perdido na bonita, mas nada acolhedora para ele cidade de
Bogotá, diante do conservadorismo da predominante sociedade branca. Sua saga
começa com o irmão mais novo Jairo (Andrés Murillo), um viciado que some de
casa em busca da liberdade para se drogar. O protagonista pede ajuda ao irmão
mais velho Chaco (Jamés Solís) na jornada inglória do reencontro pelas ruas
desta metrópole. Mergulha numa luta para abrir seu espaço, por uma aventura
traçada para encontrar o caminho de uma perspectiva de vida nesta fria cidade
repleta de dúvidas e hostilidades para o futuro dos forasteiros.
Garcia retrata um painel nebuloso para os irmãos e suas
contrariedades no seio familiar, em que Tomás rebela-se com a passividade da mãe e
abandona a casa, diante da contrariedade do padrasto que não aceita a presença
do irmão viciado. Fica ao lado de Jairo, como se tentasse protegê-lo do mundo
inóspito que se desenha. O que era para ser uma parceria entre os dois, vira
uma ruptura, diante da tendência em não mudar do irmão caçula que desaparece
misteriosamente pelo medo dos traficantes, com quem tem uma dívida quase que
impagável. Mesmo com o apoio quase que logístico do malandro e egoísta Chaco, dá
a impressão que não anda o roteiro e trunca no desenrolar da trama, por falta
de uma consistência na elaboração inadequada da trajetória do enredo. Um dos
personagens está atolado em dívidas e no vício; o outro quer salvá-lo, mas sem
saber o que quer realmente, deixa tudo muito vago num espaço vazio; já o
terceiro sonha com o retorno às praias do mar, de onde tiveram que fugir há
alguns anos, tendo em vista os conflitos das guerrilhas armadas naquela região.
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